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segunda-feira, 18 de novembro de 2013

A vitória da Irlanda é uma vitória da Europa da austeridade?

Domingos Amaral

 

A Irlanda anunciou ontem que não irá necessitar de um programa cautelar, e que vai regressar aos mercados sozinha, sem a assistência da Europa.

É evidente que, à superfície, esta é uma vitória da Europa da austeridade, das troikas e dos ajustamentos.

É evidente também que esta é uma vitória da própria Irlanda, cujo governo conseguiu trabalhar bem e recuperar a credibilidade perdida com as graves crises bancárias irlandesas, a partir de 2008.

Mas, antes da Europa entrar em euforia e triunfalismo, declarando que o seu modelo de resolução destas crises foi o correto, é preciso perceber que o problema irlandês era, e é, muito diferente dos outros.

Na Irlanda, não havia um Estado com desequilíbrios orçamentais, nem a dívida pública era demasiado elevada, em 2009.

O que se passou na Irlanda foi a mais grave crise bancária dos últimos 50 anos num país europeu.

Os bancos irlandeses enlouqueceram, entre 2001 e 2009, e cresceram em demasia, ganhando uma dimensão brutal, superior à economia do próprio país.

Quando a crise de 2008 explodiu, a banca irlandesa explodiu também, caindo com estrondo.

Para evitar uma corrida aos bancos, que era eminente, o Estado irlandês foi obrigado a engolir os bancos privados do país, nacionalizando-os, ou assumindo as suas colossais dívidas.

De um ano para o outro, a dívida do Estado multiplicou-se, não porque o Estado gastasse demais, mas porque teve de absorver a dívida dos bancos.

A credibilidade do Estado irlandês nunca esteve em causa, e a austeridade só foi necessária para tranquilizar os investidores.

Se o BCE tivesse anunciado mais cedo o seu programa de compras de dívida pública, que só existiu a partir de Setembro de 2012, a Irlanda provavelmente nem sequer tinha de ser "resgatada".

No entanto, desenganem-se os que pensam que o regresso aos mercados resolve os graves problemas da Irlanda, porque não resolve.

A dívida privada, na Irlanda, é colossal, seja ela de pessoas, de empresas, pequenas ou grandes, ou de bancos.

Como têm o orçamento do Estado equilibrado, se não contarmos com as dívidas dos bancos, a Irlanda tem mais margem para emitir dívida, mas a sua economia continua atolada em sarilhos.

Ninguém sabe ainda como resolver o problema das colossais dívidas da Irlanda, mas pelos vistos eles vão resolver como sempre se resolveu, com mais dívida.

Voltar aos mercados, no caso da Irlanda, é isso: pagar dívidas com mais dívidas, rolar a dívida para a frente e esperar que o futuro resolva o que o presente não consegue resolver.

Veremos quanto tempo dura este equilíbrio instável de mais um país europeu.

Não nos iludamos, o monstro da dívida continua lá, bem vivo, e pode explodir a qualquer momento. 


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