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Posted: 20 Feb 2014 05:49 PM PST Na minha infância, nas estantes da sala, havia um livro com um título que sempre me intrigou: "Aqui havia uma casa". A autora era Ilse Losa. Só anos mais tarde li o livro. Retratava a comoção de uma refugiada que regressa à sua casa de infância, que abandonou por virtude da guerra, e só encontra o espaço vazio no lugar onde nascera. Há dias, lembrei-me deste título. No início da passada semana, numa montra em Londres, vi um sobretudo a um preço convidativo. Era um saldo. Entrei, negociei e comprei. Era necessários uns arranjos. Estaria pronto no dia seguinte. Só pude voltar três dias depois. Entrei na rua e procurei a loja. Não a encontrei. Pensei ter-me enganado mas, por outras referências na área, concluí que estava no lugar certo. Pensei para comigo: "aqui havia uma casa" de roupa! De súbito, notei um espaço vazio, uma loja abandonada. Devia ser ali. Perguntei na vizinhança, mas ninguém se lembrava da loja. Mas que distração minha! Então eu não tinha o talão?! Claro que sim, só que o endereço nele indicado era... fora de Londres. Pelo endereço, cheguei a um telefone. Começou uma longa saga. A certo passo, apareceu na linha alguém que sabia da loja desaparecida. Tinha sido um espaço alugado apenas para a época dos saldos. Fechara na véspera! E o meu sobretudo? Era difícil saber o seu paradeiro. "Talvez daqui a uns dias apareça", disse-me um cavalheiro, que me deixou um número de telemóvel e me pediu uma morada para onde "tentaria que o sobretudo fosse enviado". Tudo muito vago. Eu partia nessa noite para Lisboa; não podia ser ainda nesse dia? "Sorry! No way!" Chegado a Lisboa, bombardeei a empresa com emails. Sem resposta. O meu único interlocutor respondeu, numa chamada telefónica, que... deixara de trabalhar na empresa. Mas que sabia que o assunto estava a ser tratado. Vi o caso mal parado. Sobretudo, vi o sobretudo cada vez mais longínquo. "To make a long story short": o sobretudo (espero que seja o mesmo!) apareceu ontem! Uma semana depois. Um amigo cuidou de o ir buscar. Agora está em Londres, o que não dá jeito nenhum. Se alguém souber de um portador, ficaria agradecido. A sério! |
Posted: 20 Feb 2014 03:55 PM PST É uma sensação curiosa voltar a um local que conhecemos bem, que nos foi íntimo, e olhar em volta, notar as diferenças, as novas caras que agora o ocupam, o novo discurso que as atravessa. Aconteceu-me esta tarde, na mesma sala que a fotografia mostra, sentado àquela mesma mesa. Não estive presente no momento retratado, em fins de abril de 1974, naquela que creio que foi a segunda aparição pública da Junta de Salvação Nacional (havia estado na primeira, na noite de 25 de abril, na RTP). Trata-se da sala de reuniões do palácio da Cova da Moura, que até então fora o Secretariado-Geral da Defesa Nacional e que se tornaria a sede da Junta. Na foto há muitas caras conhecidas, mas noto o meu amigo João Paulo Guerra, então repórter do "Rádio Clube Português". Algumas semanas mais tarde, eu viria a ser chamado a trabalhar com a Junta, como assessor. Nessa qualidade, várias vezes estive naquela sala, na altura sob a alçada do gabinete do general Costa Gomes, que herdou o gabinete de António de Spínola, quando este se mudou para o palácio de Belém, depois de entronizado presidente da República. Cerca de 20 anos depois, e por mais de cinco anos, em funções governativas, tive o gosto de vir ocupar esse mesmo gabinete, com esta mesma sala a servir-me para muitas reuniões, em especial para os encontros semanais da Comissão Interministerial dos Assuntos Comunitários (CIAC) - um exercício de coordenação com representantes de todos os ministérios envolvidos na vida europeia (apenas o Ministério da Defesa não tinha razão para estar regularmente presente). Um dia, Jaime Gama e eu decidimos atribuir àquela sala o nome de Ruy Teixeira Guerra, uma homenagem simples a um grande embaixador, um precursor da política de integração europeia de Portugal. Passaram mais 20 anos. Regressei hoje uma vez mais àquela sala, para um debate, com um convidado estrangeiro, sobre o acordo comercial entre a UE e os EUA. Verifiquei que alguém, entretanto, se lembrou - bela lembrança! - de nela colocar, numa moldura, a fotografia que recorda a célebre reunião da Junta de Salvação Nacional. Sabe sempre bem regressar a um lugar que nos diz muito. |
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