quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Eugénio Lisboa


Gostava muito de poder estar presente amanhã, em Lisboa, no Centro Nacional de Cultura (rua António Maria Cardoso, 68), pelas 18.00 horas, no lançamento do primeiro volume das memórias de Eugénio Lisboa, apresentadas por Guilherme de Oliveira Martins.

Na Londres da primeira metade dos anos 90, ao final da tarde, num tempo bem antigo em que ainda havia tempo nas embaixadas para conversas, recordo-me de algumas nos sofás azuis do meu gabinete em Belgrave Square, com o António Almeida Lima, o Jorge Torres Pereira e o Caldeira Guimarães, ouvindo histórias desse velho Moçambique colonial, contadas pelo Eugénio e pelo Rui Knopfli. Era a lembrança das polémicas literárias e da discussão em torno da poesia de Reinaldo Ferreira (filho), do mundo dos jornais locais e do recorte de figuras de jornalistas como o António de Figueiredo (que então vivia também em Londres), era a memória das artes de António Quadros (pintor) e Malangatana, era a política, desde Jorge Jardim às aventuras da oposição à ditadura, neste caso com saliência para Almeida Santos, os "democratas de Moçambique" e a igreja inquieta, bem como os prelúdios visíveis da Frelimo. Julgo que, num outro volume das suas memórias, o Eugénio vai-nos também conduzir por aí, pela certa.

Não faço ideia se o Jorge Torres Pereira, hoje embaixador em Bangkok, brevemente a caminho de Pequim, se recorda de um comentário que um dia fez, e que tenho na memória, depois de uma dessas charlas a duas vozes - distintas, polémicas, às vezes cáusticas e cruéis, mas ambas imensamente cultas e com imensa graça: "Você já reparou no privilégio que temos de poder, um dia, vir a evocar estas conversas com dois intelectuais que viveram experiências como o Lisboa e o Knopfli?".

É verdade. Já não temos o Knopfli conosco, com o seu inseparável cigarro, às vezes com o cão debaixo do braço (até que eu proibi a entrada do bicho no escritório...). Mas o Eugénio Lisboa, a quem daqui envio um forte abraço, continua a dar testemunho da sua imensa e inesgotável vivacidade intelectual.

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