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segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Argel antes de abril

Francisco Seixas da Costa

 

"Amigos, companheiros e camaradas, esta é a Rádio Voz da Liberdade". Era assim que, duas vezes por semana, antecedido de um coro das "canções heróicas" de Fernando Lopes Graça, nos chegava pela noite a emissão da rádio que, de Argel, divulgava a mensagem da Frente Patriótica de Libertação Nacional (FPLN). O endereço que nos era oferecido para correspondência ("rue Auber, 13, Alger, Argélia") era então uma referência forte da luta exterior contra a ditadura.

Para o jovem estudante de liceu que eu era, nesses anos 60, com o ouvido colado à rádio para não despertar ouvidos hostis nos silêncios da madrugada de Vila Real, posso imaginar a curiosidade sobre quem seriam as vozes que, num tom épico, "conclamavam" as "massas populares" para, no dia seguinte, "saírem à rua" e derrubarem a ditadura - o que a dura realidade desse dia seguinte sempre teimava em desmentir. A mais marcante dessas vozes era Manuel Alegre - de quem, à época, creio que não conhecia sequer o nome.

 

Ontem, em Argel, passei por lá, pela "rue Auber", que agora se chama Mohamed Chabani, situada na zona antiga de uma cidade onde, a cada canto, surgem edifícios belíssimos de uma arquitetura colonial francesa onde se pode presumir uma vida urbana excecional. As coisas mudaram bastante, como a fotografia do estado do "nº 13" bem o demonstra.

 

Por uma curiosidade que sempre tive por esse tempo argelino da nossa vida política - Argel foi o mais importante centro da Oposição à ditadura, seguido de Paris, do Rio e S. Paulo e de Moscovo - fui ver também o (que deve ter sido o) imponente edifício em cujo 5º andar a presidência argelina instalou o general Humberto Delgado, depois da sua chegada, em 27 de junho de 1964. É o 118 do boulevard Salah Bouakouir, sede da Junta Revolucionária Portuguesa, de que também deixo uma foto.


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