Um Campeonato do Mundo de futebol, especialmente se correr tudo bem, é um evento lucrativo para a FIFA e para o comité organizador – o Alemanha 2006 proporcionou um lucro de 155 milhões de euros. Já para o(s) país(es) que recebe(m) o Mundial as contas não são tão simples. A candidatura ibérica prevê custos e receitas de organização idênticos (515 milhões de euros), mas este bolo não inclui os direitos televisivos (que pertencem em exclusivo à FIFA), nem o montante que o organismo que gere o futebol paga ao comité organizador. Pode, por isso, antever-se um Mundial lucrativo caso Portugal e Espanha organizem a competição em 2018. Quanto às receitas ao nível do turismo, emprego e impostos, elas ainda não podem ser feitas, mas o alemão Wolfgang Maennig, um antigo campeão olímpico de remo que é agora professor no Departamento de Economia da Universidade de Hamburgo e se tem dedicado ao estudo dos efeitos económicos de grandes acontecimentos desportivos, avisa que habitualmente são sobrestimadas. Quer isto dizer que organizar um Campeonato do Mundo é mau? “Não”, responde Wolfgang Maennig, em declarações ao PÚBLICO. “Em geral, o que podemos dizer é que a maior parte dos políticos e directores de candidaturas esperam grandes receitas no turismo, emprego e impostos, mas essas expectativas não se concretizam. Os efeitos não são tão significativos como os previstos”, alerta. Maennig defende, por outro lado, que o maior benefício de organizar um grande evento desportivo é aumentar a visibilidade internacional do país. Esta conclusão bate certo, em boa parte, com os dados de um estudo do Instituto Superior de Economia e Gestão. É que esta avaliação do ISEG – feita em Outubro de 2009 – estima benefícios directos e indirectos de 1116 milhões de euros caso Portugal co-organize o Mundial 2018, mas a maior fatia (700 milhões de euros) remete para a valorização da imagem do país – é importante esclarecer que este montante não é uma receita que entra nos cofres do país, mas sim uma estimativa do valor que teria de ser gasto para obter uma promoção similar à obtida com um Mundial. Desses 1,1 mil milhões, o estudo do ISEG aponta para 96,8 milhões de euros em receitas turísticas directas e para 319,7 milhões em benefícios indirectos, estes distribuídos por vários itens, desde o aumento da produção nacional induzido pelas receitas turísticas (172 milhões), aumento das receitas de impostos (3,9 milhões) ou o incremento dos mercados publicitários televisivo (12,5 milhões) e não televisivo (13 milhões). E é deste tipo de previsões que Maennig duvida. “Estimámos o aumento de turistas na África do Sul durante o Mundial 2010, com base nos voos diários e na ocupação dos hotéis. A conclusão foi que a África do Sul teve, no máximo, 110 mil visitantes adicionais durante o Mundial. Eles tinham estimativas a apontar para 500 mil visitantes estrangeiros”, exemplifica o professor alemão, citando também o caso de 2006 na Alemanha, onde o aumento de emprego foi geograficamente localizado e diminuto. Casos que, na opinião de Maennig, comprovam duas ideias-chave: os Mundiais têm efeitos económicos positivos, mas não tão grandes como se pensa; e o efeito mais importante não chega em forma de notas, mas sim de visibilidade internacional
PUBLICO.
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