Francisco Seixas da Costa
Os comentadores, na sua natural liberdade, podem, e até devem, falar da possibilidade de Portugal, caso venha a constatar-se que não consegue regressar ao mercado financeiro sem garantias externas, poder ter de vir negociar um novo programa de ajuda, no pior cenário em moldes idênticos ao atual, na melhor das hipóteses através de um "programa cautelar", apoiado apenas nas instituições europeias. Aos mesmos comentadores assiste também o direito de refletirem alto sobre se Portugal e os seus credores não deverão, em momento oportuno, encarar a possibilidade de recorrer a uma "reestruturação da dívida", elegante forma de se assumir que parte dela será necessariamente "perdoada" e não paga, atenta a implausibilidade manifesta de o país vir a registar taxas de crescimento capazes de corrigirem os atuais desvios. Os comentadores têm todo o direito de especular sobre isto. Mas os políticos não. Só que, em Portugal, já não se percebe bem onde começam uns e acabam os outros. Numa situação internacional na qual a imagem de Portugal sofre hoje de uma clara fragilidade, em que os detentores - atuais ou potenciais - da nossa dívida olham "à lupa" qualquer dissonância por parte do nossos decisores políticos - também eles, atuais ou potenciais -, o óbvio recomendável seria que todos eles se calassem, sobre os dois temas que acima referi. Mas já se percebeu que isso não é possível e que a politiqueirice os impele a fazerem, de quando em vez, considerações "ligeiras" sobre estas questões, que sendo de uma extrema sensibilidade, nos custam a todos, e todos os dias, imenso dinheiro. Que não são eles que pagam, claro. |
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