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segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Viva o país das auto-estradas sem carros!

Domingos Amaral

 

Portugal é, sem dúvida, um país maravilhoso!

Passámos duas décadas a construir auto-estradas furiosamente, enchendo o país de belas vias e em 2013 o que é se verifica?

Segundo as Estradas de Portugal, o tráfego nas auto-estradas nacionais está 60% abaixo das previsões que foram feitas na época da construção.*

E se formos ver no casos concretos, há situações de levar as mãos à cabeça.

Vejam-se por exemplo as concessões no Norte. A previsão de tráfego era de 24.160 veículos por dia, mas na realidade em 2012 só passaram nessas vias 8.079 veículos, em média diária!

No Grande Porto, previam-se na época de construção cerca de 51.822 veículos por dia, em média; mas na verdade em 2012 só passaram nessas estradas uma média diária de 19.336 veículos!

Na Costa de Prata, a situação era semelhante: previam-se 46.186 por dia, passam por lá 19.988!

Para as concessionárias das Beiras Litoral e Alta, as previsões eram mais modestas, 13.646 veículos por dia. Mas a realidade também é cruel, apenas usam as estradas 9.172 veículos!

E quanto ao Algarve? A previsão apontava para uma média diária de 17.599 veículos, mas na realidade só lá circulam por dia uma média de 8.106!

Segue-se o Norte Litoral, onde a quebra foi um pouco menor. Previam-se 26.008 por dia, circulam 20.351 em média.

Já no Interior Norte, nas auto-estradas era previsto um tráfego de 9.320 veículos, mas os números só chegam aos 4.311, o que é mesmo muito baixo!

Por fim, ainda pior, é a Beira Interior. Previsão de 17.033, realidade de 6.197 veículos em média diária.

 

O que é que devemos concluir daqui?

Quando nos finais dos anos 90 e no princípio deste século se fizeram os cálculos, os números foram inflacionados para justificar a construção das auto-estradas! Todos os governos as quiseram, e todos as construíram!

Na verdade, o que hoje se conclui é que a maior parte delas são um luxo caríssimo e pouco justificável.

Mal começou a crise, os números do tráfego caíram a pique e a maior parte destas concessões não se paga a si própria!

É por estas e por outras que estamos onde estamos.

Somos um país de novos ricos, onde uma aliança entre políticos e grandes construtoras conseguiu impor a sua lei, e nos deixou como herança uma bela paisagem, carregada de belas auto-estradas onde quase não há carros! 

 

* Os números usados são da Estradas de Portugal e foram publicados no Jornal de Negócios a 29 de Novembro. 


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