sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Os nomes e lugares

Francisco Seixas da Costa

 

Vi que saíram da cena da vida Silvino Silvério Marques e Vasco Lourinho. Quem, com menos de 30 anos, sabe quem foi o general efemeramente reciclado pelo 25 de abril ou o correspondente madrileno da RTP com o mais "portuñolez" dos sotaques? Quem, neste presente muito vertiginoso, tem tempo para um passado cuja evocação deve soar a uma espécie de "name-dropping" nostálgico?

Cruzei esta dúvida com a experiência, que há dias aqui contei, de uma conversa com jovens interessados em falar sobre o património de convívio que se esvai, com os lugares desse outro tempo e das pessoas que ajudaram a fazer-lhes o nome. Fiquei então muito agradado e surpreendido com o facto de terem sido eles a promover uma iniciativa deste género, de procurarem "agarrar" o passado, talvez por entenderem que ele é parte importante da sua própria identidade.

 

Nessa conversa, e à medida que falava, ia-me dando conta de que, porventura, podiam ter para eles escasso significado nomes de figuras que eu ainda vi pela "Smarta", de escritores que identificava na "Paulistana" ou no "Monte Branco", da importância de quantod assentavam pelo "Vává" 0 renascimento do cinema português. Arrisquei falar de gente interessante que cruzei na "Granfina", de algumas conspirações leves a que assisti, em fins de tarde, no "Montecarlo", dos "internacional situacionistas" que por lá surgiam, dos "situacionistas" do regime (e dos sportinguistas, o que, ao tempo, era bastante o mesmo) que andavam pelas mesas de canto do "Aviz" ou, um pouco mais acima, de alguma intelectualidade, esquerdalha e jornalística, que passava pela "Ribadouro" ou pelo "Café Lisboa". Mas também de figuras que vi ou conheci por noites do "Botequim", do "Bolero", do "British Bar", da "Alga" ou do "Alfredo". E de quem parava, às tardes, pelas livrarias, que antes eram lugar de animada tertúlia - lembrando, no que me toca, especialmente a "Opinião", com pessoal saído das redações do Bairro Alto.

 

Alguns perguntarão: mas que importância tem isso hoje, ou, como em tempos se dizia cinicamente, "em que é que isso contribui para a minha felicidade?" 

 

Ora bem, eu também não andei com o Bocage no "Nicola", nunca encontrei o Eça na "Havaneza", nunca vi o Pessoa no "Martinho da Arcada", não cruzei as gerações históricas da arte na "Brasileira", já não topei surrealistas no "Gelo", não estava no "Chave d'Ouro" quando o Delgado anunciou o decreto de demissão de Salazar. E, no entanto, sei bem quem eram, por onde paravam, o que uns fizeram, o que outros escreviam, conheço histórias que os uniam ou separavam. Um país é isso tudo. É também o que fica para trás. E que nos compete ajudar a transmitir. Dar razões às novas gerações para se interessarem pelo que já lá vai é uma tarefa que ainda vale a pena. Acho eu!


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