Um trabalho do jornalista Paulo Pena , da revista Visão, informa-nos de que a Europa gastou um décimo da sua riqueza (da nossa riqueza, contribuintes europeus de vários países) para salvar a banca. Conseguiu-o. À custa de verbas que correspondem a 20 vezes o empréstimo da troika a Portugal, mas conseguiu-o!
Podemos todos regozijar pela salvação da banca europeia, mas há um pequeno grande pormenor que gostaria de sublinhar muitas vezes: a Europa salvou os bancos à custa de inomináveis sacrifícios de povos (muito mais uns do que outros) e, sobretudo, à custa da sua própria saúde como espaço de cooperação e desenvolvimento.
Não esperem que eu reconheça que o esforço que Portugal fez não era necessário. Era e vai continuar a ser, porque as nossas contas, ainda que tenham timidamente melhorado, são negativas e insustentáveis; não esperem que eu afirme que o sistema social europeu não tem graves problemas (já parcialmente resolvidos em países como a Suécia, a Finlândia e a própria Alemanha) ou que negue a necessidade de, em plena globalização e ascensão de vários países que nos habituámos a ver como meros atores secundários, fazermos diversas reformas profundas. O que eu pretendo é precisamente o contrário. Foi por pensarmos que esta crise era apenas mais uma crise que preferimos os bancos às pessoas. Que, no limite (e até o caso de Chipre, quando os depósitos superiores a 100 mil euros foram também afetados), andámos a salvar ricos à custa da classe média e de pobres.
E esta é a situação intolerável. Não se trata de uma conspiração, mas de uma péssima interpretação dos sinais, própria de pessoas que não entendem a História e os seus sinais. Não é, de modo nenhum, o propalado neo-liberalismo (que entretanto se tornou num simples chavão insultuoso). É o estatismo mais escarrapachado: salvar instituições à custa de impostos. Por cá, tivemos o nosso BPN e o que mais se sabe...
Este caminho, além dos sacrifícios impostos, faz com que a extrema-direita lidere sondagens em França, que um palhaço ganhe eleições em Itália, que a extrema-esquerda grega tenha percentagens altíssimas, que uma espécie de fascismo se tenha abatido sobre a Hungria e ameace outros países que foram da órbita soviética.
Salvar a Europa seria mais importante do que salvar bancos. Mas começou-se pelos bancos. Vejamos se ainda se vai a tempo de salvar a Europa.
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