No estado de Minas Gerais há uma pacata cidade rural abandonada pelos homens. As mulheres, organizaram-se em comunidade e dão no duro para ganhar a vida com uma agricultura próspera. A imprensa internacional fez circular a notícia de que andavam à procura de noivos e o sossego acabou.
Há menos de duas semanas poucos estrangeiros teriam ouvido falar de Noiva do Cordeiro. E brasileiros também não seriam muitos os que sabiam da existência desta pequena e pacata cidade de Minas Gerais, onde praticamente só vivem mulheres.
Os homens partiram em busca de trabalho, embora alguns regressem ao fim-de-semana para descansar e ver a família.
A vidinha era simples e o sossego grande até 27 de agosto último, dia em que o jornal britânico "The Telegraph" publicou um artigo assinado por Donna Bowater e Matt Roper, intitulado "Residentes de Noiva do Cordeiro, quase todas mulheres, procuram solteiros". A frase mulheres procuram homens solteiros teve um efeito viral e muitos títulos da imprensa internacional, do "Huffington Post" ao "Daily Mail", passando por jornais turcos, replicaram a notícia do "The Telegraph.
De acordo com o jornal britânico, trata-se de uma "pequena cidade rural escondida nas colinas, povoada por belas mulheres que estão à procura de amor". Há 600 mulheres que foram "deixadas a arcar com os encargos da cidade sozinhas. A situação tem levado algumas destas mulheres, conhecidas em todo o Brasil pela sua beleza, a fazer um apelo para encontrar homens solteiros".
Os repórteres do "The Telegraph" escrevem que algumas das mulheres lhes disseram que não beijaram "um homem por longo tempo" e que têm o "sonho de se apaixonar e casar. Mas gostamos de viver aqui e não queremos sair da cidade para encontrar um marido", que esteja disposto a "concordar em fazer o que dizemos e viver de acordo com as nossas regras".
População não gostou do retrato que circulou pelo mundo
O Expresso tentou contactar duas mulheres de Noiva do Cordeiro, uma delas Rosalee Fernandes, 49 anos, que conversou conversou com a BBC Brasil. Esta "moradora no local desde a infância, é uma das "entrevistadas" que aparecem em jornais como os britânicos Daily Mail e o Metro, e em websites como o Huffington Post", escreve o correspondente da BBC em São Paulo, Ricardo Senra
"Não dei entrevista" nenhuma diz Rosalee citada pela BBC: "Colocar a gente nessa situação é um absurdo." Outros três moradores do "povoado garantiram que as reportagens publicadas no exterior não têm fundamento. A população de Noiva do Cordeiro, segundo eles, não é composta por 600 solteiras, mas por aproximadamente 300 pessoas, homens e mulheres, em proporção similar".
Nenhuma das reportagens falou da "criação de gado ou da produção artesanal de roupas pela cooperativa local", mas proliferaram as notícias em jornais britânicos, além de veículos turcos, tailandeses, americanos, italianos e indianos, de que as mulheres locais tinham criado uma campanha para "atrair homens e reverter a escassez masculina na região".
"Um dos jornalistas internacionais por trás das reportagens insistiu no Twitter que seu texto foi baseado em uma entrevista feita por ele em pessoa", escreve a BBC Brasil.
Internet "aqui é do governo e caiu"
O "Globo.com" também relata os desabafos de Rosalee Fernandes: "a internet aqui é do governo e caiu há uns dias. A gente está sem acesso a nada e não faz ideia do que está saindo sobre nós", disse a representante de Noiva do Cordeiro, acrescentando que em pelo menos uma das reportagens publicadas na imprensa estrangeira "foram usadas fotos que mostram as mulheres em poses e trajes provocantes. As fotos foram tiradas numa festa de fantasia e publicadas na página da associação local no Facebook".
Na terra vivem "pessoas de origem humilde, na maioria sem ensino médio completo, que se organizam na cooperativa,onde tudo é decidido coletivamente", escreve o "Globo.com": "diariamente, trabalham na lavoura ou na produção de peças de artesanato, como tapetes, colchas e lingeries, e produtos rurais, derivados do leite e da pecuária. Na ausência de homens nos dias úteis, a associação local foi o caminho encontrado pelas mulheres para se ajudarem mutuamente e enfrentar o preconceito dos vilarejos do entorno. que, no passado, moradores das cidades vizinhas chegaram a taxar as moradoras como prostitutas - pelo simples fato de estarem desacompanhadas".
A verdade é que página do facebook da comunidade de Noiva do Cordeiro não mostra mulheres desesperadas à procura de um homem, mesmo que este esteja disposto a ser um marido de sonhos que satisfaça as vontades e capricho da sua esposa. E ao que parece, "elas dizem ter conseguido complementar a renda familiar por meio do trabalho coletivo", acrescenta o "Gobo.com".
De futuro, talvez tenham de prestar mais atenção às fotos tiradas nas festas de "fantasia" que publicam no Facebook...
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