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sábado, 12 de dezembro de 2009
Não se corrigindo os erros, Portugal vai perder competitividade - debatemos o TGV e a Alta Velocidade
No início de Novembro de 2009, o novo Governo apresentou o seu programa no Parlamento. Iremos analisar alguns pontos sobre transportes, assunto que se inicia na página 22 do referido documento. Sobre o Portugal Logístico é dito concluir a ambiciosa rede de plataformas logísticas concebida e lançada pelo XVII Governo Constitucional; ii) promover a localização das actividades produtivas junto das infra-estruturas do Portugal Logístico, como forma de valorização, e ordenamento do território; iii) criar a Janela Única Logística, na lógica de modernização e simplificação de procedimentos da Janela Única Portuária, derrubando as barreiras existentes entre os portos e os seus stakeholders". No sector aeroportuário, o Governo pretende avançar com a construção do novo aeroporto de Lisboa, além de melhorar as infra-estruturas existentes. Relativamente à ferrovia pretende-se "Afirmar o transporte ferroviário como o transporte terrestre de excelência, mais rápido, mais cómodo e mais seguro, aumentando a sua quota de mercado em 20% para o segmento das mercadorias e em 10% para os passageiros". Mais adiante é dito "Concretizar a Rede Ferroviária de Alta Velocidade, ligando Portugal à Europa e dando coesão ao eixo económico Corunha?Setúbal, concretizando as linhas Porto-Vigo e Lisboa-Madrid até 2013 e a linha Lisboa-Porto até 2015. No sector rodoviário ?Prosseguir a concretização do Plano Rodoviário Nacional e concluir a rede de auto-estradas, nomeadamente das ligações a Bragança, entre Coimbra e Viseu e entre Sines e Beja;" PRIORIDADES A DEFINIR A fonte de energia com maior peso nas importações nacionais é o petróleo e o sector de actividade com maior consumo é o dos transportes, devido ao modo rodoviário. A maior prioridade do investimento das obras públicas deveria ser dirigida para a futura rede ferroviária de bitola (distância entre carris) europeia de passageiros e mercadorias, para permitir o transporte de contentores de e para a U.E. e para o modo marítimo, porque são os que consomem menor energia. Infelizmente, o Governo pretende investir milhares de milhões de euros, em mais auto-estradas e num novo aeroporto de Lisboa, estando o actual muito longe da saturação e, mais grave, quando a TAP está numa situação económica muito débil devido aos elevados prejuízos do ano de 2008. Evidentemente que a prioridade, nos próximos tempos, passa por reestruturar a TAP, de modo a que esta empresa possa competir no mercado internacional. Caso contrário, Portugal arrisca-se a gastar milhares de milhões de euros numa nova infra-estrutura aeroportuária, que depois não teria utilização por parte da companhia aérea nacional de aviação. Dadas as limitações económicas do nosso País, os investimentos nas auto-estradas e novo aeroporto, deveriam ser adiados de modo a permitir a aposta na ferrovia. No modo ferroviário, o Governo vai cometer um grave erro estratégico, pois, pretende apostar no transporte de mercadorias, em bitola ibérica, o que vai impedir a livre circulação de contentores de e para a U.E. obrigando a transbordos que farão disparar o custo de transporte, por contentor, devido à diferença de bitola com a rede europeia. Convém lembrar que a nova linha Lisboa-Porto, em bitola europeia, é exclusiva para passageiros e os portos só se ligam à actual rede de bitola ibérica. Estas propostas podem ser confirmadas nos projectos da RAVE, empresa que estuda a nova rede ferroviária. Tais decisões vão ter graves consequências económicas, que poderão ser visualizadas através de um facto que se verificou recentemente e que exemplificaremos a seguir. CONSEQUÊNCIAS DA PERDA DE COMPETITIVIDADE Quando as bombas de gasolina portuguesas passaram a cobrar preços muito mais caros que as espanholas, 25 a 35 cêntimos por litro, ocorreu o seguinte fenómeno num raio de 60 Km desde a fronteira: as bombas de gasolina portuguesas perderam grande parte dos clientes e a maioria teve que fechar e o pessoal foi despedido. No lado espanhol, houve um grande aumento de clientes portugueses, incrementando as vendas de combustíveis. Uma empresa portuguesa, a Galp, até investiu e comprou bombas de gasolina em Espanha, donde resultaram prejuízos substanciais para Portugal, devido á perda de competitividade, com as seguintes consequências: 1. Perda de receitas fiscais para o Estado português, em milhões de euros. 2. Desemprego no território nacional, junto à fronteira. 3. Importação de combustíveis vindos de Espanha. 4. Investimento de empresas portuguesas, no país vizinho, para explorar o negócio dos combustíveis. O que ocorreu com o negócio dos combustíveis, como já foi referido, verificou-se, sobretudo num raio de 60 Km da fronteira. Relativamente ao transporte de contentores de e para a U.E. a situação será ainda muito mais grave porque todo o território nacional vai ser afectado se, em Portugal, não existir nenhuma linha de bitola europeia que permita a livre circulação de contentores. Será o isolamento ferroviário O nosso país ficará dependente do transbordo de contentores, que é uma operação que faz disparar os custos e onde se perde uma hora ou mais, por comboio. A nossa economia ficará menos competitiva e os nossos portos também, porque serão preteridos relativamente aos portos espanhóis. Muitas empresas até poderão sair do País de modo a reduzirem os custos do transporte. Rui Rodrigues-Maquinistas.org
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