Domingos Amaral
Parece evidente a todos que a economia portuguesa está melhor em 2013 do que esteve em 2012. O desemprego baixou um pouco, e a recessão não foi tão forte, com dois trimestres seguidos de algum crescimento. O déficit orçamental não baixou muito, mas também não piorou, e as taxas de juro da dívida estão agora abaixo de 6%. Mas, o que é que mudou entre 2012 e 2013? Muita coisa, e convém perceber o quê. 1) Lá fora, mudou o ambiente financeiro. Em 2012, as taxas de juro da dívida portuguesa, e de quase todos os países europeus, foram vítimas de enorme instabilidade, com crescimentos muito acentuados. Porém, a partir de Setembro, quando o BCE anunciou o programa OMT, as coisas desanuviaram, e esse diminuir das tensões prolongou-se por 2013. Tanto o BCE, como sobretudo o FED americano e o Banco do Japão, aplicaram uma política monetária expansiva em 2013, com quedas das taxas de juro ou "quantitative easing". É sobretudo por isso que se verifica uma calmaria nos mercados das dívidas públicas, pois os investidores, "os mercados", têm mais garantias de liquidez e portanto não estão tão desconfiados. E foi sobretudo isso que permitiu à Irlanda voltar "aos mercados", e poderá auxiliar Portugal nesse objectivo em 2014. 2) Lá fora, as bolsas internacionais têm estado a subir. Uma das consequências da política monetária expansiva que tem sido seguida nos EUA, no Japão e um pouco na Europa, foi a subida das bolsas internacionais. Em 2013, as bolsas de Nova Iorque batem recordes, e as europeias e japonesas também têm estado sempre a subir. Além do que isso significa em termos psicológicos, há também um "efeito riqueza" que se vai espalhando à economia. Como as suas carteiras de ações se valorizam, os consumidores podem aproveitar para consumir mais, e as empresas para investir. 3) Lá fora, houve várias economias que melhoraram os seus crescimentos económicos. A América continuou a crescer, o Japão começou a crescer, a na Europa, a Alemanha e o Reino Unido também conseguiram algum crescimento. Até a própria Espanha, tão deprimida em 2012, melhorou a sua situação! Embora a China tenha estado abaixo do esperado, há indicadores que os chineses irão estimular mais o seu mercado interno, e isso já se sentiu um pouco em 2013. Os rebocadores da economia mundial, embora tenham crescido pouco, estão pois em terreno positivo, e isso possibilitou a que os países mais pequenos, como Portugal, tenham conseguido exportar mais em 2013 do que em 2012. 4) Cá dentro, sentiu-se a melhoria do cenário internacional. As exportações portuguesas beneficiaram com os crescimentos de vários países, e bateram vários recordes. Além do mérito nacional, isso só foi possível porque as "economias rebocadoras" aumentaram a procura dos nossos bens. No teatro financeiro, Portugal também beneficiou muito das descidas das taxas de juro da dívida que a actuação dos bancos centrais europeu e americano possibilitaram. Por fim, também a nossa bolsa de Lisboa esteve bem, sobretudo no segundo semestre de 2013, o que valorizou muito as carteiras dos que têm valores mobiliários, e produziu um efeito positivo extra, que pode ter tido algum efeito positivo no consumo. 5) Cá dentro, o turismo português teve um ano excelente. Seja por mérito próprio, seja devido à instabilidade no Norte de África, que desviou para Portugal muitos turistas, a verdade é que o ano foi muito bom, o que permitiu uma entrada de receitas adicional que muito jeito nos deu. Esta crescimento adicional foi importante para compensar os efeitos negativos da recessão interna. Foram os estrangeiros que nos ajudaram, e o mesmo aconteceu à Grécia. 6) A economia portuguesa adaptou-se melhor ao aumento do IRS do que aos cortes na despesa. Em 2012, os cortes nos subsídios de férias e Natal, e os muitos cortes em despesas intermédias do Estado, provocaram uma recessão interna muito cavada. O desemprego disparou, e o PIB caiu muito mais do que se esperava, tendo por isso também diminuído muito as receitas fiscais. A brutal austeridade provocou uma brutal recessão. No entanto, em 2013 a política orçamental mudou. Em vez de cortar à bruta na despesa, o Governo subiu o fortemente IRS. O que se verificou, em 2013, foi que a economia absorveu muito melhor o aumento do IRS, e a recessão foi muito menos forte. Aumentar os impostos provocou menos danos do que cortar na despesa, é essa a lição a retirar. 7) O Tribunal Constitucional deu, mais uma vez, uma boa ajuda à economia. O veto do TC ao corte de um dos subsídios em 2013 ajudou a economia portuguesa. Ao impedir que o Governo aplicasse esse corte, o TC permitiu que esse dinheiro fosse parar ao bolso das pessoas, ajudando a economia pela via do consumo. Em vez de criticar TC, o Governo devia agradecer ao TC por ter ajudado ao crescimento da economia. Embora não exista ainda qualquer "milagre económico", algum do crescimento económico que existiu em 2013 deve-se ao TC e não ao Governo. Em resumo: 2013 foi melhor do que 2012, mas era bom perceber que, se o Governo tivesse feito o que queria, cortar os 2 subsídios a funcionários e pensionistas, provavelmente não estaria agora a festejar o regresso ao crescimento económico, pois a recessão teria sido bem mais forte, como foi em 2012. A estranha conclusão é esta: este Governo beneficiou, não das suas políticas desejadas, mas daquilo que foi obrigado a fazer contrariado. E é pena que ainda não tenha aprendido a lição, e que anuncie para 2014 mais cortes na despesa. Já devia ter percebido que isso é pior para a economia do país, e no limite para o próprio Governo. |
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