Domingos Amaral
O orçamento de 2014 é mais uma prova evidente que Portugal está apanhado na "armadilha da dívida". Tudo o que o Governo fizer para tentar diminuir o déficit, cortando a despesa do Estado, cortando pensões, cortando salários aos funcionários públicos, pode descer o déficit num primeiro momento, mas irá provocar efeitos recessivos fortes. Assim, num segundo momento, como se passou em 2012, vai crescer o desemprego, vai diminuir o crescimento económico interno, e isso vai diminuir de novo as receitas fiscais. Corta-se na despesa, mas a recessão que se provoca tira-nos uma parte do ganho, pois as receitas do Estado caem, e sobem os custos, se houver mais subsídios de desemprego a pagar. A melhoria do déficit não é pois muito grande, como se viu nos últimos anos; e ainda por cima, se o PIB cair, o rácio da dívida pode voltar a crescer. Mas, e esse é um grande sarilho também, tudo o que o Governo fizer para tentar estimular a economia, como por exemplo descer o IRC, vai fazer descer as receitas fiscais, e portanto criar mais déficit. É claro que, num momento posterior, pode ser bom, pois o investimento pode aumentar, mas inicialmente será mau, pois as receitas diminuem. É a "armadilha da dívida" em todo o seu esplendor. Se cortamos na despesa, provocamos recessão; se cortamos os impostos, aumentamos o déficit. Esta é uma situação muito complexa para qualquer país, e nós não somos caso único. Há saída para esta armadilha? Sim, há. Se as exportações crescerem a 20% ao ano, ou se o turismo crescer a 30% ao ano, se calhar saímos da armadilha pelo nosso próprio pé. Mas, com o crescimento que tem existido, bem mais baixo, isso não é possível. Só se consegue sair desta aramdilha com ajuda, seja através da reestruturação da dívida, seja através da mutualização da dívida pela Europa. Só libertando-nos da carga extraordinária de juros que pagamos é que a saída é airosa. Caso contrário, corremos o risco de andar mais de uma década neste sarilho... Tal como Sócrates antes deles, Passos e Portas arriscam-se também a acabar trucidados pela armadilha... |
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