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quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

O meu fado

Francisco Seixas da Costa

 

Faço uma declaração prévia de interesses: gosto muito de fado. Mas não de todo o fado. Abomino o fado-canção, não aprecio demasiado o fado com orquestras por detrás, há algumas vozes que por aí andam (alguns há muito) como as quais "não vou à bola". E - expondo-me agora às balas - também afirmo que não partilho o culto do Marceneiro. Mas gosto, e muito, do Manuel de Almeida, da Argentina Santos, da Fernanda Maria, do Carlos Ramos, da Maria Teresa de Noronha, do Fernando Maurício, da Ada de Castro, da Celeste Rodrigues, da Lucília do Carmo e de muitos outros clássicos. E, claro, da Amália, "cela va sans dire".

 

Em França, quando por lá vivi por quatro anos, ouvi imenso fado, porque a nossa comunidade emigrada é apreciadora de bom fado. Em Paris, cruzei-me com excelentes fadistas. Desde que regressei a Portugal, devo dizer que vivo entusiasmado com o "renascimento" do fado a que estou a assistir. Cada vez há mais gente nova a cantar e a ouvir muito bom fado. Primeiro, foi a geração que João Braga apadrinhou, de onde surgiram algumas vozes magníficas. Conviviam então com um "novo" fado tipo "avenidas novas" ou "da linha" que, felizmente, desapareceu no gosto de um público que começa "a saber da poda". Agora há para aí gente de grande qualidade, onde Ricardo Ribeiro e Carminho surgem com imensa força, a provar que a qualidade de grandes vultos, como Camané ou Mariza, tem continuadores assegurados. Acho fantástica Aldina Duarte. E Ana Moura. E Cristina Branco, quando decide cantar fados. E Joana Amendoeira. Acho bastante graça a Marco Rodrigues, ando a tentar gostar de António Zambujo e de Cuca Roseta. E ouço com muito agrado Kátia Guerreiro. E, claro, Gisela João!

 

Ontem à noite, fui apreciar o espetáculo de Carlos do Carmo no CCB, depois de já ter ouvido o seu CD de duetos. Uma oportunidade para revisitar uma figura a quem a projeção do fado muito deve e que, com Amália, foi responsável por colocar excelentes poetas na boca do fado bem cantado. Carlos do Carmo aproveitou para saudar nessa noite dois grandes instrumentistas: o viola José Maria Nóbrega, que o acompanhou durante 45 anos, e o jovem José Manuel Neto, um guitarrista que agora o acompanha, que é simplesmente genial.

 

O bom fado está aí para ficar. Vão aos fados, caramba!


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