terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Bernard Madoff: Vigarista da Wall Street desfere golpe a favor da justiça social

por James Petras

"Nunca pensámos que ele nos faria uma destas, era um dos nossos", membro do Clube de Campo de Palm Beach.

O corrector de Wall Street, Bernard ('Bernie') Madoff, ex-presidente da NASDAQ, investidor apreciado e respeitado, confessou ter montado a maior burla da história, uma fraude de 50 mil milhões de dólares. Bernie era conhecido pela sua generosa filantropia, em especial para com as causas sionistas, judaicas e israelenses. Em tempos salva-vidas em Long Island, Bernie iniciou a sua carreira financeira nos anos 60, angariando dinheiro junto de colegas, amigos e seus familiares entre os judeus mais abastados dos subúrbios de Long Island, em Palm Beach, na Florida e em Manhattan, prometendo um retorno modesto, regular e garantido de 10 a 12 %, cobrindo quaisquer levantamentos, à moda típica de Ponzi, à custa de fundos de novos investidores que literalmente imploravam a Bernie para os depenar. Madoff administrava pessoalmente pelo menos 17 mil milhões de dólares. Durante quase quarenta anos arranjou uma clientela, que chegou a incluir alguns dos maiores bancos e casas de investimento na Escócia, Inglaterra e França; assim como hedge funds (grandes fundos de investimentos a prazo) nos Estados Unidos. Madoff recolhia quase todos os fundos entre abastados clientes particulares que eram recrutados por corretores que trabalhavam à comissão. Os clientes de Bernie incluíam muitos multi-milionários e bilionários da Suíça. Israel e outros sítios, assim como os maiores hedge funds nos EUA (Divisão RMF do Man Group e Tremont). Muitos dos super-ricos clientes burlados obrigaram Madoff a aceitar o seu dinheiro, e este impunha condições rigorosas aos seus clientes potenciais: Exigia que fossem recomendados por investidores já existentes, que depositassem uma quantia substancial e que garantissem a sua própria solvência. A maioria considerava-se feliz por os seus fundos serem recebidos pelo altamente respeitado… vigarista de Wall Street. A mensagem habitual de Madoff era que os fundos de investimentos estavam fechados… mas como pertenciam ao mesmo mundo (membros de conselhos de instituições de caridade judaicas, organizações de angariação de fundos pró-Israel ou clubes de campo 'seleccionados') ou eram familiares de um amigo, de um colega ou de clientes já existentes, ele receberia esse dinheiro. Madoff instituiu conselhos consultivos com membros ilustres, contribuía fortemente para museus, hospitais e organizações culturais elegantes. Era um membro importante de Clubes de Campo seleccionados em Palm Beach e Long Island. A sua reputação foi reforçada pelo facto recorde de nunca ter havido um ano com prejuízos nos seus fundos de investimento – um ponto importante a favor da venda para atrair investidores milionários. Madoff partilhava com os seus clientes super-ricos (judeus e gentios) um estilo de vida comum à classe alta, e uma mistura de filantropia cultural com especulação financeira moderada. Madoff 'enganava' os seus colegas com uma aparência de 'especialista' de falas mansas, mas de autoridade, coberta por um verniz de colegialidade de classe alta, profunda dedicação ao sionismo e aos amigos de longa data. Os mega-fundos de Bernie exibiam muitos sinais semelhantes aos de recentes escândalos de alto nível: Os altos retornos permanentes, sem igual em todos os outros corretores; a falta de fiscalização por terceiros; uma firma de contabilidade por detrás, incapaz fisicamente de auditar a operação de multi-milhares de milhões de dólares; uma actividade de corretor-intermediário directamente sob o seu controlo e a obscuridade total sobre em que é que estava realmente a investir. A evidente semelhança de sinais com outros burlões era menosprezada pelos ricos e famosos, pelos investidores sofisticados e pelos consultores bem pagos, os MBA's de Harvard e todo o exército de reguladores da Securities Exchange Comission (SEC) visto que estavam todos totalmente imbuídos na cultura corrupta de 'agarrar no dinheiro e pôr-se em fuga' e de 'se estás a ganhá-lo, não faças perguntas'. A reputação da superior sabedoria de um judeu de Wall Street aparentemente bem sucedido alimentou a auto-ilusão dos ricos e dos estereótipos dos gentios milionários.
A GRANDE FRAUDE O fundo de investimentos de Madoff só lidava com uma clientela limitada de multi-milionários e bilionários que mantinham os seus fundos durante um longo período de tempo; os levantamentos ocasionais eram limitados em valor e eram facilmente cobertos pela entrada de novos fundos de novos investidores que se esforçavam por ter acesso à gestão de dinheiro de Madoff. Os grandes investidores a longo prazo tinham a intenção de passar os seus investimentos aos familiares ou destinavam-nos a possíveis reformas. Os ricos advogados, dentistas, cirurgiões, distintos professores da Ivy League [1] e outras pessoas que podiam vir a precisar de fazer algum levantamento para um casamento elegante ocasional ou um barmitzvah recheado de celebridades, podiam fazer levantamentos de fundos porque Madoff não tinha problemas em cobrir esses levantamentos atraindo novos fundos provenientes de ricos proprietários de fábricas de vestuário altamente exploradoras, de instalações de perigosos empacotamentos de carnes e de proprietários de bairros de lata. Madoff não era nenhum Robin dos Bosques, as suas contribuições filantrópicas e caritativas facilitavam-lhe o acesso aos ricos e abastados que tinham assento nos conselhos das instituições beneficiadas e provavam-lhes que era 'um deles', uma espécie de 'íntimo' super-rico da mesma classe de elite. O choque, o pavor e os ataques cardíacos que se seguiram após Madoff confessar que estava a 'gerir um esquema Ponzi' gerou tanta fúria pelo dinheiro perdido e pela queda da classe endinheirada quanto a vergonha de saber que os maiores exploradores do mundo e os vigaristas mais espertos de Wall Street tinham sido totalmente 'apanhados' por um do seu próprio meio. Não só sofreram grandes perdas como a sua própria imagem de ricos, por serem tão espertos e de 'condição superior', ficou totalmente estilhaçada: Viram-se a si mesmos a sofrer a mesma sorte de todos os otários a quem tinham anteriormente vigarizado, explorado e expropriado na sua subida até ao topo. Não há nada pior para o ego de um respeitável vigarista do que ser ultrapassado por outro vigarista maior. Por causa disso, uma série dos que mais perderam tem-se recusado até agora a revelar os seus nomes ou a quantia que perderam, preferindo agir através de advogados, lutando contra outros perdedores.
O LADO POSITIVO DA MEGA-FRAUDE DE MADOFF (A INVOLUNTÁRIA MÃO DA JUSTIÇA) Embora seja compreensível que os super-ricos e os abastados, que perderam uma grande parte dos seus fundos de reforma e de investimento, sejam unânimes na sua condenação e protestos pela traição de confiança, e os editoriais de todos os prestigiados jornais e semanários se juntem ao coro da crítica moral, há que elogiar os feitos de Madoff, mesmo que tal elogio não tenha estado no coração da sua actividade fraudulenta. Vale a pena fazer a lista dos involuntários resultados positivos da mega-fraude de Madoff. Primeiro que tudo, a fraude de mais de 50 mil milhões de dólares pode significar uma grande dentada no financiamento sionista americano de ilegais povoamentos coloniais israelenses nos Territórios Ocupados, uma quebra nos fundos com que a AIPAC compra influências no Congresso e no financiamento de campanhas de propaganda a favor de um ataque militar americano preventivo contra o Irão. A maior parte dos investidores vai ter que reduzir ou eliminar a sua compra de títulos de Israel, que subsidiam o orçamento militar do estado judaico. Em segundo lugar, a burla ainda desacreditou mais os hedge funds altamente especulativos que já se encontram vacilantes por causa de levantamentos maciços devidos a profundos prejuízos. Os fundos de investimento de Madoff eram uma das últimas actividades 'respeitadas' que ainda atraíam novos investidores, mas cuja morte, depois das últimas revelações, pode ter sido acelerada. Os promotores despedidos podem finalmente ter que realizar um trabalho honesto e produtivo. Em terceiro lugar, a fraude de grande escala e de longa duração de Madoff não foi detectada pela Comissão de Títulos e Câmbios (SEC), apesar de esta declarar pelo menos duas investigações. Em consequência, há uma total perda de credibilidade. De forma mais genérica, o fracasso da SEC demonstra a incapacidade dos organismos reguladores do governo capitalista em detectar mega-fraudes. Este fracasso levanta a questão de saber quais as alternativas aos investimentos em Wall Street são as mais adequadas para proteger poupanças e fundos de pensões. Em quarto lugar, a associação de longa data de Madoff com a NASDAQ, incluindo a sua posição de presidente, enquanto ia defraudando os seus clientes em milhares de milhões, indica fortemente que os membros e os dirigentes desta bolsa de valores são incapazes de reconhecer um escroque, e tendem a fazer vista grossa a 'um dentre eles'. Por outras palavras, o público investidor deixa de poder olhar para os detentores dos altos cargos na NASDAQ como um sinal de honestidade. Após Madoff, é talvez altura de procurar um colchão tamanho grande para guardar em segurança o que resta da riqueza familiar. O quinto ponto é que os conselheiros de investimento dos bancos de topo na Europa, na Ásia e nos EUA, que gerem milhares de milhões de fundos, não dedicaram a mais elementar atenção à actividade de Madoff. Para além de pesadas perdas bancárias, dezenas de milhares de super-ricos influentes e tributários perderam toda a sua riqueza acumulada. O resultado é a total perda de confiança nos principais bancos e instrumentos financeiros assim como o descrédito geral do 'saber dos especialistas'. O resultado é o enfraquecimento do golpe de gravata sobre a actividade do investidor e o fim de um importante sector da classe parasitária de 'senhorios' que ganha sem produzir nenhum bem útil nem prestar quaisquer serviços necessários. O sexto ponto é que, como a maior parte do dinheiro roubado por Madoff era proveniente das classes superiores em todo o mundo, a sua acção reduziu as desigualdades – ele é o 'maior nivelador' desde a introdução do imposto progressivo sobre rendimentos. Ao arruinar bilionários e ao levar milionários à falência, Madoff reduziu a capacidade deles para usar a sua riqueza a fim de influenciar os políticos a seu favor – aumentando assim a possível influência política dos sectores menos abastados da sociedade de classes… e reforçando involuntariamente a democracia contra os oligarcas financeiros. Pode encontrar-se um sétimo ponto no facto de que, ao defraudar amigos de longa data, investidores igualmente etno-religiosos, membros de clubes selectos definidos etnicamente com vistas estreitas e membros chegados da família, Madoff demonstra que o capital financeiro não respeita nenhuma das crenças da vida quotidiana: Grandes e pequenos, sagrado e profano, tudo está subordinado à regra do capital. Em oitavo, entre os muitos investidores arruinados de Nova Iorque e Nova Inglaterra, há uma série de mega-proprietários de bairros de lata (barões imobiliários), donos de fábricas exploradoras (fabricantes de elegante vestuário de marca e de brinquedos) e outros que quase não pagavam o salário mínimo aos seus trabalhadores, mulheres e imigrantes, expulsavam inquilinos pobres e espoliavam de reformas os seus empregados antes de transferirem a sua actividade para a China. Por outras palavras, a fraude de Madoff foi uma espécie de retribuição 'divina' secular por crimes passados e presentes contra os trabalhadores e os pobres. Não é preciso dizer, este 'Robin dos Bosques inconsciente' não redistribuía aos trabalhadores o dinheiro depenado aos seus empregadores, mas reinvestia uma parte dele em obras de caridade que reforçavam a sua imagem filantrópica e dedicava uma parte a pagar aos seus investidores iniciais para manter toda a burla Ponzi. O ponto número nove é que Madoff desferiu um sério golpe contra os anti-semitas que afirmam que há uma 'conspiração judaica de trama cerrada para vigarizar os gentios', fazendo com que esta ficção jaza em paz duma vez por todas. Entre as principais vítimas de Bernard Madoff estavam os seus amigos e colegas judeus mais íntimos, pessoas que partilhavam as refeições Seder da Páscoa e frequentavam os mesmos templos elegantes de Long Island e de Palm Beach. Bernie era discriminativo na aceitação de clientes, mas fazia-o com base na sua riqueza e não na sua origem nacional, raça, religião ou preferência sexual. Era muito ecuménico e um forte defensor da globalização. Magdoff não tinha nada de etnocêntrico: Defraudou o banco anglo-chinês HSBC em mil milhões de dólares e o ramo holandês do banco belga Fortes em vários milhares de milhões. O Royal Bank da Escócia, o banco francês BNP Paribas, o banco espanhol, Banco Santander, o japonês Nomura, em 1,4 mil milhões de dólares; para não falar dos hedge funds em Londres e nos EUA, que reconheceram ter acções no Bernard Madoff Investment Securities. Na verdade, Bernie era emblemático do moderno, politicamente correcto, multicultural, internacional… vigarista. A facilidade com que os super ricos da Europa lhe entregaram as suas fortunas levou a que um consultor de negócios de Madrid observasse que "roubar os mais ricos de Espanha foi como abater focas à paulada…" ( Financial Times, 18 de Dezembro de 2008, p. 16). O décimo ponto é que a burla de Madoff provavelmente vai provocar uma maior auto-crítica e uma atitude mais desconfiada para com outras pessoas possivelmente de confiança que se apresentam como fiáveis sabidolas financeiros. Quanto aos judeus auto-críticos, estão menos dispostos a confiar em corretores só porque eles são zelosos apoiantes de Israel e generosos contribuintes para o financiamento de sionistas. Isso deixou de ser uma garantia apropriada de comportamento ético e um certificado de boa conduta. Na verdade até pode levantar suspeitas quanto a corretores que sejam apoiantes excessivamente ardentes de Israel e prometam consistentes retornos altos às filiais sionistas locais – perguntando a si próprios se este negócio que 'o que é bom para a…' será na verdade uma capa para outra burla. O 11º e último ponto é que o fim da iniciativa de Madoff e das suas abastadas vítimas judias liberais afectarão desfavoravelmente as contribuições para as 52 principais organizações americanas judaicas, as numerosas fundações em Boston, Los Angeles, Nova Iorque e outros locais, assim como a ala militarista Clinton/Schumer do Partido Democrata (Madoff financiou-os a ambos assim como a outros apoiantes incondicionais de Israel no Congresso). Isto pode fazer com que o Congresso abra um grande debate sobre a política do Médio Oriente sem os habituais ataques de alto gabarito.
CONCLUSÃO A burla de Madoff e a sua actividade fraudulenta não são consequência de um fracasso moral pessoal. São produto de um imperativo sistémico e da cultura económica, que enforma os círculos mais altos da nossa estrutura de classes. A economia do papel, os hedge funds e os 'sofisticados instrumentos financeiros' são todos eles 'esquemas Ponzi' – não estão baseados na produção e venda de bens e serviços. São apostas financeiras no crescimento futuro do papel financeiro, baseadas em garantir futuros compradores para satisfazer compromissos contraídos. O 'fracasso' da SEC é totalmente previsível e sistémico: Os reguladores são escolhidos entre os regulamentados, estão comprometidos com eles e adiam os seus julgamentos, exigências e auditorias. Estão estruturados para 'não ver os sinais' e para evitar 'regulamentar em demasia' os seus superiores financeiros. Madoff actuava num milieu de uma Wall Street em que tudo passa, em que a norma é a impunidade para as megas-operações de salvamento dos mega-vigaristas. Enquanto vigarista individual, vigarizou alguns dos seus maiores concorrentes institucionais na Street. Todo o sistema de recompensas e prestígio vai para os mais aptos a falsificar os livros, a tapar os rastos no papel e para quem tem vítimas ansiosas a implorar para serem depenadas. Que bom tipo, este Madoff! Em poucos dias, um só indivíduo, Bernard Madoff, desferiu contra o capital financeiro global, a Wall Street e a agenda prioritária do lobby sionista americano/Israel, um golpe maior do que toda a esquerda americana e europeia em conjunto durante os últimos cinquenta anos! Foi mais bem sucedido em reduzir as grandes disparidades de riqueza em Nova Iorque do que todos governadores e mayors democratas e republicanos, conservadores e reformistas, cristãos e judeus, brancos e pretos, conseguiram nos dois séculos passados. Alguns teóricos da conspiração da direita andam a afirmar que Bernie é um agente secreto islâmico-palestiniano (do Hamas) que se dedicou a sabotar deliberadamente a base financeira do estado judaico de Israel e dos seus apoiantes e financiadores americanos mais poderosos, tributários e generosos. Outros afirmam que ele é um marxista secreto cujas burlas foram concebidas cuidadosamente para desacreditar Wall Street e para canalizar milhares de milhões para organizações radicais clandestinas – afinal de contas… alguém sabe onde foram parar os milhares de milhões desaparecidos? Mas contrariamente aos entendidos, bloggers e manifestantes de esquerda, cujas actividades ardentes e públicas não tiveram qualquer efeito sobre os ricos e poderosos, Madoff apontou os seus golpes para onde era mais doloroso: As suas mega-contas bancárias, a sua confiança no sistema capitalista, a sua auto-estima e até mesmo o seu bom estado cardíaco. Será que isto significa que nós, os da esquerda, devíamos formar uma Comissão de Defesa de Bernie Madoff e pedir uma operação de salvamento equiparada à operação de salvamento de Paulson para os seus amigalhaços do Citibank? Deveríamos gritar "Operações de salvamento iguais para vigaristas iguais!"? Deveríamos defender a sua fuga (ou o direito a regressar) para Israel para fugir ao julgamento? Não seria possível fugir com as suas muitas vítimas judaicas para fazer um processo para uma reforma israelense para Bernie. Não há razão para levantar barricadas em prol de Bernard Madoff. Basta reconhecer que ele prestou involuntariamente um serviço histórico à justiça popular minando algumas das escoras financeiras de um sistema de injustiça dominado por uma classe.
POSTSCRIPTUM Foi em consequência da total admiração ou por causa de quaisquer ligações encobertas com Madoff que o nosso actual promotor geral, Michael Mukasey, se afastou da investigação? Há certamente outras pessoas de igual importância e influência que estão ligadas à Questão Madoff, sem serem apenas as suas 'vítimas'. Estamos perante um caso grave de assuntos de Estado… Ninguém acredita que uma única pessoa tenha podido montar sozinha uma fraude desta dimensão e duração. Nem nenhum investigador sério pode acreditar que 50 mil milhões de dólares tenham pura e simplesmente 'desaparecido' ou tenham ido parar a contas pessoais.
19/Dezembro/2008

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