quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Estudo liga alta mortalidade em ex-países comunistas a privatizações

Um estudo britânico sugere que o drástico aumento da mortalidade masculina no início dos anos 90 em vários países que pertenciam à antiga União Soviética ou à sua esfera de influência está ligado às reformas e à rápida privatização em massa de empresas estatais que se seguiram ao colapso do comunismo. Os pesquisadores ressaltam que as reformas provocaram um aumento rápido do desemprego e disseram que suas conclusões devem servir como alerta para outras nações que estejam começando a abraçar reformas amplas de mercado.

Foram examinadas as taxas de mortalidade entre homens com idade para trabalhar (15—59 anos) nas nações pós-comunistas do Leste Europeu e da antiga União Soviética, entre 1989 e 2002. Os pesquisadores concluíram que até um milhão destes homens morreram em virtude do choque económico das políticas de privatização em massa. Depois do colapso do velho regime soviético em meados da década de 90, pelo menos 25% das empresas estatais de grande porte foram transferidas para os sector privado em apenas dois anos. O estudou, liderado pelo sociólogo David Stuckler, da Universidade de Oxford, associou o programa de privatizações a um aumento de 12,8% nos óbitos. A análise relaciona este aumento no número de mortes a uma elevação de 56% na taxa de desemprego no mesmo período. Estudos anteriores apontaram causas imediatas do aumento da mortalidade na região, como o alcoolismo e o desemprego. Também foi levantada a questão do impacto das privatizações sobre os sistemas de assistência médica e saúde.

Apoio social

Mas alguns países com uma boa rede de apoio social enfrentaram melhor as transformações bruscas, de acordo com os pesquisadores.

Em lugares onde 45% ou mais da população eram membros de pelo menos uma organização social, como igreja ou sindicato, a privatização em massa não levou a um aumento da mortalidade. Rússia, Cazaquistão, Letónia, Lituânia e Estónia foram as mais afectadas, com uma triplicação do desemprego e um aumento de 42% nas mortes entre a população masculina no período de 1991 a 1994. A população dos países ex-comunistas que adoptaram um ritmo mais lento de mudanças, introduzindo gradativamente as condições de mercado livre e o desenvolvendo instituições apropriadas, se adaptou melhor. Albânia, Croácia, República Checa, Polónia e Eslovénia, que tiveram um aumento de apenas 2% no desemprego, viram a taxa de mortalidade da população masculina diminuir 10%. "Deve ser tomado mais cuidado quando políticas macroeconómicas buscam transformar radicalmente a economia sem considerar o impacto potencial na saúde da população", disse Stuckler. O estudo foi divulgado na revista científica Lancet.

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