Num filme de John Carpenter, Cidade dos Malditos (anda a passar pelo Canal Hollywood), uma prole de crianças nasce numa aldeia longínqua. Estas crianças são seres estranhos, porque atuam como uma única entidade. São mesmo uma prole colectivizada. Não são indivíduos separados uns dos outros, são apenas parte de um todo que as controla, manifestações terrenas de um cérebro celestial. Ora, tendo em conta o génio ultravisionário de Carpenter, tenho quase a certeza que Cidade dos Malditos é uma alegoria do mercado de gasolina em Portugal. Eu explico esta minha teoria mui rigorosa e quase científica. Quando um sujeito anda pela A1, repara que o preço da gasolina é sempre igual, seja qual for o posto, seja qual for a marca. Um sujeito olha para os placards dos preços, à espera de uma disparidade humanóide entre entidades diferentes, mas, ora essa, encontra uma uniformidade não-humanóide. Por acção de uma força divina (o cérebro mágico e, quiçá, alienígena de Carpenter), todos os postos de gasolina vendem o produto ao mesmo preço. Vender mais barato do que o vizinho? Não, senhor. Isso seria um comportamento humanóide, e nós estamos, sem dúvida, perante a intervenção de um ser superior. E a Autoridade da Concorrência concorda com esta asserção. Aliás, sempre que vai ao parlamento, a entidade reguladora reafirma a sua condição de crente #1 desta cientologia da gasolina. Perante a força revelada por este culto carpenteriano, estou até desconfiando que sucederão duas coisas no futuro próximo. Em primeiro lugar, os placards com a indicação dos preços desaparecerão, porque são de uma inutilidade olímpica. Depois, julgo que o deus das octanas atacará os hipermercados que estão a desafiar a liturgia. Nestas bombas de marca branca, a gasolina chega a ser 22 cêntimos mais barata. Uma óbvia blasfémia, que está a pedir o fogo divino. E, se não conseguir fechar estas bombas, o deus desta história começará a dizer que, ui, ui, a gasolina de marca branca faz mal ao motor dos carrinhos. Apesar de impiedosos, os deuses de Carpenter são sempre muito cómicos. Henrique Raposo (www.expresso.pt)
Sem comentários:
Enviar um comentário