quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Alerta Total

Exército denunciou para Dilma esquema de venda de votos, com título de eleitor duplicado, no RJ

 

 
A grande duvida: Marina tem consistência ou é fruto das incríveis pesquisas?
 
Edição do Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Jorge Serrão - serrao@alertatotal.net

Em várias "comunidades" do Rio de Janeiro, principalmente no Complexo da Maré e na Baixada Fluminense, existem vários cidadãos com dois títulos de eleitores. Eles recebem dinheiro em troca do voto. Este mecanismo eleitoral do crime organizado foi denunciado, oficialmente, pela inteligência do Exército à Presidenta Dilma Rousseff – candidata à reeleição. Generais revoltados com tal escândalo já falam em "risco de ruptura institucional", dependendo do resultado. Eis a verdadeira Zona Eleitoral... Ainda mais quando as pesquisas indicam até uma vitória de Marina Silva sobre Dilma Rousseff, com Aécio Neves ficando de fora.

Até então guardada sigilosamente pelo governo e pelo Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, a informação sobre a vergonhosa manipulação de votos no Rio de Janeiro vazou no final da tarde de ontem. O grupo político de Aécio Neves tomou conhecimento. Espera-se que parta para alguma denúncia mais consistente e formal. Do contrário, ficará o informado pelo não dito. Concretamente, por falta de poder ofensivo, a candidatura do neto de Tancredo Neves corre tanto risco de naufrágio quanto o PTitanic.

Como de hábito no atual desgoverno, se for questionada sobre o explosivo tema, Dilma dirá que é "invenção" e que nada sabia sobre tal denúncia. Independentemente do que for dito, o resultado eleitoral já não merecia muito crédito – por causa da urna eletrônica, da transmissão de dados e do processamento de votos sem chances de auditoria externa. Agora se torna absolutamente inconfiável.

A descoberta concreta de fraude eleitoral, até agora mantida em "sigilo de Estado", ocorreu durante as ocupações militares. Foram encontrados títulos eleitorais duplicados. Este mesmo golpe é aplicado em alguns estados do Nordeste e do Norte. No Maranhão, por cada voto a mais, o eleitor duplicado recebe até R$ 300 reais. O mesmo valor seria negociado nas áreas carentes do Rio de Janeiro – ainda dominadas por milícias urbanas.

Só a identificação biométrica, individualizada, do eleitor, cruzando dados do número do cadastro do eleitor, da carteira de identidade e do CPF, poderia evitar tal duplicidade de títulos ou a chance de alguém votar no lugar de alguém que já morreu – mas continua eleitoralmente ativo. Mas o Tribunal Superior Eleitoral não agiu com a necessária velocidade para fazer o recadastramento geral dos eleitores. Mais grave ainda: a oposição sequer cobrou tal celeridade que deveria ser prioritária e urgente para impedir a fraude eleitoral na hora da votação. A urna só é liberada para o voto se reconhecer as digitais do eleitor.

No Rio de Janeiro, por exemplo, só os 402.146 eleitores de Armação de Buzios e Niterói (universo ínfimo de 3,3% do total) usarão o sistema de identificação biométrica para votar. O eleitorado total fluminense, agora sob suspeita, é de 12.141.145 cidadãos. Quem não se recadastrou até 7 de maio não poderá participar da eleição. Em todo o Brasil, o recadastramento é feito gradualmente, obedecendo à Resolução 23.335 do TSE, atualmente presidido por José Dias Toffoli, ministro do Supremo Tribunal Federal e, em um passado não muito distante, advogado do Partido dos Trabalhadores.

A meta do TSE era contar, neste ano, com 22 milhões de eleitores identificados pela impressão digital. Em julho, chegou a um total de 23.851.673 aptos a votar com biometria. O eleitorado brasileiro total habilitado a votar este ano é de 142.822.046 eleitores – conforme as estatísticas eleitorais de 2014 do TSE.

A equipe treinada da Justiça Eleitoral realiza a coleta das impressões digitais, além de fazer a fotografia dos eleitores de maneira rápida e fácil. Um escâner de altíssima resolução permite uma leitura de qualidade das impressões digitais. Um programa de computador faz o controle de qualidade automaticamente. Na prática, os "fantasmas" devem desaparecer com o recadastramento.

Banqueiragem

Os bancos continuarão obtendo lucros recordes, com juros altos, carga tributária elevada como sempre e custo de vida aumentando ligeiramente. Eis a única previsão concreta para a economia brasileira em 2015, seja quem for eleito para o trono do Palácio do Planalto. Os demais prognósticos são uma grande incógnita. Cartomantes têm mais chances de acerto que os economistas que embarcam na conversinha nada fiada do desgoverno.

Uma pesquisa da Confederação Nacional do Comércio indicou um recorde de brasileiros endividados. Ao mesmo tempo, outro estudo do Banco Central revela que a inadimplência está no menos nível desde 2011. No final das contas, os bancos continuam faturando em cima de quem é forçado ou induzido a pegar dinheiro emprestado. Passam sufoco os encalacrados com juros e taxas dos cartões de crédito e os que incorporam o cheque especial ao cada vez mais apertado orçamento mensal, corroído pela "inflação". No fundo, o brasileiro se vira na economia informal – o que minimiza os efeitos diretos das crises midiaticamente anunciadas.

Quem deve nem sempre teme, No entanto, se aporrinha muito. Bancos, financeiras e escritórios de advocacia contratados para recuperação de dívidas dadas como perdidas promovem um ataque constante, via telefone, SMS e cartas para a residência dos inadimplentes. Não há facilidades nas negociações – a não ser quando o "calote" já é dado como certo e a dívida já foi contabilizada pelo banco como "perda". O termo é um humor econômico de baixo calão, já que as tarifas e os juros embutidos nos empréstimos já renderam muita coisa até se transformar no suposto "prejuízo".

Curiosamente, tal cenário não é devidamente tratado na campanha presidencial. O Brasil desenhado pelos marketeiros não tem gente encalacrada. Além disso, comprometidos com o sistema financeiro, a maioria esmagadora dos candidatos (pelo menos aqueles com alguma chance concreta de vencer a eleição) fogem do polêmico assunto. Na vida real, todos bem de vida, não sabem a pressão psicológica sofrida por quem fica devendo ao banco ou tem o nome "negativado" nos serviços de proteção ao crédito.

As soluções concretas para os problemas do Brasil Capimunista (carestia, cartelização, cartorialismo, corrupção e canalhice) continuam fora da agenda dos candidatos. Por isso, pouco se pode esperar do resultado das urnas, seja ele qual for.  

Ameaçado pela promessa alheia



Soma fatal



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O Alerta Total tem a missão de praticar um Jornalismo Independente, analítico e provocador de novos valores humanos, pela análise política e estratégica, com conhecimento criativo, informação fidedigna e verdade objetiva. Jorge Serrão é Jornalista, Radialista, Publicitário e Professor. Editor-chefe do blog Alerta Total: www.alertatotal.net. Especialista em Política, Economia, Administração Pública e Assuntos Estratégicos.
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© Jorge Serrão. Edição do Blog Alerta Total de 27 de Agosto de 2014.

Pensamentos Inconvenientes

Posted: 27 Aug 2014 03:16 AM PDT


Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Carlos Maurício Mantiqueira
 
Se não fosse pelos óbvios inconvenientes, a melhor forma de um político recriar a sua imagem seria morrer.
 
Os insultos do passado viram rasgados elogios.
 
Os inimigos tornam-se, quase por encanto, seus "irmãos".
 
Os mal feitos são esquecidos assim como as barganhas de cargos e achaques ao erário.
 
A maioria da população, que ainda vive no estado pré-socrático, se impressiona e comove.
 
A dor que oprime a alma não deve perturbar o raciocínio.
 
O homem mais poderoso do mundo perdeu familiares num acidente. Nem por isso foi confortar pessoalmente os parentes em seu país de origem. Sua visita seria usada politicamente por um governo que oprime o povo.
 
Oremos todos pelos mortos e pela pátria.
 
 
Carlos Maurício Mantiqueira é um livre pensador.

Congresso Bolivariano dos Povos

Posted: 27 Aug 2014 03:14 AM PDT


Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Carlos I. S. Azambuja
 
"O Congresso Bolivariano dos Povos (CBP) é um espaço novo que nasce sob o calor das urgências dos povos latino-americanos e caribenhos. O Congresso Bolivariano dos Povos será o lugar onde as forças populares, democráticas e patrióticas de Nossa América poderão discutir e resolver as linhas comuns de ação no caminho da integração e da unidade". (http://www.congresobolivariano.org/modules.php?name=Content&pa=showpage&pid=28)


Integram o CBP
 "todas as organizações populares, democráticas e patrióticas que levantem as bandeiras da unidade latino-americana e caribenha". Do Brasil essas organizações "democráticas e patrióticas", que são:

Federação Única de Petroleiros - CUT,
 
Partido Comunista do Brasil (PCdoB)
Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (CEBRAPAZ), 
Federação das Associações de Favelas do Estado do Rio de Janeiro (FAFERJ)
Círculos Bolivarianos Leonel Brizola 
Federação Democrática Internacional de Mulheres
 

O I Congresso do Congresso Bolivariano dos Povos foi realizado em 15/27 de novembro de 2003, em Caracas, inaugurado por Hugo Chávez. Na Declaração Final desse Congresso são listados, resumidamente, os seguintes objetivos do CBP que, na realidade, constituem o programa de ação do CBP:

- Apoiar as lutas dos povos latino-americanos e caribenhos contra o modelo neoliberal;

- Fomentar a unidade bolivariana em nível regional e continental, desenvolvendo uma formação cidadã que incorpore uma consciência crítica social, uma memória histórica e uma identidade cultural;

- Substituir o modelo de democracia representativa por uma democracia participativa e protagônica que possibilite a participação e intervenção das pessoas, movimentos sociais e forças políticas na tomada de decisões (vide Decreto 8243...);

- Constituir uma alternativa à integração neoliberal, que priorize o livre comércio e os investimentos;

- Buscar uma maior inserção dos movimentos sociais em outros processos de integração que se desenvolvem na região, como o MERCOSUL, Comunidade Andina e outros;

-Priorizar a formulação de políticas públicas, reformas políticas e programas de desenvolvimento das expectativas, direitos e propostas dos amplos setores camponeses, indígenas, mulheres, jovens, afro-descendentes e nativos, que com suas lutas atuais constituem setores sociais e políticos determinantes nas mudanças e transformações sociais;

- Desenvolver um parlamentarismo bolivariano que contribua na construção de uma alternativa bolivariana de integração entre os povos;

- Luta pela desmilitarização, o desmantelamento das bases militares norte-americanas, e pela oposição aos exercícios militares coordenados pelo Comando Sul;

- Desenvolver uma solidariedade efetiva entre os povos de Nossa América, em particular contra o bloqueio a Cuba, contra a agressão militar na Colômbia e as manobras antidemocráticas contra a revolução bolivariana da Venezuela. Exigir a liberdade dos cinco patriotas cubanos prisioneiros nos EUA;

- Saudar as lutas do povo salvadorenho contra o modelo neoliberal, particularmente a solidariedade à Frente Farabundo Martí de Libertação (FMLN) na luta político-social pelas mudança;

- Saudar a mobilização do povo mexicano em defesa da indústria energética ameaçada, pela privatização, de ser entregue ao capital internacional;

- Dar solidariedade ao povo uruguaio e à Frente Ampla por seu triunfo no referendo contra a privatização da empresa petrolífera;

- Combater o colonialismo em todas as suas formas e manifestações; a descolonização de Porto Rico e a soberania argentina sobre as ilhas Malvinas;

- Apoiar a demanda da recuperação de saída ao mar pela Bolívia;

- Saudar o 200º aniversário de independência do Haiti;

- Saudar o aniversário da revolução cubana:
 
Em dezembro de 2004 foi realizado o II Congresso Bolivariano dos Povos, novamente em Caracas. Esse Congresso reafirmou a decisão de lutar unidos pela definitiva independência dos povos latino-americanos e caribenhos, bem como as decisões do I Congresso. Além disso, a Resolução Final decidiu:

- Trabalhar para converter o Congresso Bolivariano dos Povos num movimento internacional que aglutine as forças políticas e sociais da América Latina e Caribe, impulsione sua unidade e articule suas lutas em função da autodeterminação e bem-estar de todos, tendo sempre como referência o pensamento emancipador de Simon Bolívar;
 
- Apoiamos a construção da Comunidade Sul-Americana de Nações;

- Acordamos criar um Secretariado Político permanente, com sede inicial em Caracas, donde estejam representadas, em forma rotativa, as distintas forças políticas e sociais que integram o CBP .

Integram o Congresso Bolivariano dos Povos, organizações políticas e movimentos ditos sociais dos seguintes países: Argentina, Bolívia
 Brasil,Chile, Colômbia, Cuba, Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Porto Rico, Republica Dominicana, Uruguai e Venezuela.

Representantes de organizações políticas, sindicais e movimentos, dito sociais, do Brasil, que participaram do II Congresso Bolivariano dos Povos:

Federação Única de Petroleiros
 - CUT, João Antonio Moraes 
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Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (CEBRAPAZ), José Reinaldo Carvalho 
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Federação das Associações de Favelas do Estado do Rio de Janeiro (FAFERJ) e Círculos Bolivarianos Leonel Brizola, Aurélio Fernandes 
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Federação Democrática Internacional de Mulheres, Marcia Cardoso Campos.
 

Carlos I. S. Azambuja é Historiador.

Glauber Rocha – o Santo Guerreiro

Posted: 27 Aug 2014 03:12 AM PDT

Reveja a antológica "reportagem cinematográfica" de Glauber Rocha: "Maranhão 66 – a Posse do Governador José Sarney". Também antológica captação de som de Eduardo Escorel, em um filme do velho Barretão...
Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Arnaldo Jabor
Glauber Rocha morreu exatamente no dia em que escrevo este artigo: 22 de agosto de 1981. A essa hora eu estava na casa de saúde ali na Rua Bambina com amigos, junto à sua cama, como em volta de um barco que ia partir. Glauber estava intubado, agonizante, de olhos fechados.

De repente, ele se ergueu. Quase sentou, abriu os olhos e olhou em volta. Achamos que era um milagre. Barretão segurou sua mão e falou animado: "Glauber, estamos aqui, pode acordar!". Aí, ele deitou de novo e morreu.

O médico explicou que aquilo era uma espécie de falsa "visita da saúde", uma complicação respiratória que provocava uma súbita aparência de ressurreição. E Glauber partiu assim, como quem toma "um trem em direção às estrelas," como escreveu Artaud num texto genial sobre Van Gogh.

Muita gente fala: "Porra, vocês do Cinema Novo ficam só falando em Glauber, Glauber! Afinal de contas, qual é a importância desse cara? Vocês estão exagerando". Não. A importância de Glauber não foi apenas no cinema, com quatro obras-primas: "Deus e o diabo na terra do sol", "Terra em transe" e o "Dragão da maldade contra o santo guerreiro", além do curta-metragem sobre o enterro de Di Cavalcanti, que ganhou a Palma de Ouro de Cannes.

Parece mentira, mas Buñuel falou para mim, junto de Fritz Lang em Veneza, 1967, quando passou o "Belle de Jour". Estávamos na mesa eu, Glauber e os dois gênios, tomando aquavit, sei lá o quê. Glauber se levantou para pedir uma "birra analcólica", e Buñuel me disse: "'Deus e o diabo' é belo e importante na história do cinema". Fritz Lang concordou.

Aí, ele fez "Terra em transe", e a esquerda odiou. Adiante, eu conto sobre esse filme. Depois, quando fez o "Dragão da maldade," ganhou a Palma de Ouro de melhor direção, e o Visconti deu uma festa para ele em Positano. Glauber estava com tudo em cima e foi convidado para filmar nos EUA, mas inventou um jeito de escrachar os produtores americanos, a quem ele jamais se submeteria.

Voltou para a Europa e fez dois filmes, "Cabeças cortadas" e "O leão de sete cabeças". Aí, a crítica europeia, que o idealizava, caiu de pau em cima dele: "Ahh... o Glauber já era, seus últimos filmes não têm lógica etc...".
Nunca tinha visto Glauber sofrer tanto. Ele engoliu o choro, mas a partir daí foi piorando da cabeça.

Glauber foi perdendo contato com a realidade, ou melhor, intuiu que talvez não houvesse mais lugar para seus sonhos intergaláticos de filmar a verdade do mundo. Seu narcisismo "do bem" não aguentou. Hoje, Glauber estaria louco de vez, loucura que já se manifestava em "A idade da Terra", que é um filme de um homem doente.

Alguns classificam Glauber como um "maluco beleza", dadas as ousadias e contradições que ele assumia em sua arte/vida, que para ele eram a mesma coisa. Eu dei uma entrevista para um documentário que tendia a tratá-lo como um curioso caso de "piração genial", quando ele na realidade estava perdendo a saúde física e mental. Eu falei sobre isso, e o cara do documentário tirou minha fala porque ela atrapalhava o sentido que ele queria dar ao filme: Glauber, maluco beleza. Fiquei puto. Tudo bem. Mas eu falava sobre sua importância para além do cinema.

No filme "Terra em transe", que é uma obra ainda mais esclarecedora para os outros cineastas e para os intelectuais, ele realizou a primeira análise profunda e profética para o pensamento da esquerda oficial. Trata-se da cena em que (para quem viu o filme) uma escolinha de samba dança em volta de um demagogo populista (o genial Modesto de Souza), e o herói revolucionário do filme (Jardel Filho) agarra um sindicalista burro que falava sobre o Brasil, dizendo bobagens, tapa-lhe a boca e olhando para a plateia, diz: "Este é o líder sindical Jerônimo; já imaginaram Jerônimo no poder?". Não deu outra. Estamos vendo o resultado.

Essa mesma cena, para além da crítica aos dogmas da "luta de classes e motores da História", abriu um pensamento que deu no tropicalismo, no teatro de Zé Celso ("Rei da vela" e "Roda viva") e para a obra-prima de Rogerio Sganzerla, "O Bandido da Luz Vermelha", que é uma derivação apocalíptica e "godardiana" de "Terra em transe" e que inaugurou nosso cinema contemporâneo. Glauber e (justiça feita) Paulo Francis em seu artigo célebre "Tempos de Goulart" iniciaram a revisão das certezas da esquerda "soviética" e introduziram a dúvida em nossa reflexão política.

Glauber teorizou "Estética da fome", mas nunca utilizou a miséria como lamentação oportunista. Ele viu a dinâmica do atraso do país, mostrou como a miséria e a loucura andam juntas, mostrou que, apesar da sordidez política, havia e há uma estranha mutação promissora que se tece sozinha por baixo da terra brasileira. Nunca perdeu tempo com filmes que tinham o bem de um lado e o mal do outro, filmes para provar que a justiça é injusta.

Glauber sempre pensou em alternativas para a estupidez tradicional de dividir a vida em burguesia e proletariado. Ele falava num general que considerava "progressista", que era o Euler Bentes Monteiro, e também no Geisel, que falava em "abertura gradual". Ele tinha esperança ingênua de que algum deles pudesse se "conscientizar" e melhorasse o país, porque o beco sem saída da luta armada e da incompetência ideológica não daria em nada.

Aí, sempre nessa esperança, ele elogiou o superministro general Golbery, que era intelectual e "poderia" entendê-lo.

Por causa disso, inclusive para se vingarem de "Terra em transe," ele passou a ser o alvo demonizado pelos imbecis e canalhas que viviam às custas do impossível, que se enobreciam na condição de "vítimas de ditadura", que até hoje é um galardão, um estandarte para vagabundos. Mas isso já passou.

Os mais jovens não lembram nem sabem, mas Glauber foi um dos primeiros nomes de uma nova esquerda no país. Glauber nos ajudou a compor um pensamento moderno. Há uma charada no ar que ele nos deixou.

Arnaldo Jabor é Cineasta e Jornalista.Originalmente publicado em O Globo e no Estadão em 28 de agosto de 2014.

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