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quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

O perdão e o parvo fiscal

Já aqui disse várias vezes que sou crente. Calculam, pois, que nada tenho contra o conceito de perdão, pelo contrário só posso ter a favor. Nas Escrituras, que são os alicerces da nossa civilização, quando Pedro pergunta a Jesus quantas vezes deve perdoar quando pecarem contra ele, acrescenta: "Até sete vezes?". Ao que Jesus lhe responde: "Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete" (Mt 18:21)
Ora o nosso querido e bem-amado Governo, certamente eivado do melhor espírito cristão, natalício, pascal e outros, decidiu-se por um perdão fiscal que lhe rendeu 1,2 mil milhões. 80%, diz-se, acima da expectativa. Ora aqui me descubro eu como pecador! Não aproveitei o perdão fiscal, porque não tenho dívidas. Sou daqueles que mal vê uma coisa das Finanças para pagar, barafusta, maldiz a vida, o Governo, os impostos, o que for... mas paga! E nada tendo atrasado, nada tenho a ser perdoado.
Ao contrário, leio no Expresso que o Benfica e o FC Porto, esses clubes que não têm dinheiro para pagar mais do que uns milhões a cada jogador, aderiram ambos ao Regime Extraordinário de Regulação das Dívidas Fiscais. O Benfica calcula que poupou 1,5 milhões e o FC Porto cinco milhões.
Tal como estes dois clubes de topo, várias entidades e personalidades devem ter aproveitado este perdão depois de terem aproveitado uns sete (ou setenta vezes sete) perdões anteriores. E eu nada! Nada de nada! E estou convencido que a maioria daqueles que me leem está como eu: nada!
Considero-me, pois, um parvo fiscal. Devia ter acumulado umas dívidas para agora, sendo perdoado, fazer a alegria do Governo. Pois como diz São Lucas acerca do céu, deve haver mais alegria no Governo por um devedor que aproveita o perdão do que por 99 justos que pagam os impostos a horas.
Só há aqui uma pequena diferença... Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo, a Igreja e os seus dignitários prometem bem-aventuranças aos justos e penas aos pecadores, ao passo que o nosso Governo não recompensa os cumpridores. Consegue, deste modo, ser injusto mais do que uma vez (se calhar mais de sete ou de setenta vezes sete).
Parvo fiscal já me considero. E apavora-me isto ser uma questão de feitio. Ou seja, eu acredito mesmo que quando eles mandam a carta para se pagar, aquilo é para levar a sério. Mas, afinal, não é. É para deixar andar. É para ser de acordo com o velho provérbio tuga: "pagar e morrer, quanto mais tarde melhor".
Não sei se conseguirei, mas tenho a firme intenção de deixar o próximo postal das Finanças à espera do próximo perdão.
Twitter:@HenriquMonteiro              https://twitter.com/HenriquMonteiro  


Ler mais: http://expresso.sapo.pt/o-perdao-e-o-parvo-fiscal=f848839#ixzz2pvCCXs8Q

O perdão e o parvo fiscal - Expresso.pt

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