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sexta-feira, 13 de setembro de 2013

O estado da União: “Barroso não convenceu”

 

Nas colunas do jornal Le Soir, o editorialista Maroun Labaki reconhece que o discurso sobre o estado da União "representa um grande momento do ano europeu. É a ocasião de relativizar, de falar em nome da História. Operação pública, operação de comunicação: José Manuel Durão Barroso já mostrou no passado ter todas as competências necessárias para isso". No entanto, desta vez, o diário belga não ficou convencido:

Em Estrasburgo, José Manuel Durão Barroso falhou completamente o seu discurso. Era mais um dos seus discursos habituais – e são muitos… A oito meses das eleições europeias, a rotina não pode representar uma resposta ao desespero de muitos europeus, e à deterioração crescente da perspetiva que têm da Europa. […] Este é talvez o princípio do fim do projeto europeu. Uma perspetiva arrepiante… Mas assistimos ontem ao princípio do fim de José Manuel Durão Barroso.

Ainda mais revoltado, Cerstin Gammelin no Süddeutsche Zeitung de Munique critica tanto a forma do discurso do presidente da Comissão como a sua "herança deplorável":

Defendeu os sucessos da Comissão como se estivesse a ler a lista das compras. Barroso, que nos habituou a discursos mais vigorosos, apresenta uma postura no final do seu mandato que se assemelha muito à da Comissão que este preside: desmotivada e pouco inspirada. As fraquezas da Comissão de Barroso não dependem apenas dele, devemos também ter em conta as circunstâncias em que o seu governo foi conduzido. A Europa atravessou a sua pior crise desde a sua criação. […] Mas, mesmo quando tudo dependia de Barroso, este não soube convencer. Perdeu a oportunidade de transformar a sua instituição num grande contrapeso face aos Estados-membros. E renunciou a fazer da sua última alocução um discurso de campanha eleitoral inspirador. Em vez de se dirigir aos cidadãos europeus, que participarão na designação do novo presidente da Comissão através das eleições europeias [de maio de 2014], Barroso ficou preso nos detalhes técnicos. O chefe da mais importante instituição da UE não conseguiu transmitir a mensagem ao eleitor. O presidente da Comissão já nem sequer se atreve a falar diretamente dos problemas da UE. O seu diagnóstico – os cidadãos viram as costas ao projeto europeu – não tem terapia. A imagem com que a Europa ficou depois da sessão plenária desta terça-feira em Estrasburgo foi tão triste quanto o ambiente no semicírculo. A Comissão foi fundada para garantir o bom funcionamento do mercado único. Hoje, após dez anos sob o mandato de Barroso, está mais enfraquecida do que nunca. Na altura, a Comissão era uma instituição fiável para os países do Sul. Hoje em dia, os cidadãos confiam mais nas instituições nacionais. […] Uma situação perigosa, uma vez que o mercado único é o projeto mais importante da união política, a garantia da confiança que une os 28 países-membros. A Comissão controla este mercado e está a destabilizá-lo, a abanar os alicerces da UE. A Europa não pode voltar a ter um segundo presidente como Barroso.

Ainda menos indulgente, em Varsóvia, o editorialista do Gazeta Wyborcza Tomasz Bielecki estima que

apesar de Barroso utilizar bons argumentos na sua defesa de Bruxelas (e, portanto, de si mesmo), não tem jeito nenhum para fazer passar a mensagem aos cidadãos ordinários. A crise que – segundo as suas próprias palavras – ainda não acabou, contribuiu para o crescimento do euroceticismo tanto à direita como à esquerda da cena política. […] As eleições europeias de maio de 2014 vão permitir testar o euroceticismo que a crise alimenta. Normalmente, não são as questões europeias que estão no centro da campanha eleitoral, mas as questões nacionais. Mas desta vez, a campanha poderá focar-se nas soluções para a Europa. Devido à crise (e às soluções controversas sobre a melhor forma de a resolver), a Europa tornou-se um tema de debate – como o afirmou Barroso – "nos cafés e nos estúdios de televisão". Daí este apelar aos políticos pró-europeus que defendam com coragem a integração europeia. Mas, infelizmente, o mais provável é que a onda eurocética de 2014 enfrente alguém tão pouco carismático, voluntário e forte como José Manuel Durão Barroso.


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