Francisco Seixas da Costa
A mais recente crise governativa ter-se-á resolvido ontem. Os dois partidos, no sábado, apresentaram ao presidente da República um novo arranjo bilateral, com incidência na composição do executivo, que, com toda a verosimilhança, corresponde ás exigências do chefe de Estado. Desde há dias, não se tem ouvido outra coisa: é preciso andar rápido, é necessário aquietar os mercados, evitar que, na abertura das bolsas, os "spreads" da dívida pública se agravem. Sendo assim, agora que a "solução" está encontrada, parece que seria importante passá-la à inquieta opinião pública internacional. Ora, perante tudo isso, o que vemos? O presidente da República recebe, na 2a feira, os partidos. E, só depois disso, em data a anunciar, dá posse ao recauchutado executivo. Estive a ler a Constituição. Nada na lei obriga, nem qualquer prática consuetudinária aponta nesse sentido, que as forças partidárias tenham, num contexto como este, de ser ouvidas pelo Presidente. Mas, mesmo que assim fosse entendido por desejável, não podia isso ser feito neste domingo? Os dirigentes do PCP estão, porventura, (ainda) a banhos em Sochi? Os Verdes foram arejar para o Meco? O Bloco foi de farnel para a Cova do Vapor? O PS está a trabalhar para o bronze na praia das Maçãs? O senhor Presidente rumou aos Algarves? Parece que sim, dá ideia que entraram todos de "fim-de-semana inglesa". Então, sendo tudo atrasado, o que veremos nos telejornais da semana que aí vem? O CDS e o PSD irão a Belém, com as habituais figuras de segunda linha, para ganharem os tempos televisivos de antena, onde dirão as "rassurantes" banalidades do costume? E será mesmo essencial dar uma enésima oportunidade aos partidos da oposição, antes da sua saída para o Pátio dos Bichos, para reclamarem eleições antecipadas? Pronto! Já se sabe que as querem mas que o presidente não lhes faz a vontade. E se passássemos à frente e perguntássemos ao "novo" governo o que nos traz agora de diferente daquilo que, na semana passada, não nos podia apresentar?
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