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domingo, 30 de agosto de 2009

659 !


As editoras francesas anunciam, para a "rentrée" deste Outono, a publicação de 659 romances.

Uau!

Guia de Portugal


Chamaram a minha atenção para a comparação que o "Diário de Notícias" faz, na sua edição de hoje, entre o novo guia do "American Express", sobre Portugal, e o vetusto "Guia de Portugal", uma edição que se iniciou em 1924, sob a tutela da Biblioteca Nacional de Lisboa, e que foi concluída, já nos anos 70 do século passado, pela Fundação Calouste Gulbenkian.

Devo, desde já, advertir o leitor que sou um coleccionador obsessivo de guias sobre o nosso país, portugueses ou estrangeiros, para cujas editoras escrevo, quando as informação (em especial em matéria histórica, cultural e de costumes) considero erradas ou como inaceitáveis distorções. Acho mesmo que a importância deste tipo de publicações na criação de uma ideia de um país no imaginário dos leitores é fortíssima - e digo isto pelo modo como eu próprio reajo ao ler guias sobre outros países. Por essa razão, entendo que a "diplomacia pública" de Portugal passa também pelo modo como soubermos influenciar o que , sobre nós, é dito nesses guias.

Mas é a propósito do velho "Guia de Portugal" - sou um feliz proprietário das 1ªs edições de todos os seus volumes - que gostaria de deixar umas breves notas.

O primeiro volume do "Guia de Portugal" foi lançado em 1924 e dedicou-se ao tema "Generalidades - Lisboa e Arredores". Foi seu organizador e principal autor Raul Proença e conta com preciosos textos de grandes figuras da cultura portuguesa como Aquilino Ribeiro (Etnografia), António Sérgio (História), Reinaldo dos Santos (Arte), para além imensos textos do próprio Raul Brandão e colaboração vária de Matos Sequeira, Afonso Lopes Vieira, Jaime Cortesão, José de Figueiredo, Teixeira de Pascoaes, Júlio Dantas, Pina de Morais, Orlando Ribeiro, Raul Lino, etc. É um volume riquíssimo, praticamente sem par. As descrições de Lisboa e percursos nos arredores, de uma região onde hoje sobram apenas os monumentos e escassos excertos de paisagens, são um imenso prazer de leitura. A capa de Raul Lino é, em si mesma, de uma bela simplicidade.

O 2º volume publicado, ainda pela Biblioteca Nacional, sobre "Estremadura, Alentejo, Algarve", foi impresso no final de 1927 - isto é, já sob ditadura militar. Nele estão alguns dos nomes do volume anterior e, também, outras figuras como Brito Camacho, Carlos Selvagem, Hernâni Cidade, Rodrigues Miguéis, Sarmento de Beires, Teixeira de Sampaio, etc. O prefácio é assinado por Raul Proença, agora já na qualidade de "ex-chefe dos serviços técnicos da Biblioteca Nacional". O regime tinha-o, entretanto, demitido das funções que ocupava desde 1911...

O prefácio que Proença escreve para este 2º volume revela que o Guia não quer ser um "bonzo doméstico", para o "fútil destino de ornamentar as estantes e os móveis das saletas". Quere-o "um companheiro de viagem (...), pronto a ser consultado a cada momento", pelo que necessita de ser "um livro portátil, que se pudesse folhear a todo o momento". Do texto transparece já, todavia, uma amargura profunda em Proença, sintoma do seu destino político e pessoal trágico, depois de ter combatido com armas o novo regime, que o levaria ao exílio, aqui em Paris, onde viveu alguns anos em condições de enorme dificuldade, em St. Germain-en-Auxerrois.

Só em 1944 é que sai o 3º volume, sobre "Beira Litoral, Beira Baixa e Beira Alta", ainda sob a chancela da Biblioteca Nacional, assinalando-se, no prefácio, que a responsabilidade da edição recai agora sobre um "núcleo de amigos" de Raul Proença, depois da morte deste, em 1941. O nome de Sant'anna Dionísio aparece agora como o novo coordenador do projecto e seu principal impulsionador, e assim será até ao final da edição completa, nos anos 70. Note-se que, neste volume, vão aparecer ainda textos de Alberto de Oliveira, Egas Moniz, Eugénio de Castro, Ferreira de Castro, João de Barros, Raúl Brandão, Rodrigues Lapa, Tomaz da Fonseca ou Vitorino Nemésio.

Uma nova interrupção faz com que, só em 1964 e 1965, saiam os dois volumes relativos a "Entre Douro e Minho", o 1º sobre o Douro Litoral e o 2º sobre o Minho, com Sant'anna Dionísio como impulsionador, mas agora sob a responsabilidade editorial da Fundação Calouste Gulbenkian. A qualidade dos colaboradores, há que dizê-lo, baixa drasticamente nestes volumes. Finalmente, em 1969 e 1970, são editados os últimos volumes, sobre "Trás-os-Montes e Alto Douro", um sobre "Vila Real, Chaves e Barroso" e outro sobre "Lamego, Bragança e Miranda". Neste caso, há novos colaboradores conhecidos: João Sarmento Pimentel, Jorge Dias, Miguel Torga, Ribeiro de Carvalho, etc.

A Fundação Gulbenkian reeditou, desde então, todos os volumes do "Guia de Portugal". Vale a pena tê-los, porque é uma interessante leitura de um outro Portugal (embora sem a Madeira e os Açores) que aí ficou registada.

Recomendaria ainda às novas gerações que conhecessem um pouco mais a figura honrada e a grande personalidade da nossa cultura que foi Raul Proença, a alma por detrás do "Guia de Portugal". Por exemplo, aqui ou aqui.

"De Rodríguez"


Aposto em como a maioria dos leitores não faz ideia do significado do termo espanhol "estar de Rodríguez". Trata-se de uma expressão que terá passado a ser usada nos anos 60, em Madrid, para designar a situação dos maridos que ficavam sozinhos na capital, durante o mês de férias da família, a qual ia para a praia ou para o campo. Nunca consegui saber quem foi o Rodríguez que deu origem à expressão, mas até seria interessante conhecer as razões pelas quais ficou famoso...

Paris, neste mês de Agosto, é a cidade ideal para "estar de Rodríguez", como é o meu caso. O trânsito é mais escasso, há zonas da cidade quase vazias, consegue-se estacionar em lugares normalmente inimagináveis, o essencial da cidade está a funcionar e nem as "hordas" de turistas prejudicam quem quer usufruir calmamente da vida da capital francesa, nas horas depois do trabalho.

Nos próximos anos - já decidi! - vou seguramente continuar a ficar "de Rodríguez" neste "Paris au mois d'août", aliás motivo de uma bela canção de Aznavour que recordo aqui.

Em tempo: e não há uma alma etimologicamente culta que nos descubra quem foi esse famoso Rodríguez?

Ainda a propósito de João Lobo Antunes

Com a consolidação da nossa democracia, iludimos, sem grande consciência, as suas insuficiências, a sua fragilidade, a sua incipiência. Vem isto a propósito de uma reflexão urgente sobre espaço público, intervenção política, cargos oficiais e protagonistas do debate democrático. Mais concretamente sobre as regras que suportam o recrutamento das personalidades que, em cada momento, servem a República.

Episódios recentes - em que o 'caso Lobo Antunes' foi apenas o último capítulo - expõem, em toda a crueza, um dos traços mais reveladores da nossa imaturidade democrática. Ou seja, a captura pela lógica da estrita luta partidária de figuras que deveriam ser-lhe poupadas.

Nas democracias estabilizadas do mundo ocidental - nas 'velhas' democracias -, há um amplo consenso colectivo quanto à necessidade de preservar um escol de individualidades, cuja envergadura e cujo mérito, porque indiscutíveis e indiscutidos, nenhum interesse parcial pode aprisionar, condicionar ou diminuir. São, pois - quer-se que sejam -, uma espécie de património comum. Gente com uma autoridade natural, que se impõe em nome de um saber respeitado e, não menos, da independência, da isenção, do rigor. Também, e sobretudo, em nome da liberdade, já que esse seu estatuto reveste, por razões colectivas, um primordial interesse público.

Ora, em Portugal, nada disto se passa assim. E, portanto, nada disto é óbvio.

Sintoma fatal é a crítica habitualmente dirigida à própria exigência de entendimento entre os partidos políticos. Com efeito, vê-se aí a confissão de que tudo se esgota nos arranjos ditados pelas implacáveis aritméticas partidárias. E não se percebe que tal raciocínio é, afinal, uma pura subversão das coisas.

Na sua verdade intrínseca, a condição do apoio multipartidário, longe de poder querer significar uma divisão negociada do bolo constituído pelos lugares públicos disponíveis, deve consubstanciar o contrário: um apelo radical a critérios que superem e transcendam qualquer tentação de partidarizar o processo de escolha.

Não entender isto é adiar a possibilidade de termos uma democracia adulta. Pior: é tornar inexorável a alienação dos nossos melhores e deixar o serviço da causa pública à mercê daqueles a quem não incomoda o papel de figurantes numa comédia de pequenos tráficos e equilíbrios.

Trata-se de uma eminente questão de cultura política. Em qualquer uma das tais 'velhas democracias', João Lobo Antunes seria, ao lado de alguns (poucos) outros, alguém acima das contas e dos revanchismos da pequena política. Entre nós, João Lobo Antunes parece ter sido um nome questionável e prescindível.

Mudar isto é um imperativo nacional. E - na perspectiva prática do aproveitamento comunitário da excelência - um ditame do mais elementar bom senso. Sofia Galvão-Expresso

Watergate à portuguesa

A história começou com uma acusação: os assessores do Presidente andavam a ajudar a escrever o programa do PSD. Uns dias depois, um 'garganta funda' de Belém fez as perguntas que faltavam ao "Público": "Como é que os dirigentes do PS sabem o que fazem ou não fazem os assessores do Presidente? Estamos sob escuta ou há alguém na Presidência a passar informações?" Primeiro resultado da notícia: a fonte confirma a acusação feita pelo PS. Faltava responder à inquietação: como raio souberam os dirigentes do PS de um segredo que apenas tinha sido publicado há 15 dias no "Semanário" e seguidamente difundido no site de Manuela Ferreira Leite? Como estaria esta gente tão bem informada? Leriam jornais? Consultariam a Internet? A dúvida, a ansiedade, a consternação...

Depois de o "Público" ver morto, em poucas horas, o seu pequeno Watergate, decidiu não desistir. No dia seguinte, o problema já não eram as escutas aos assessores. Há um ano meio (há jornais que gostam de notícias frescas) um suspeito assessor de Sócrates acompanhou a comitiva do Presidente à Madeira. O espião escreve em blogues, foi autarca e é autor de um livro contra Cavaco Silva. O homem certo para não dar nas vistas. Diz que almoçou sem ser convidado e, veja-se lá, até conversou com jornalistas do continente. Sempre atentos, os senhores da Casa Civil viram ali todos os sinais da presença do agente 001 da polícia socratista.

A acusação de escutas e vigilância à Presidência, apesar de patética, é, se este país ainda se leva a sério, gravíssima. Perante ela, seria de esperar uma de duas atitudes do Presidente: ou confirmava a suspeita e agia em conformidade ou a desmentia e corria com o assessor que anda a espalhar tamanhos disparates. Nem uma nem outra. Preferiu, com o silêncio, alimentar a coisa. E é nestes pormenores que se percebe como há homens desajustados à relevância do lugar que ocupam.

A solidão de Portas

Há quatro anos Paulo Portas abandonou a liderança do CDS porque ficou poucos votos à frente de "trostsquistas e comunistas". Dois anos depois, no meio de gritos e encontrões, Ribeiro e Castro foi corrido sem ter sequer chegado às urnas. Portas voltou e, nas últimas europeias, depois de ter ficado atrás dos mesmos "trotsquistas e comunistas", festejou com lágrimas. Porquê? Porque teve mais do que as sondagens anunciavam. E esta é a arte de Portas: cria narrativas improváveis.

Como um eucalipto, Portas foi aniquilando todos os quadros do seu partido. Primeiro os opositores, depois aliados e amigos. O pouco que restava de apresentável foi enviado para Bruxelas. É da sua natureza: Portas é a sua própria solidão. E fez do CDS o primeiro partido português verdadeiramente unipessoal. Sozinho, tem de encarnar todas as personagens da direita: o "Paulinho das feiras e da lavoura", o "ministro de Estado", o político "contra o rendimento mínimo, os imigrantes e os criminosos", o Portas "conservador e cristão", o Paulo "da direita liberal".

Anti-sistema nas campanhas, o CDS precisa, depois das eleições, de voltar aos "responsáveis" negócios de Estado. Sem mais personagens para representar, alguém acredita que Portas ficará mais quatro anos a perorar no Parlamento? E quem sobrará para o acompanhar em tão ingrata tarefa?

Primeiro de cinco textos sobre as candidaturas às legislativas.

Daniel Oliveira

A paixão segundo...

 Ringo - Pô, eu primeiro? Logo eu, o narigudo, o palhaço da turma? Mas vamos lá. Tudo começou na minha casa mesmo. Na minha garagem. O meu pai tinha me dado uma bateria. Depois que a velha morreu (cancro), o velho me dava o que eu pedisse. Mas eu não ia pedir qualquer coisa para aproveitar o descorneio do velho. Fiquei entre a bateria e uma lambreta. Escolhi a bateria e comecei a ensaiar na garagem. O velho me deu a maior força. Era aposentado pelo INPS, mas dirigia um táxi, e tirou o táxi da garagem para dar lugar para a minha bateria. E brigava com os vizinhos que reclamassem do barulho. Encarava mesmo. O velho era faixa. Faixão. Mas o começo de tudo: um dia, o Paul passou pela frente da nossa casa de bicicleta e me ouviu tocando a bateria. Se apresentou. Perguntou se eu gostava dos Beatles. Tinha todos os discos dos Beatles. Ele morava no mesmo bairro, mas na parte mais alta, a dos bacanas. O pai dele era acho que advogado, coisa assim. Foi na casa do Paul que eu conheci o George e o John. O Paul e o John eram amigos desde criança. Um tocava baixo e o outro guitarra. E o George tocava guitarra. Já era esquisitão. Ele não ficou assim aquela coisa, meio místico, depois do que aconteceu, não. Depois da tragédia. Já era. Começámos a ensaiar na minha garagem porque a mãe do Paul não deixou ensaiar na casa deles. A casa era na parte fina do bairro, sabe como é. Mas o Paul não era besta, não. Usava cachecol até no Verão. Cachecol! Que eu não conhecia nem de nome. Mas não era besta, não.

Paul - O Ringo sempre foi um brincalhão. Nunca usei cachecol no Verão, mas gostava de me vestir bem. O Ringo aspirava perto de mim e depois inventava um nome para a loção que, segundo ele, eu estava usando: "Marraville de Bichice" ou "Me Come Nº 5". Eu sei que eles me chamavam de Bonitinho pelas costas, mas nunca liguei. Fui eu que, naquela primeira reunião lá em casa, decretei que dali em diante nos chamaríamos de "Paul", "John", "George" e "Ringo", nos vestiríamos igual aos Beatles e teríamos uma carreira igual à deles - em escala municipal, claro. Eu era, dos quatro, o único que tinha formação musical. Estudara piano desde pequeno. Mas o John e eu fazíamos os arranjos juntos. Quer dizer, os arranjos que não eram copiados, nota por nota, dos Beatles. Aquelas histórias de desentendimentos, de brigas, de ciumeiras - tudo invenção. Nem quando o John largou a Narinha e começou a namorar a Tamako, que o Ringo chamava de Tamanco, mas não na frente dele, nem aí houve briga. Pelo menos briga séria. Tanto que depois que os Beatles terminaram nós continuámos. E até fizemos sucesso. E íamos fazer mais se não fosse a tragédia. Como é? Ah, pois é. Como o John dos Beatles, o nosso John também se engatou numa oriental, se bem que uma oriental nascida em Ivoti. E depois, claro, houve a terrível coincidência do que aconteceu com o John Lennon e com o nosso John... Se bem que o George nunca achou que fosse coincidência.

George - Nada é coincidência. Tudo está escrito. Em algum lugar, nos confins do espaço ou na palma da sua mão, está escrito. Nosso fim estava no nosso começo. Nós éramos Paul, John, George e Ringo. Não éramos imitações, éramos eles em outra realidade. Nossos destinos tinham de ser os mesmos. No dia da tragédia que abateu John Lennon, exactamente no mesmo dia, soubemos o que tinha acontecido com o nosso John. Isso é coincidência? Não. Estava escrito.

John - Eu sei que eles chamam de "tragédia" a minha decisão de ir trabalhar com o pai da Tamako na transportadora deles em Ivoti. A música não estava dando nada, e eu precisava pensar na família. Está certo, eu deveria ter avisado antes de dizer simplesmente: "Não dá mais, acabou." E foi chato meu aviso coincidir justamente com o assassínio do Lennon em Nova Iorque. Mas não foi uma tragédia, não. Estou muito bem. E ficaram as lembranças daquele tempo tão maneiro. Ainda se diz "maneiro"? Meus netos vivem corrigindo a minha gíria.

Luís Fernando Veríssimo - Expresso.pt

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Empresários do sector dos vinhos condenados por fraude na obtenção de subsídios

O empresário do sector dos vinhos Alfredo Cruz, de Lageosa do Dão, Tondela, e dois irmãos seus foram condenados a penas de prisão efectiva de cinco e quatro anos pelo crime de fraude na obtenção de subsídios comunitários.TSF

Ex-administrador acusado de peculato, e o Tribunal “repudia” alegado descontrolo administrativo

O regabofe dos dinheiros publicos! 

O Supremo Tribunal de Justiça “repudiou” esta quarta-feira os alegados descontrolos administrativos da instituição. Em comunicado, o órgão reagiu assim ao facto de Ricardo Cunha ter sido acusado de peculato e falsificação de documento por apropriação de 344.299 euros, através da compra de objectos pagos pelo Supremo Tribunal de Justiça e pelo Gabinete do Ministro da República.

Os actos em questão tiveram lugar entre Fevereiro e Março de 2005 e o primeiro trimestre de 2006.

“O Conselho Administrativo do Supremo Tribunal de Justiça pronunciou a autorização dos pagamentos em causa, em função da apresentação de facturas de que constavam artigos ou prestações de serviços diversos daqueles que estavam a ser verdadeiramente adquiridos”, refere a instituição em comunicado.

O Supremo Tribunal de Justiça diz ainda que, tendo por base indícios vários, no início de Fevereiro de 2007 pediu uma auditoria ao Ministério das Finanças, executada pela Inspecção-Geral das Finanças, entre Março e Maio de 2007;

“Nesta auditoria foram detectadas irregularidades imputáveis ao Sr. Dr. Ricardo Cunha que foram comunicadas imediatamente ao Ministério Público. Na sequência dos resultados da auditoria foi feita cessar a comissão de serviço da Sra. Directora dos Serviços Financeiros ao tempo”, acrescenta.

O Supremo Tribunal de Justiça diz que, atendendo aos seus procedimentos, a execução administrativo-financeira “provou estar dotada dos mecanismos necessários para fiscalizar e actuar sempre que necessário”.

A Antram e os problemas do transporte rodoviário

Luís Abrunhosa Branco
(Membro da Associação Mundial de Editores de Transportes)
Enquanto a Associação Nacional de Transportadores Portugueses (ANTP), através de António Lóios, passava a informação do acordo com o Governo nas questões ligadas às reivindicações de Junho de 2008, a Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (Antram) deixava entender – com realismo – que nada estava resolvido, apesar do seu empenho. Desde comunicados no seu sítio na internet até à convocatória dos associados para a realização de reuniões regionais (com oferta de almoço), os dirigentes associativos querem a verdade, verdadinha.
Em finais de Março a delegação da região Norte da Antram convocou os associados e ofereceu o almoço, a quem quisesse ouvir qual o ponto da situação das negociações sobre “Ajudas de Custo TIR”, Regime de Cabotagem em Portugal, Incentivo ao Abate de Veículos, Alterações ao Regime de Acesso à Actividade e Indexação do Preço de Transporte ao Preço de Combustível. A merecer ainda reflexão questões como o Incentivos à Renovação das Frotas, Filtros de Partículas, Exigibilidade do IVA e Legislação Laboral Especial para o Sector, motivos mais do que suficientes para terem casa cheia.
Com detalhe dos acontecimentos e da forma como decorreram as negociações, a Antram não se deixou ultrapassar por afirmações precipitas e esclareceu que nas questões da Ajudas de Custo TIR quer “encontrar uma solução para o futuro que passará pela consideração, em geral, do pagamento das contribuições em causa”, pelo que exige uma posição de fundo da Segurança Social e não quer fora do acordo “as empresas que deduziram já impugnações judiciais” e as que “pagaram voluntariamente as contribuições exigidas ou que fizeram acordos de pagamento”.
A Antram na nota aos associados informou que a sua postura tem sido a de “defender que este dossier até às últimas consequências, devem ser encontradas soluções iguais para todos aqueles que sofreram desde a primeira hora inspecções”.
Parece não restarem dúvidas de que a existência da Antp tornou a Antram mais terrena e mais próxima dos associados. Todos ficam a ganhar.
Espertos ou descuidados
Se por um lado a Antram assume um cuidado elevado com a informação, digna de uma entidade de referência e parceira do poder, por outro, estranhamente, parece que os respeitáveis dirigentes da associação não conseguem colocar freio a alguém que, dizendo actuar em seu nome, assume jogos baixos e expõe a associação ao ridículo.
O combate à crise e a procura de melhores soluções para os problemas, com a Antp a fazer sombra, parece estarem a gerar descuidos e esquecimentos sobre o papel de referência da Antram no sector. Ouvimos o presidente António Mousinho transmitir ameaças, preocupações e medos, sobre o que é que os transportadores possam vir a fazer se o Governo não resolver as negociações pendentes.
A Antram está muito para além dos filmes que interessam a funcionários associativos. Se por um lado António Mousinho está a trabalhar para chegar a dirigente máximo da estrutura empresarial do sector a nível mundial (presidência da IRU), por outro cai no erro de se expor de forma nada dignificante, com argumentos ridículos (dignos de uma associação de vinte amigos) as preocupações do sector. Depois de eu ter denunciado o esquema de fabricação de protestos, o qual recorria à seriedade de transportadores da zona de Viseu, que acreditando estar a defender interesses sérios, promoviam e organizavam protestos e desfiles no IP5/A25, essa mina secou. Agora e sem ninguém para enganar, o fazedor de cenários – qual consagrado encenador dos transportes - parece que quer fazer do inteligente e respeitável António Mousinho uma marioneta a debitar oratória para microfones e câmaras. É lamentável este teatro apalhaçado, qual festival de fantoches.
Que há por aí um “realizador” interessado em fazer ondas com ameaças de protestos, lá isso há. Então não é que um funcionário de uma associação foi apanhado a incentivar o dirigente de uma outra associação para que ela anunciasse um protesto de transportadores. Perante a recusa de ruptura com o Governo, do dirigente com veia política, o instigador caiu na casca de banana sobre a existência de uma pretensa agenda de iniciativas da outra associação, junto dos partidos políticos com assento em S. Bento.
Esperando sentado, o resistente às pressões tomou conhecimento que António Mousinho, em representação da Antram, foi recebido pelo PSD. Coincidência ou não, a secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, dando sinais de que não aceita golpes baixos ou traições em forma de pressão, recebeu a associação que se mostrou fiel às negociações em curso, permitindo protagonismo e brilho a António Lóios, que à saída da reunião aproveitou para desacreditar e desmentir qualquer razão para um protesto organizado.
Os dirigentes da Antram têm de estar atentos às rasteiras e à sede de protagonismo, de quem, por si remunerado, não olha a meios para atingir fins, que acabam por afectar a grandeza da maior e mais influente organização do sector.
Um qualquer funcionário associativo pode desconfiar que a associação de Lóios e Silvino tem mais pica para provocar as massas, mas não se pode esquecer que a Antram faz parte do respeitável património associativo com credibilidade. A Antram não pode ser, nem agir, como e quando um qualquer vigário quiser. “Livrem-se do vigário ou ainda vão pedir emprestado para dar ao vigário!”

a frase

"O PSD aposta forte em dizer o menos possível, aposta forte em que valerão mais os erros de Sócrates do que os seus próprios argumentos".

José Leite Pereira, "Jornal de Notícias", 26-08-2009

Fontes secas

A questão das escutas em Belém interpela três instituições da democracia em Portugal - o Governo, a Presidência da República e a Imprensa. Seguindo ridículo a ridículo o desenrolar da opereta, só se pode concluir que houve jornalismo que entrou em perigoso conúbio com fontes de Belém para criar um factoide de represália que respondesse às simplórias acusações de colaboracionismo entre Belém e a Lapa na elaboração do programa do PSD.

Há muito que os leitores do "Público", entre os quais me incluo, notam que o jornal tem procurado marcar o seu território na dura luta por protagonismo, encostando-se à Presidência e malhando (à la Santos Silva) no PS. É um comportamento que a ocasional tentativa de cosmética com colunas isentas não consegue disfarçar.

O "Público" é hoje um jornal de opinião. E tem direito a sê-lo. Tal como o "Avante", o "Portugal Hoje" ou o "Portugal Socialista", defende a orientação que as suas tutelas definem. É uma maneira de ser dos editores. É a maneira de estar da sua consciência cívica. No processo informativo de uma comunidade não se deve excluir a opinião. Pelo contrário. É preciso procurá-la, lê-la ou ouvi-la e depois considerá-la ou descartá-la. Para a consumir como produto mediático, seja na "Luta Popular", na "Comuna" ou no "Público", é preciso estar equipado com a chave que descodifique as intenções e objectivos dos autores, e depois, retirar a informação lá contida que é útil para formar uma imagem completa do que nos rodeia.

A chave para entender a ofensiva do "Público" veio na sua edição de 19 de Agosto de 2009, no editorial da Direcção onde se admite que a verdade é que ninguém pode responder à pergunta se a Presidência está ou não a ser escutada pelo Governo. Isto, escrito dois dias depois de se ter anunciado com máximo destaque que se suspeitava que estivesse, diz o que há a dizer sobre a fiabilidade da informação publicada. Admitindo o próprio jornal que aquilo que publicou não é confirmável, resta-nos tentar entender o que é que levou o "Público" a fazer isso. Mais adiante, no mesmo editorial, há outra pista. Lê-se que o que as fontes de Belém fizeram foi "um aviso à navegação". Ao escrever isto, José Manuel Fernandes admite que, contactado pelas sombrias "fontes de Belém", se prestou a ser veículo desse aviso, fosse ele confirmável ou infirmável.

A desesperada tentativa do jornal de tentar credibilizar a sua notícia levou a incluir na página dos relatos não substanciados uma coluna onde se lia que já o procurador-geral tinha dito que era escutado no seu gabinete. O que é que isto tem a ver com o caso? Nada. O que é que isto tem a ver com este jornalismo de opinião e a suas fontes? Tudo.

Já tive a minha dose de problemas com "fontes de Belém". Denunciei-as por estarem a colocar sob anonimato notícias nos jornais que depois não confirmavam oficialmente, criando embaraços aos editores mais crédulos. O chefe da Casa Civil, Nunes Liberato, brindou-me com uma queixa aos meus empregadores. É distinção que me honra e faz curriculum. Fiquei agora a saber que "as fontes de Belém" estão não só secas de confirmações, mas estão a secar a dignidade informativa à sua volta. Mário Crespo JN

Saberemos viver no caos?

Moita Flores, presidente da Câmara de Santarém, é peremptório ao negar o seu voto a Manuela Ferreira Leite e afirma ser possível, embora ainda não o saiba, que venha a votar no PS. Flores é presidente eleito em lista do PSD e candidato a nova eleição novamente em lista PSD. A divergência que mantém com Manuela Ferreira Leite ("não é possível distinguir entre corruptos maus e corruptos bons" - diz ele ) não é, pelos vistos, suficientemente forte para que recuse o apoio do partido. O que temos, portanto, é alguém debaixo do guarda-chuva do PSD a dizer mal do dono do guarda-chuva.

Uma atitude destas é não só feia como incompreensível. E, no entanto, Moita Flores até pode ter razão nas críticas que faz à liderança social-democrata e nos elogios que tece ao Governo socialista, a quem está justamente agradecido. O problema é que, colocando-se no patamar dos princípios quando critica Manuela Ferreira Leite, Moita Flores deixa-se, depois, ficar no patamar oportunista de necessitar dos votos do partido para poder ser reeleito autarca, pois todos sabemos como seria diferente uma candidatura independente contra um candidato que ostentasse o apoio do partido.

A política, infelizmente, vai sendo feita cada vez mais com menos princípios, com menos ética, com menos transparência. Durante as minhas férias fui surpreendido por uma guerra surreal sobre espionagens no Palácio de Belém que não mereceria um minuto de atenção se, qual gato escondido, não houvesse por ali a intenção de alimentar uma guerra que já existe e que não precisa de quem lhe atire achas para a fogueira. Julgava eu que regressaria e que se estariam a discutir as diversas propostas dos partidos. Puro engano. O PSD aposta forte em dizer o menos possível, aposta forte em que valerão mais os erros de Sócrates do que os eus próprios argumentos. As propostas estão à esquerda, com a guerra cada vez mais acesa entre PS, PCP e BE, e à direita no PP, que sabiamente vai marcando o seu terreno

O que aí vem, o cenário pós eleitoral, como já aqui mesmo escrevi há meses, pode ser um "cenário de guerra". Sem uma previsível maioria absoluta no horizonte e com os diversos protagonistas a cavarem sucessivamente maiores distâncias e maiores obstáculos para relacionamentos futuro, não se vê como se vai atingir a estabilidade. A Itália viveu anos num caos partidário. Durante muito tempo dizia-se que trágico seria a Itália ter uma maioria... Saberá Portugal viver nesse caos?

JN-José Leite Pereira

Comboios regressam à Linha do Douro

O Governo anunciou hoje que já está concluída a negociação entre a REFER, a CP, o IPTM e a CCDR-N, com envolvimento de municípios quanto à ligação Pocinho-Barca D'alva, na Linha Ferroviária do Douro.

Impacto do TGV na redução das emissões de CO2 é mínimo

O impacto na redução das emissões de carbono resultante do investimento em comboios de alta velocidade "é mínimo e não deve ser vendido aos cidadãos da União Europeia como uma política verde", defende um relatório publicado pelo Grupo Técnico para os Estudos do Ambiente, um organismo ligado ao Ministério das Finanças sueco.

O documento recorda que "emergiu um consenso político" sobre esta ideia, mas Bjorn Carlén, representante deste grupo, afirmou à publicação online "EurActiv" que "as motivações por detrás deste tipo de investimentos podem certamente basear-se numa série de razões positivas, mas a redução de emissões de carbono não deve ser uma delas".

Carlén explicou que as conclusões do relatório aplicam-se não apenas à Suécia, país que actualmente ocupa a presidência rotativa da UE, mas também a outros Estados-membros "onde existem estratégias de investimento que apostam nos comboios de alta velocidade", como Portugal.

O mesmo documento insiste também que os investimentos devem ser canalizados para outro tipo de apostas, como o comércio de carbono, "onde a redução de emissões poderá ser bastante maior e a um custo muito mais baixo" para os contribuintes. Expresso.pt

Brincadeiras de Verão

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Cabe na cabeça de alguém que o Governo tenha instalado uma escuta no Palácio de Belém para descobrir, por antecipação, o que pensam o Presidente e os seus antecessores? Não: na minha, pelo menos, não cabe. Mas, seja isto uma irresponsável brincadeira de Verão parida no Palácio de Belém ou uma tenebrosa medida de um governo que, então, se teria transformado num caso de polícia, não é admissível a forma como esta mirabolante história nasceu e cresceu. Um qualquer anónimo assessor de Cavaco Silva, com ou sem o seu conhecimento prévio, não pode lançar a bomba atómica e esconder depois a mão. E o Presidente não pode, a seguir, remeter-se ao silêncio, embrenhado na leitura algarvia do "jipe de diplomas" do Governo que tem para promulgar e de que, tão levianamente também, se veio queixar em público. Há coisas que são demasiado graves para a saúde do regime democrático para poderem ser tratadas com esta desfaçatez de miúdos a brincar à política. Ou Cavaco tem provas, ou muito fundadas suspeitas daquilo que o seu assessor lançou ao vento, ou não tem. Se tem, deve tratar o assunto de outra forma e com a gravidade que ele justifica: um Presidente que tem razões sérias para acreditar que está a ser escutado e vigiado pelo Governo, não pode ficar-se com bocas anónimas lançadas para os jornais. Se não tem provas e se não teve forma de impedir o que disse o seu assessor, deve desmenti-lo publicamente, identificá-lo e demiti-lo. Urgentemente. Também não sei (e nunca saberemos, claro), se são verdadeiras ou não as acusações de que assessores de Cavaco Silva participaram na elaboração do misterioso programa eleitoral do PSD. E como não sabemos, vale a mesma regra: é mentira, até prova em contrário (sendo que esta é mais difícil de fazer).

Agora, uma coisa há que é verdade: que Cavaco Silva tem o Palácio cheio de assessores e conselheiros que são militantes ou membros do PSD. Está no seu direito, mas, fazendo-o, sujeita-se às leituras políticas e consequências que daí se podem retirar. Há mesmo um membro do seu staff político que é candidato pelo PSD nestas eleições legislativas. E eu acho que ele lhe devia agradecer os serviços até aqui prestados e dispensá-lo: o Presidente da República, que tem uma obrigação constitucional clara de ser equidistante e independente da luta partidária, não pode albergar dois assessores que são simultaneamente candidatos a deputados pelo maior partido da oposição. Não o fazendo e lançando agora esta guerrilha das supostas escutas, Cavaco vai acentuando cada vez mais a ideia de que não lhe é indiferente o desenrolar do processo eleitoral que aí vem e o seu desfecho. Eu sei que foi José Sócrates que lhe deu o pretexto e a desculpa, com a estúpida guerra do Estatuto dos Açores - uma questão menor e inútil, onde Cavaco tinha toda a razão mas onde Sócrates resolveu desafiá-lo gratuitamente. Mas isso não dá ao Presidente a liberdade de movimentos que ele não tem na querela política que se avizinha. Belém acaba de dar um passo em falso. Um gigantesco passo em falso. É provável que tenha consequências num futuro próximo, porque há coisas com que não se brinca. E, com tantas outras coisas bem mais importantes para discutir e decidir em Outubro, o país dispensava bem estes acessos de protagonismo a despropósito.

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Há quinze dias que os pensadores políticos discutem animadamente a directiva da ERC que recomenda aos órgãos de informação a suspensão, durante o período eleitoral, da colaboração dos seus comentadores que são simultaneamente candidatos a deputados ou a autarcas. A generalidade das opiniões lidas foi violenta contra a directiva da ERC - a começar pelos próprios visados. Choveram gritos de alerta contra as "ameaças à liberdade de informação" e a denúncia feroz desta "tentativa de censura". Francamente, parece-me que exageram: uma recomendação não é uma ordem, não é um diktat, não é uma lei. E a prova que não é, é que, tirando o "JN", nenhum outro órgão de informação deu mostras, até à data, de ir acatar a recomendação da ERC. Pelo contrário, houve até alguns que aproveitaram para desenterrar do baú das memórias o estilo exaltado e heróico das proclamações em defesa da liberdade, como se a pobre ERC, que ninguém leva a sério, fosse a antecâmara do regime militar da Birmânia. Bem, volto a dizer que não percebo tanta exaltação. Se não gostam da ERC, extingam-na; se não a extinguem, hão-de aceitar que ela tenha o direito de emitir recomendações - visto que foi para isso, justamente, que foi criada. Agora, mantê-la em funções desde que esteja calada, isso sim, é que me parece uma tentativa de censura. Desculpem lá.  Tanta berraria parece-me (mas talvez esteja enganado), uma tentativa de não ter de encarar a questão de fundo levantada na directiva da ERC. Porque há uma questão de fundo e idêntica, não igual, à dos assessores de Belém que também são candidatos nas eleições. Parece-me óbvio e indesmentível que um candidato eleitoral que dispõe de uma coluna de opinião num jornal, numa televisão ou numa rádio, está em vantagem face a quem com ele concorre directamente e não dispõe de tal. Ou há alguma dúvida nisso? Assim sendo, e sem sequer discutir a validade da recomendação da ERC e menos ainda as suas motivações submersas, a questão existe e não foi criada nem inventada agora pela ERC. E não interessa nada o aspecto jurídico nem tanto o político: é uma questão de boas maneiras, digamos assim. Como saber estar à mesa ou saber preservar a sua intimidade.
Se eu fosse candidato a qualquer lugar político elegível, podem crer os meus leitores que não estaria aqui a escrever durante a campanha eleitoral. Porque me ia sentir mal e desconfortável. Mas cada um sabe de si, claro. Não venham é falar de censura, porque estão a inverter indecentemente as coisas.

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Pela segunda vez em pouco tempo, tenho de prestar homenagem ao espírito de rebeldia - neste caso, saudável - de Alberto João Jardim. A primeira vez foi quando ele recusou aplicar na Madeira, tal e qual, a lei contra os fumadores, fazendo da ilha um espaço mais tolerante e mais civilizado (repito: mais civilizado) do que o continente. A segunda vez é agora, tomando conhecimento de que, dentro do mesmo espírito de insubmissão aos abusos politicamente correctos do Estado, ele recusa igualmente a aplicar lá a lei que torna obrigatória a matrícula electrónica em todos os carros que circulam em Portugal. Além de mais um excelente e obscuro negociozinho de alguém que já deve ter o monopólio do fabrico e venda dos tais chips (como sucedeu com os ridículos coletes obrigatórios), a lei tem apenas uma finalidade: tornar a caça à multa um desporto sentado, em que a GNR já nem vai precisar de patrulhar estradas ou vigiar radares, bastando-lhe imprimir os resultados de um programa de computador que a todo o momento detectará todas as transgressões ao Código da Estrada, cometidas por todos os automobilistas em todos os pontos do país. Um verdadeiro tesouro sem fim para os cofres do Estado, que, de caminho, fica ainda com a faculdade de a todo o tempo poder saber por onde anda cada um de nós! É o 'Big Brother' rodoviário, mais um passo judicioso no projecto de nos transformar num Estado policial-democrático, se é que isso pode existir. O poder perdeu a vergonha e os cidadãos parece terem perdido a noção do pouco que já lhes resta de privacidade e liberdade individual. Eu avisei: começavam pelo tabaco...

Miguel Sousa Tavares - Expresso.pt

A Galp tem má consciência?

Numa atitude inusitada, a Galp Energia fez publicar um comunicado de página inteira em diversos jornais com o título: "Galp Energia esclarece sobre declarações incorrectas do Prof. António Costa Silva relativas ao preço dos combustíveis". Coisa grave, terá deduzido o leitor. Tentemos então compreender o que se passou, mas faço a minha declaração de interesses: tenho o privilégio de ser amigo de António Costa Silva há muitos anos. Mas não lhe faço nenhum favor ao considerá-lo um dos melhores especialistas do país na área energética, como o seu currículo amplamente comprova.

Em primeiro lugar não se percebe porque é que o presidente da Galp não respondeu a Costa Silva também na SIC Notícias, ou a um jornal. Costa Silva é presidente da Partex Oil & Gas, o braço-armado da Fundação Gulbenkian para o sector energético. Deve ter qualidades para a função, porque o presidente da instituição, Rui Vilar, não tem fama de se rodear de incompetentes. Desvalorizar as suas afirmações através de um anúncio não dignifica a Galp.

Segunda questão: revendo as palavras de Costa Silva nunca ele citou a Galp ou outro operador, antes sublinhou que se trata de empresas idóneas. O foco foi colocado no mau funcionamento do mercado e a crítica dirigida à Autoridade da Concorrência (AdC), que estuda muito mas actua pouco. É assim incompreensível que a Galp tenha tomado para si as dores da AdC. Será má consciência?

Terceira questão: afirma a Galp que Costa Silva desconhece totalmente a formação do preço dos combustíveis, quando diz que entre Julho e Setembro de 2008 o petróleo caiu 45% mas nas bombas o gasóleo desceu apenas 10% e a gasolina 6%. Sublinha a Galp que os preços também incluem os custos fixos das companhias e impostos: "para que o preço dos combustíveis subisse ou descesse na mesma proporção do crude era necessário que todos os componentes que formam o seu preço variassem na mesma proporção e que o câmbio entre o euro e o dólar fosse constante. Isso não só não acontece como não é possível".

Ah, sim? Que grande novidade! Então mas esta justificação serve só para as descidas ou também para as subidas? É que para as subidas, a justificação da Galp assentou sempre, mas sempre, nos aumentos do crude - e nunca teve a gentileza de nos informar que, como os custos fixos não subiam na mesma proporção, os aumentos seriam mitigados.

Mas não me lembro de ninguém da Galp fazer esta observação...

E em qualquer caso, os custos fixos e a paridade euro/dólar justificam que contra uma descida do crude de 45%, os combustíveis nas bombas só tenham descido 6% e 10%? Será que na Galp conhecem a teoria económica explicativa deste tipo de fenómenos, que fala em rockets and plumes, ou seja, preços que sobem rapidamente mas que depois descem muito lentamente, ficando o benefício do lado das companhias e não dos consumidores?

Não conhecem, certamente. Assim como desconhecem que, ao contrário do que dizem no comunicado, o último relatório da AdC defende a implementação do umbundling, ou seja, a separação de diversas actividades da empresa, da produção de petróleo à distribuição de combustíveis. É que se a Galp não consegue reduzir os seus custos fixos para assim ajudar a descida do preço dos combustíveis nas bombas, então alguém tem de o fazer por ela. E a separação de actividades é o único caminho.

Revolução no sector automóvel

Está em marcha uma revolução discreta e silenciosa na indústria automóvel - mas imparável. Vários países alinham-se para não perder esta oportunidade. E desta vez, Portugal parece estar bem posicionado.

Falo, claro, dos veículos eléctricos e das baterias de iões de lítio, parte das quais, a partir de 2012, passarão a ser produzidas na fábrica que a Nissan vai instalar em Portugal. Várias empresas estão envolvidas na criação de uma rede no país para abastecimento de veículos eléctricos. Em universidades nacionais transformam-se veículos convencionais em eléctricos. E há investigação privada em relação às baterias de iões de lítio. Tudo à procura de respostas para: como é possível aumentar a autonomia e a velocidade dos veículos eléctricos? Como se reduz a dimensão e o peso das baterias de iões de lítio, bem como o seu preço e a sua duração?

A corrida está em curso e os sinais acumulam-se. A 6 de Agosto, o Departamento de Energia dos Estados Unidos anunciou uma lista de 48 empresas contempladas com 2,4 mil milhões de dólares para "fabricar a próxima geração de baterias e componentes para veículos eléctricos". A lista começa com a Johnson Controls (o maior fabricante mundial de baterias de chumbo) e acaba em escolas que irão dar formação em "Advanced Electric Drive Vehicle Education Program".

Três dias depois, foi anunciado que os dez maiores fabricantes chineses de automóveis decidiram criar uma joint-venture de I&D para o desenvolvimento conjunto de componentes para veículos eléctricos.

São sinais mais que suficientes para ser mantida a aposta de tornar Portugal um mercado-teste para os veículos eléctricos, mas também para as empresas portuguesas participarem activamente nesta revolução.

O fim da recessão técnica

O crescimento da economia portuguesa em 0,3% no segundo trimestre do ano é uma excelente notícia. E por três razões. A primeira é que a economia portuguesa estava a cair há três trimestres (desde o terceiro de 2008) e este número inverte essa tendência. Termina assim a recessão técnica em que nos encontrávamos, definida como a quebra em dois trimestres consecutivos de uma economia.

A segunda é que, na zona euro, só três países registaram crescimentos positivos: Alemanha, Inglaterra e Portugal. É um facto que deve ser realçado. Portugal não só entrou em recessão mais tarde que outros como é dos primeiros a sair dessa situação. Em terceiro, esta recuperação deve-se essencialmente ao acréscimo das exportações, em particular para a Alemanha, o que é uma forma sã de sair da crise.

Claro que não só não há razões para euforias, como permanecem ainda sérias incógnitas. Não há motivo para euforias porque 1) a economia, apesar deste número, vai registar em 2009 um crescimento negativo acima dos 3,5%; 2) o desemprego vai continuar a crescer, até porque existe um desfasamento de nove meses entre o momento em que a economia inicia a recuperação e aquele em que o mesmo acontece no mercado laboral.

Quanto às incógnitas, elas residem no que vai acontecer no sistema financeiro internacional, que enfrentará nos próximos meses um acréscimo substancial do crédito malparado. Isso implicará a necessidade de novos aumentos de capital e a dúvida é se ele existirá disponível e interessado em fazê-lo. Se tal não acontecer, os bancos serão obrigados a refrear a concessão de crédito para manter os rácios de solvabilidade - o que pode conduzir a nova fase recessiva.

Mas até lá, depois de tantas desgraças, gozemos esta pequena mas excelente notícia. Nicolau Santos Expresso.pt

Um ninho de cucos (e é onde nós vivemos...)

Há momentos em que a política se transforma num exercício de loucura, irresponsabilidade e estupidez. Nessas alturas há poucas coisas a fazer: rir, chorar, emigrar ou aguardar que alguém reponha a normalidade. No caso que nos entreteve esta semana, só há uma pessoa que pode fazer regressar essa normalidade: o Presidente da República. Estranhamente ninguém o viu ou ouviu esta semana.

O sillygate começa por parecer isso mesmo: um amontoado de parvoíces, típicas da época mais quente do ano. Mas, quando se olha com atenção, o que vemos é assustador: basicamente, alguém no Palácio de Belém acha que o Governo anda a vigiar os passos dos assessores do Presidente. Admitindo que a fonte em causa não está com gripe A e 40 graus de febre a história tem que ser esclarecida. E só pode ser esclarecida pela Presidência.

A fonte em causa inventou o mais ridículo dos 'indícios' para justificar as suspeitas. Um dirigente do PS (José Junqueiro, de Viseu!) tinha dito ao "Público" que Belém devia esclarecer se tinha assessores a colaborar na elaboração do programa eleitoral do PSD. Com base nisto, e apenas nisto, a fonte de Belém acha que está a ser vigiada!

Apenas para arrumar esta questão, convém explicar que é absolutamente normal que assessores do Presidente tenham vida partidária. Isso aconteceu com todos os presidentes da República. No grupo de assessores de Cavaco Silva há, naturalmente, pessoas que são do PSD e algumas muito próximas da actual líder. Estranho seria se não a ajudassem politicamente. Há, aliás, um assessor de Cavaco, o ex-ministro da Agricultura, Armando Sevinate Pinto, que colabora publicamente com o CDS-PP.

Delírios à parte, a história só fez o seu caminho porque o Governo e o PS deram vários pretextos, dois dos quais graves: o estatuto dos Açores e a não nomeação de João Lobo Antunes para o Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida. O primeiro caso foi uma afronta infantil e desnecessária; o segundo conseguiu a proeza de transformar João Lobo Antunes numa bandeira do PSD, partido a que nunca pertenceu, fazendo esquecer que antes de ser mandatário nacional de Cavaco Silva, o médico tinha sido mandatário da reeleição de Jorge Sampaio! E já ninguém se lembra que foi Lobo Antunes quem empurrou Dias Loureiro para fora do Conselho de Estado, perante o silêncio e o incómodo do Presidente e da direcção do PSD. Enfim, o PS dá pretextos tontos, alguém na Presidência enlouquece e ninguém tem juízo. Somos um enorme manicómio.

Ricardo Costa Expresso.pt

Bem e Corrupção - Santo Agostinho

 

Vi claramente que todas as coisas que se corrompem são boas: não se poderiam corromper se fossem sumamente boas, nem se poderiam corromper se não fossem boas. Com efeito, se fossem absolutamente boas, seriam incorruptíveis, e se não tivessem nenhum bem, nada haveria nelas que se corrompesse. De facto, a corrupção é nociva, e se não diminuísse o bem, não seria nociva. Portanto, ou a corrupção nada prejudica - o que não é aceitável - ou todas as coisas que se corrompem são privadas de algum bem. Isto não admite dúvida. Se, porém, fossem privadas de todo o bem, deixariam inteiramente de existir. Se existissem e já não pudessem ser alteradas, seriam melhores porque permaneciam incorruptíveis. Que maior monstruosidade do que afirmar que as coisas se tornariam melhores com perder todo o bem?
Por isso, se são privadas de todo o bem, deixarão totalmente de existir. Logo, enquanto existem são boas. Assim sendo, todas as coisas que existem são boas e aquele mal que eu procurava não é uma substância, pois se fosse substância seria um bem. Na verdade, ou seria substância incorruptível, e então era certamente um grande bem, ou seria substância corruptível, e nesse caso, se não fosse boa, não se poderia corromper.
Santo Agostinho, in 'Confissões'

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Voltas


 

Terminou ontem mais uma Volta a Portugal. Desta vez, para variar, foi um português o vencedor.
Não tenho um contacto com a realidade portuguesa que me permita aquilatar, com precisão, da relação afectiva que o país tem hoje com o seu ciclismo. Fico com a sensação que já não há grandes ídolos, apenas uma meia dúzia de nomes relativamente mais conhecidos. Não deixa, aliás, de ser curioso que aquele que parece ser o mais popular ciclista português, Cândido Barbosa, nunca tenha obtido uma vitória na Volta a Portugal. É, apesar disso, um campeão da simpatia.
A desaparição dos clubes tradicionais como promotores centrais da modalidade, bem como a entrada das empresas a dar nomes às equipas, terá retirado muita da rivalidade antiga que alimentava o ciclismo português. Valha a verdade, um dos grandes duelos históricos do nosso ciclismo ocorreu entre Alves Barbosa e Ribeiro da Silva, apoiados então, respectivamente, pelos modestos Sangalhos e Académico do Porto. Mas as camisolas do Benfica, Porto e Sporting (aqui por ordem puramente alfabética, claro...) foram a chave de décadas de entusiasmo nacional pelo ciclismo.
Porém, como espectáculo de rua, o ciclismo continua ainda a ser uma festa para as terras por onde passa. Há uma merecida admiração por esses homens que, no tempo mais quente do ano, passam horas a sofrer. Uma luta que se passa à nossa escala, porque há que ter em atenção que a Volta a Portugal está a anos-luz de importância das suas grandes congéneres europeias - a espanhola, a italiana e a francesa. De qualquer forma, conseguir subir a Senhora da Graça ou a Torre continua a ser uma proeza impressionante e comovente.
A minha terra, Vila Real, deu ao ciclismo português um nome importante: Delmino Pereira. Porém, na minha infância, havia por lá um outro ciclista, Firmino Claudino, o qual, durante alguns anos, alinhou em Voltas a Portugal, sem que, no entanto, tenha deixado marca de vitórias. Recordo-me bem da sua figura, dono de uma loja de bicicletas e, com bastante mais êxito do que no ciclismo, do seu estatuto de um dos melhores bilharistas nas mesas do Café Excelsior.
Uma Volta a Portugal, nos anos 60, teve uma etapa que finalizou nas Pedras Salgadas, terra de onde Firmino Claudino era originário. Mantenho viva na minha memória a sua imagem, nesse final da tarde, impante de orgulho, a passear-se de braço dado com Alves Barbosa, numa assumida e ostensiva revelação de proximidade com aquela que era, à época, a grande estrela do ciclismo português. Essa terá sido, seguramente, a sua maior vitória ciclística... Anos mais tarde, a caravana da Volta atravessou as Pedras Salgadas. Firmino Claudino ia no pelotão e, à passagem na sua terra natal, decidiu desistir por lá. Foi a etapa final da sua última Volta. Ter a própria terra por meta não deixa de ser bonito.

Cem Amigos


 
A língua portuguesa é muito traiçoeira - dizia um rapaz que já teve mais piada, em especial quando a usava com subtileza. Cem amigos significa que estamos com amigos, por mais que a frase soe estranha.
Como o quadro ao lado atesta, na data de hoje, temos já 100 leitores inscritos no blogue, pessoas a quem agradecemos a sua simpatia, paciência e atenção, que esperamos continuar a não desiludir.

Telefonista


 

Aquela telefonista era muito rigorosa e precisa: tudo o que não fosse relacionado com o serviço da Embaixada era imediatamente reencaminhado.
A chamada que recebeu nessa manhã teve a resposta devida. O interlocutor perguntou quem, na Embaixada, o poderia informar sobre as datas de nascimento e morte do rei dom João I.
A funcionária não hesitou: "Nascimentos e falecimentos não é connosco. Isso são coisas consulares. Vou dar-lhe o telefone do Consulado-Geral". E deu...

O Valor Natural do Egoísmo

O egoísmo vale o que valer fisiologicamente quem o pratica: pode ser muito valioso, e pode carecer de valor e ser desprezível. E lícito submeter a exame todo o indivíduo para se determinar se representa a linha ascendente ou a linha descendente da vida. Quando se conclui a apreciação sobre este ponto possui-se também um cânone para medir o valor que tem o seu egoísmo. Se se encontra na linha ascendente, então o valor do seu egoísmo é efectivamente extraordinário, — e por amor à vida no seu conjunto, que com ele progride, é lícito que seja mesmo levada ao extremo a preocupação por conservar, por criar o seu optimum de condições vitais. O homem isolado, o «indivíduo», tal como o conceberam até hoje o povo e o filósofo, é, com efeito, um erro: nenhuma coisa existe por si, não é um átomo, um «elo da cadeia», não é algo simplesmente herdado do passado, — é sim a inteira e única linhagem do homem até chegar a ele mesmo... Se representa a evolução descendente, a decadência, a degeneração crónica, a doença (— as doenças são já, de um modo geral, sintoma da decadência, não causas desta), então o seu valor é fraco, e manda a mais elementar justiça que ele subtraia o menos possível aos bem constituídos. Ele não é mais do que o parasita destes...
Friedrich Nietzsche, in "Crepúsculo dos Deuses"

100 metros


 
dia 16, foi um grande dia para o atletismo mundial. E não só. O jamaicano Usain Bolt completou os 100 metros na fantástica marca de 9,58 segundos: 37,578 quilómetros por hora!
Um recorde histórico na cidade em que Jesse Owens irritou Hitler e no ano em que Obama é presidente dos Estados Unidos. Um excelente momento para o mundo!

Sunday Take: Obama Now Hearing Criticism From the Left on Health-Care Plan

Dan Balz
Through most of the summer, opposition to President Obama and his health-care initiative has come almost entirely from the right. In the past week, however, the president has been trying to tamp down a noisy uprising on the left.


Crescimento

 

Embora pontuadas por compreensíveis notas de prudência, as reacções em França às notícias de recuperação nos índices de crescimento foram, em geral, muito positivas e optimistas. Toda a imprensa saudou a "proeza" e não apareceram, até agora, "aves agoirentas" a desqualificar o ocorrido. Implicitamente, o resultado é visto como o saldo de um esforço nacional, colectivo, envolvendo sectores oficiais, empresariais e laborais.
Dado que o percentual de crescimento foi precisamente o mesmo em França e em Portugal, confesso que estou muito curioso em saber como serão as reacções no nosso país.

Webb Arrives in Burma for Talks With Junta

Colum Lynch and William Branigin
Sen. James Webb (D-Va.) arrived in Burma on Friday to meet with the country's senior officials, including Gen. Than Shwe, the reclusive leader of the ruling military junta.

 

Política Agrícola Comum


 
O antigo órgão oficial do Partido Comunista Francês, o L'Humanité, ataca a decisão das autoridades de Paris de obrigar os agricultores franceses a devolverem aos cofres comunitários ajudas indevidamente recebidas entre 1992 e 2002. Juridicamente, não há a menor sombra de dúvida de que estas ajudas falsearam a posição francesa no mercado comum europeu - como o próprio Governo francês não tem dificuldade em reconhecer e o Le Monde esclarece com serenidade.
O que não deixa de ser interessante é ver os comunistas franceses sublinharem o argumentário das associações de agricultores, que vêm agora lembrar outras ajudas que a Europa concedeu, aquando da entrada de Portugal e da Espanha nas então Comunidades Europeias. O "internacionalismo" já não é o que era...
Alguns agricultores franceses parece esquecerem três realidades.
A primeira é que as ajudas recebidas pelos novos aderentes foram a contrapartida natural da abertura desses países aos produtos e agentes económicos europeus - e também franceses -, muitos dos quais repatriaram tais ajudas em lucros e obtenção de quotas de mercado, nos produtos agrícolas, industriais e nos sectores de serviços.
A segunda é a de que um país como Portugal, pela estrutura da sua matriz agrícola e pelo modo como ela foi projectada na negociação da adesão, tem vindo a ser um "contribuinte líquido" da Política Agrícola Comum (PAC), isto é, paga percentualmente mais para o orçamento comunitário do que recebe através das respectivas ajudas no sector.
Finalmente, esses agricultores parece não se lembrarem que a França foi sempre, bem de longe, o maior beneficiário europeu da PAC, política desenhada ao sabor dos seus interesses, muito antes de Portugal ser sequer candidato à integração. E que essas vantagens vão manter-se até 2013, naquilo que foi o curioso acordo em Conselho Europeu que, em 2002, "congelou" mais de 40% do orçamento comunitário até essa data, bem antes de ter sido fixado o orçamento plurianual (2007/2013) da UE.
A posição do Governo francês nesta questão concreta tem sido de um impecável respeito pelas regras comunitárias. E é importante que, de futuro, tudo possa continuar a ser assim, para o que um país como Portugal necessita, mais do que nunca, de uma Comissão Europeia forte, independente e sem medo dos Estados membros. Quem não perceber isto não percebe a Europa.

Repórter do JN foi atropelado por motorista de Pinto da Costa

Vimos na televisão, como o repórter do JN foi atropelado por um carro que dizem ser do Sr. Pinto da Costa e conduzido por um seu motorista, tal como vimos um policia apitar e bater com a mão no tejadilho do carro, no acto do acontecimento! Tudo o resto que possam tentar desculpar é mentira!

“De Chaves a Copenhaga a saga de um Combate”

No passado dia 11 de Julho, pelas 15h30, no Auditório da BLCS, realizou-se uma sessão de apresentação do livro “De Chaves a Copenhaga a saga de um Combate”, tem a autoria partilhada de Gil Santos (pai) e Gil Filipe (filho), sendo que parte do livro tem um diário de guerra “facsimilado” do combatente António Pereira dos Santos (avô e bisavô) dos autores. Conta a história veridica de um prisioneiro de guerra portugues, durante a 1ª guerra mundial.
Sítio da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva - Braga

Les Paul (1915-2009)


 
Tive o privilégio de ainda poder ver, ao vivo, Les Paul, o guitarrista americano que agora desaparece, aos 94 anos. Foi numa noite, nos anos 90, nessa histórica "catedral" do jazz que é o Ronnie Scott's, em Londres. Era uma figura genial e foi um dos instrumentistas que deu à guitarra eléctrica uma grande dignidade.
Aqui fica a uma sua memória. Se puderem, ouçam os seus discos.

Mini-Bar


 
Os contabilistas estavam perplexos. A conta de "mini-bar" que o hotel tinha remetido ao Ministério, relativa ao convidado estrangeiro que lá alojáramos durante três dias, era espantosamente alta. Muito maior do que as despesas efectuadas no próprio bar do hotel. Que se teria passado? Teria o homem decidido encerrar-se no quarto e esvaziar todo o whisky, gin, cognac e outras bebidas, mandando recarregar o mini-bar algumas vezes mais?
Porém, quem lidara com ele, durante esses mesmos dias, não ficara com a menor impressão de se tratar de alguém afectado na sua sobriedade. O nosso hóspede era quadro superior de um país estrangeiro, de um Estado pobre e com grandes dificuldades. No passado, já tinha ocorrido o Ministério ter de suportar algumas despesas exageradas, feitas por alguns convidados de perfil idêntico, um pouco deslumbrados pela circunstância de todo o consumo que fizessem no hotel ser por nossa conta. Mas isso, à partida, continuava a não explicar a elevada despesa do mini-bar.
Foi tomada a decisão de pedir uma factura detalhada dos consumos feitos pelo cliente, durante todo o tempo da sua estada. A resposta veio e, com ela, a desarmante explicação: a rubrica "mini-bar", inserida na conta do hotel, nada tinha afinal a ver com o consumo de bebidas. Tinha a ver com o facto do nosso homem, no embalar final das suas bagagens, antes de sair do hotel, ter decidido levar consigo, seguramente bem embrulhado, o próprio pequeno móvel do mini-bar...

At Summit, Leaders Will Focus on Economy, Mexico's Drug Wars

Cheryl W. Thompson
GUADALAJARA, Mexico,President Obama arrived Sunday in Mexico's second-largest city for a two-day summit to discuss that country's ongoing drug wars and whether its strategy to eliminate trafficking and the violence associated with it is working.


Ibéria?

Pondo de parte a teoria conspirativa, alimentada por alguns, de que se trata de subtis balões de ensaio, confesso que frequentemente me interrogo sobre as motivações que poderão estar na origem do cíclico surgimento, entre nós, das teses iberistas. Benevolamente, atribuo-as à síndroma sazonal da "silly season", adubadas pelo esforçado internacionalismo de outros tantos, que se entretêm a brincar com a identidade nacional, em exercícios lúdicos de alguma irresponsabilidade.
O iberismo acabou por fundar-se, historicamente, no sentimento de finis patriae que nos adveio do declínio posterior à perda do Brasil, marcado pela dificuldade em gerirmos o nosso papel intraeuropeu, no ácido confronto cruzado de ambições coloniais, que nem o carácter de algumas alianças vetustas conseguiu disfarçar. Desde então, esse tropismo, derrotista e derrotado, tende a renascer sempre que surgem conjunturas que alguns identificam com a crise, não necessariamente do país, mas da ideia atormentada que dele alimentam. Tudo isto vale o que vale, mas devo confessar que começa a tornar-se irritante a sua reiterada emergência, com alguns inocentes úteis a dar-lhe foros de dignidade, por vezes mesmo com tentativas de teorização pseudo-intelectual.
Faço parte de uma geração educada "contra a Espanha", na magnificação do papel das batalhas que nos garantiram a independência, das figuras hagiografadas de recorte heróico quase caricatural, tudo se saldando na gestação de uma desconfiança atávica face aos "ventos" que sopravam de Madrid. Os livros de um Matoso anterior e de alguns outros "genéricos" da historiografia portuguesa defendiam essa espécie de doutrina patriótica incontornável, a que a própria diplomacia portuguesa não escapou. Esse culto quase paranóico da História, hiperbolizado ao ridículo pelo Estado Novo, gerou uma espécie de "inimigo nacional" obrigatório. Ainda hoje, alguns iluminados tendem por aí a esquecer uma meridiana realidade: quase nove séculos decantaram uma identidade portuguesa bem clara que, em todas as dimensões, se distingue hoje das "Espanhas" - de todas elas. E essa distinção já nada tem a ver com antagonismo.
A comum entrada de Portugal e Espanha nas instituições europeias fez com que se atenuasse, de um modo natural e num movimento de elementar racionalidade, essa doentia obsessão anti-espanhola, tornando natural o relacionamento dos dois Estados que coexistem na península. O modo como os temas de contencioso bilateral passaram a ser tratados, de que são exemplo os casos das pescas ou da gestão dos rios comuns, provou o carácter altamente benéfico da mútua convivência dentro do quadro formal europeu. Além disso, devo confessar que, para mim, foi uma verdadeira lição ver as novas gerações portuguesas começarem a entusiasmar-se com a "movida" madrilena ou desejosas de aproveitar a riqueza de vida das Ramblas de Barcelona.
A Espanha contemporânea, na sua diversidade e complexidade, é hoje uma realidade pujante, onde um sentimento colectivo de salutar orgulho fixou uma matriz que conseguiu federar autonomias e nacionalismos muito diferentes. É um país magnífico, com uma cultura interessantíssima, um povo optimista e que, em algumas décadas, deu ao mundo a lição de como foi possível desenvolver uma sólida democracia, uma sociedade de bem-estar e de franca modernidade, que conseguiu firmar-se sobre as memórias trágicas da Guerra Civil, as pulsões nacionalistas e as ameaças da barbárie terrorista.
A serena relação com a Espanha constituiu hoje um dos pilares importantes da nossa política externa. Com Madrid, encontramos, dia-após-dia, áreas para uma acrescida cooperação internacional em imensos domínios, definindo cada vez mais linhas comuns de trabalho em instâncias multilaterais. Como disse, há dias, o rei Juan Carlos, Portugal e Espanha são "duas nações antigas, vizinhas, amigas, sócias e aliadas".
Existe hoje em Portugal uma grande simpatia pelo seu vizinho espanhol. Para que isso continue a ser assim, necessário é que continuem a existir dois países, Portugal e Espanha, como soberanias orgulhosamente diversas. Alguns não pensam assim? Deixemo-los a falar sozinhos. Portugal está aí para durar, gostem ou não.
Uma versão reduzida deste texto é hoje publicada, como artigo de opinião, no Correio da Manhã.

República


 
Hoje, dia em que alguns blogues portugueses vão voltar a andar muito entretidos com o tema, apetece-me publicar esta bela alegoria sobre a Implantação da República.
A Embaixada de Portugal em Paris tem em preparação, para o ano de 2010, algumas iniciativas destinadas a comemorar o Centenário da nossa República - a segunda, depois da francesa, a ser instaurada num país europeu.

N. Korean Delegation Meets With President Lee in Seoul

Blaine Harden
TOKYO, A North Korean delegation met Sunday in Seoul with South Korean President Lee Myung-bak and delivered a personal call for improved ties from leader Kim Jong Il, the first high-level meeting between the countries in nearly two years.

Arctic Sea


 
Se há história que parece ainda muito mal contada é a saga do navio "Arctic Sea", que colocou toda a frota russa em polvorosa, a caminho do Atlântico. O que haverá lá dentro? Alguma vez saberemos?
E por que luas a Comissão Europeia (!) lançou a ideia de que o barco terá sido objecto de um assalto em plenas águas territoriais portuguesas? Será do calor?

High-Stakes Opening and Closing Roles for a U.S. General in Iraq

Ernesto Londoño
BAGHDAD - Brig. Gen. Heidi Brown made history during the 2003 invasion of Iraq as the first female commander to head an American combat brigade in wartime.

Fernando Namora



A internet tem destas coisas: encontram-se referências curiosas sobre temas inesperados. Hoje mesmo foi uma nota, num site belga, sobre a edição francesa dos "Retalhos da Vida de um Médico", de Fernando Namora, onde se pode ler:
"Un livre que je ne pensais pas trouver, car il n'a pas été réédité depuis 1955. Et quel bonheur de le trouver à la bibliothèque, bien relié, attendant ma visite. Avec son odeur de vieux livre qui ne se décrit pas. Son papier qui a jauni. Ses pages qu'on a trop peu tournées.
Dommage. Oui, dommage que ce livre ait été si peu lu. Car il y a dans ce récit, ou plutôt cette suite de récits, un ton, des images, des scènes, une époque. Un Portugal qui n'est pas encore révolu, dont les villages reculés hébergent encore des guérisseurs de tout genre, où la population gitane n'a jamais cessé de croître, où l'étranger - comme ce médecin venu du nord - n'est pas accepté d'emblée mais après avoir fait ses preuves, dix fois plutôt qu'une. Un Portugal de petites gens, de superstitions, de simplicité. Le Portugal des villages éparpillés dans la montagne, isolés. Un Portugal que l'auteur aime intensément, avec un respect profond pour les travailleurs de la terre.
Le Carnet d'un médecin de campagne est à découvrir, dans cette édition qui a certes vieilli mais qui n'en est pas moins intéressante, en attendant que quelqu'un pense à faire une nouvelle traduction de ce bijou afin de donner à celui-ci le rayonnement auquel il aurait droit, celui d'un « classique » de la littérature portugaise."
A velha obra de Fernando Namora é, de facto, o retrato de um Portugal de outro tempo, quando o escritor era médico em Monsanto, uma aldeia da Beira-Alta. Não deixa de ser interessante a ideia da sua reedição, mas parece-me de difícil concretização, atendendo àquilo que é o perfil de procura da literatura portuguesa na França de hoje.

France and Germany Climb Out of Recession

Anthony Faiola
Fresh signs of a nascent economic recovery came from hard-hit Europe on Thursday, with Germany and France unexpectedly becoming the first major industrialized nations to officially pull out of the global recession.


Sérgio Vieira de Mello

Francisco Seixas da Costa
"Você sabe, Francisco, só me aparecem desafios que não consigo recusar!" – foi a frase que retive da última conversa com Sérgio Vieira de Mello, quando lhe telefonei para Genebra a desejar sucesso para a sua nova missão em Bagdad. Ironizámos então com o facto de Paul Bremer, o primeiro "administrador" americano no Iraque, com quem Sérgio teria que se articular, ter coincidido comigo em posto diplomático na Noruega, nos idos de 70: prontifiquei-me para "meter uma cunha", se ele precisasse…
Só conheci pessoalmente Vieira de Mello em Setembro de 1999, quando o protocolo nos sentou lado-a-lado, num almoço em Nova Iorque. Acabara, há pouco, a sua missão nos Balcãs e entre nós passou, de imediato, uma corrente de empatia luso-brasileira, logo cimentada pelo mútuo culto do humor. Recordo-me de termos falado da possibilidade de ele chefiar a nova missão da ONU em Timor, ainda semanas antes de Kofi Annan lhe propor o lugar. Eu não tinha a pretensão de estar a ser presciente: limitava-me a ecoar o nome prestigiado que circulava já por alguns corredores, afirmando-lhe a certeza antecipada de que o Governo português o acolheria com muito agrado. Na altura, Sérgio retorquiu-me, com o seu sorriso confiante, que não, que "ia precisar de algum tempo para descansar". Felizmente, isso acabou por não acontecer.
Sérgio Vieira de Mello fez em Timor um trabalho notável, como várias vezes tive ocasião de referir, em nome de Portugal, em intervenções no Conselho de Segurança da ONU. E – confesso – fi-lo com uma sinceridade que nem sempre é regra nos discursos oficiais. Com ele combinei, nas derradeiras fases do processo pré-independência, o tom comum das nossas intervenções em Nova Iorque, por forma a garantir o apoio que o secretário-geral da ONU e o Governo português entendiam necessário que fosse dado aos timorenses pela comunidade internacional, nos difíceis anos que se seguiriam. Recordo também os pedidos que fez, por meu intermédio, para que Portugal "deixasse cair", a nível adequado, palavras de acalmia e bom-senso junto de responsáveis políticos de Timor, a fim de atenuar alguns litígios menores, mas que ameaçavam a estabilidade do processo interno.
Em Novembro de 2002, convidei Sérgio Vieira de Mello para ir a Viena, falar ao Conselho Permanente da OSCE, já na sua qualidade de Alto-Comissário da ONU para os Direitos Humanos. Foi uma sessão memorável, que gerou um debate interessantíssimo, em que o à-vontade diplomático de Sérgio sublinhou o seu profundo conhecimento da situação internacional. Mas que também revelou a firmeza das suas convicções. No almoço em minha casa que se seguiu, e perante uma observação mais tensa avançada pelo meu colega americano, não deixou de lhe recordar que os prisioneiros de Guantanamo "não vivem na Lua" e que, também a eles, se deviam aplicar, em pleno, "todos os Direitos Humanos devidos aos cidadãos da Terra".
Foi há precisamente seis anos, no dia 19 de Agosto de 2003, que Sérgio Vieira de Melo morreu, de forma violenta, em Bagdad.(Este texto reproduz grande parte de um outro que inseri no meu livro "Uma Segunda Opinião")

Iraqi Shiite Parties Form Coalition Without Maliki

Ernesto Londoño
SAMARRA, Iraq- Iraq's major Shiite parties announced a new coalition Monday that excludes Prime Minister Nouri al-Maliki, a development that probably will force the prime minister to join forces with non-traditional allies if he seeks to keep his job after parliamentary elections in Ja...

Selecções do Reader's Digest


 
A "Reader's Digest" anunciou ontem falência nos Estados Unidos. Ao ver a notícia, fui invadido por uma leve nostalgia.
Aproveito para deixar claro que as memórias que, por vezes, trago para este blogue não representam, necessariamente, qualquer saudade de outros tempos. Com escassas excepções, o presente é bem melhor do que tudo o que ficou do lado de lá da esquina da História, por mais graça que esse tempo tenha então tido, por mais complexa que a vida de hoje seja. Pelo menos, eu penso assim, com sinceridade.
A "Reader's Digest" lembra-me as suas "Selecções" (ou melhor, as "Seleções"). Cresci com elas sempre lá por casa, na sua versão brasileira, espreitando "pin-ups" que a publicidade caseira não comportava ainda nos seus cânones, com propaganda a frigoríficos e automóveis que não havia em Portugal. E tinha sempre, pelas suas páginas de textura sedosa, donas-de-casa loiras e de "permanente", tipo Doris Day, com camisas aos folhos e saias compridas rodadas, ao lado de cavalheiros invariavelmente elegantes, tipo Cary Grant, quase sempre de fato e chapéu ou naquilo que os brasileiros designam por "esporte fino", ao lado de crianças sorridentes e felizes nas suas bicicletas e bonecas (nunca houve muitas bolas por lá), sempre à porta de moradias com relva a descer para as alamedas dos bairros. Sorridentes e sempre brancos, claro. Era a América oficial que exportava a imagem do "way of life" de alguns.
Fui leitor assíduo de rubricas como "Meu tipo inesquecível", "Flagrantes da vida real", "Rir é o melhor remédio", "Piadas de caserna" ou o "Enriqueça o seu vocabulário" - onde, pela primeira vez, devo ter pensado nas vantagens do Acordo Ortográfico. Nunca li, e nunca me arrependi, nenhuma das suas irritantes sínteses de romances, mas algumas vezes fui à procura do volume completo. Devo também às "Selecções" a minha hipocondria, pela reiterada inclusão de artigos sobre doenças, cuja sintomatologia tantas vezes partilhei. Já não cheguei à fase das peças sobre dietas... logo quando mais delas necessitava!
Só tarde me apercebi, ou me fizeram aperceber, da existência, em cada número das "Selecções", de três ou quatro artigos onde, com maior ou menor subtileza, se fazia a apologia de ideologias convenientes aos interesses americanos. Mas, na verdade, que importava isso, no tempo cinzento do salazarismo? Claro que as "Selecções" diziam mal dos comunistas, mas com bem mais sofisticação do que o "Diário da Manhã", o "Novidades" ou o "Diário de Notícias". E também lembravam, numero-sim-número não, belos episódios das glórias aliadas na 2ª Guerra Mundial.
Um dia, as "Selecções" aportuguesaram-se e, pouco a pouco, foram desaparecendo do nosso horizonte de leitura, concorrendo com outras publicações mais apelativas. Às vezes, antes de entrar num comboio, ainda comprava as "Selecções", mais por curiosidade do que por interesse. A "Reader's Digest" passou então a ser mais famosa por livros e discos que editava e que uma inventada "Marta Neves" nos propunha, em regular e personalizada epistolografia - alguns, aliás, de grande qualidade.
Há anos que já não lia as "Selecções". Minto: há poucas semanas, numa casa de campo nortenha, encontrei exemplares das edições brasileiras, dos anos 40 e 50 do século passado, alguns já sem capa, e, confesso, diverti-me bem com algumas historietas, bem de um outro tempo. Será isto nostalgia?