Posted: 19 Jun 2014 04:36 PM PDT Vi há dias uma fotografia do dr. Fernando Nogueira, presidente da fundação BCP. E recordei alguém que, depois de saído da liderança do PSD, vai para vinte anos, se remeteu a uma discreta vida profissional, abandonando por completo a vida política. Conheci-o pessoalmente em Londres, no início dos anos 90, ao tempo em que desempenhava as funções de ministro da Defesa e era uma das figuras mais marcantes do universo social-democrata. Numa das suas passagens pela capital britânica, coube-me aconpanhá-lo ao aeroporto, onde havíamos reservado, como era da praxe, uma sala na respetiva área VIP, destinada a passageiros ilustres. Lá chegados, e após termos ultrapassado as barreiras de segurança, sempre invocando o nome da embaixada, dirigimo-nos ao balcão de atendimento. Com o ministro ao meu lado, informei quem eu era, indicando que estava a acompanhar o ministro português da Defesa. A funcionária inquiriu qual era o nome do ministro. Foi nesse instante que tive una "branca" e o nome de Fernando Nogueira se me varreu por completo da memória. Fosse o cansaço ou a noite mal dormida, a verdade é que o nome não me ocorria. O meu embaraço era total. O ministro já olhava para mim, intrigado, e a funcionária aguardava a minha resposta. - Desculpe! A reserva da assistência foi feita pela embaixada de Portugal, já lhe disse que se trata do ministro da Defesa, por que diabo precisa também do nome? A senhora mirava-me, surpreendida com a duvidosa racionalidade da minha reação. E o ministro também: - Porque lhe não diz o meu nome? Tentando ganhar tempo, avancei então com uma "criativa" justificação, completamente tonta e até pesporrente: - Senhor ministro: esta gente tem de perceber que deve funcionar com base na informação que é essencial. Imagine que era um nome chinês! Que interesse é que ela tinha em ouvir uns sons estranhos numa língua ainda mais estranha? Basta-lhes a embaixada e o título da pessoa! O peso deste meu imaginativo argumentário de ocasião estava a começar a esgotar-se. E, na crescente atrapalhação, fui-me inclinando sobre o balcão, tentando ler, ao contrário, a folha que a funcionária tinha diante de si, com todas as reservas dos compartimentos da zona VIP. Por sorte, consegui descortinar a palavra "Portugal" numa das linhas. Então, com grande "autoridade", estendi o indicador e apontei-lhe a linha: - Look! It's there! - Mr. "Nóguêra"? - That's right! Ao meu lado, o ministro Fernando Nogueira, um homem cordialíssimo e de sereno sorriso, devia estar intimamente a pensar como é bizarra essa espécie profissional que são os diplomatas. Nunca tive oportunidade de lhe revelar este episódio. Quando isso acontecer, acho que vai achar graça. |
sexta-feira, 20 de junho de 2014
duas ou três coisas
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