quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

A reforma de Ferro e os empregos de Álvaro, Gaspar e Arnaut

O "Correio da Manhã" noticia com destaque, na primeira e na última página, que Ferro Rodrigues, ex-líder do PS, se vai reformar com 3399 euros. De passagem, no mesmo artigo diz-se que o chefe da Casa Militar do Presidente da República se aposenta com 4550 euros e que há mais 10 reformas acima de 4000 euros.
Nada de mais objetivo. Certamente retirado dessa fonte credível que é o "Diário da República". Só é pena o critério de puxar pela reforma de um político, que foi duas vezes ministro, representante de Portugal na OCDE, professor de economia e, além disso, talvez um das mais insuspeitas figuras da nossa desgraçada elite partidária.
Digo isto porque a reforma de Ferro Rodrigues, tendo em conta o seu currículo (e tendo em conta que são valores antes de impostos e contribuições) é banal. 3400 euros, para alguém da sua qualidade, é uma verba que até pode ser considerada modesta. Mas digo isto, sobretudo, porque a insistência neste tipo de informação conduz aquela perigosa ideia de que são todos iguais. Ferro, Álvaro, Gaspar, Arnaut - vejam como os ex-ministros se safam, diz a vox populi.
Mas Ferro está a receber em função do que descontou ao longo de mais de 30 anos de trabalho, sendo que é hoje um dos vice-presidentes do Parlamento. Álvaro Santos Pereira ganhou um concurso internacional, aberto em vários países, para técnico da OCDE (só se lhe pode dar os parabéns). Gaspar candidatou-se a uma entidade internacional, tendo recebido o apoio de diversos governos (entre os quais o de Portugal e da Alemanha de Merkel). Arnaut, por sua vez, depois de, direta ou indiretamente, estar presente em todos os negócios de privatização que existiram no país (fosse do lado do Governo, fosse do lado do comprador) foi convidado para uma empresa que faz todos os negócios do mundo (incluindo ensinar a Grécia a aldrabar as contas). Empresa que, sob muitos aspetos, é responsabilizada (até com certo exagero) por estar também na origem da crise financeira. 
A nenhum destes nomes falta mérito. Mas o mérito que é reconhecido a cada um tem diferentes origens e matizes. Da seriedade de Ferro e de Álvaro, à esperteza de quem aproveita uma oportunidade política para se juntar à Goldman Sachs vai uma diferença abissal.
É um facto. Não se pode misturar tudo. Eles não são todos iguais, e como dizia Orwell no "Triunfo dos Porcos", há uns muito mais iguais do que outros.


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