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segunda-feira, 22 de julho de 2013

Alerta Total

A Política como "Religião"?

Posted: 21 Jul 2013 07:07 AM PDT

Edição do Alerta Total – www.alertatotal.net

Leia também o site Fique Alerta – www.fiquealerta.net
Por Jorge Serrãoserrao@alertatotal.net

 

O Brasil é um País corrupto e subdesenvolvido que vende o almoço para tentar comprar a janta, mas ainda termina devendo na operação, por falta de Política (definir o que fazer, de preferência, corretamente). O Brasil também é uma nação naturalmente rica que é mantida artificialmente na miséria por um velho esquema de poder globalitário.

 

A pergunta é: por que aceitamos este jogo? Somos ignorantes, otários ou safados - cultural, histórica e civilizatoriamente falando? Será que devemos dar razão ao imortal Nelson Rodrigues, quando ele reclamava que "o brasileiro, quando não é canalha na véspera, é canalha no dia seguinte". Aliás, releia o artigo deste Alerta Total: Até quando seremos tão canalhas? 

 

Momento ótimo para tocar neste assunto, já que o Brasil se prepara para a festiva chegada do Papa que é pop (e dizem, não poupa ninguém politicamente errado). No seu discurso na Jornada Mundial da Juventude, Francisco já tem programado um recado estratégico. Na visão do líder católico, a religião precisa dialogar com a Política. Certamente, o Pontífice prega isto sabendo que a religião exerce uma influência muito mais profunda sobre a sociedade e os indivíduos que a tradicional política.

 

Nestes tempos de crise generalizada, parece que virou moda mandar fazer a tal da Política (definir o que fazer, de preferência, corretamente). O chefão Luiz Inácio Lula da Silva, em palestra recente para estudantes em uma universidade federal, fez essa recomendação, inclusive para quem estiver puto da vida com tudo, com todos e até com ele mesmo e a Dilma: "Faça-se Política".

 

Claro, tal recomendação divina do Lula não tem a mesma força do companheiro Deus, quando proclamou "Faça-se a Luz" e, segundo Nelson Rodrigues, foi criado o Fla-Flu (a maior divergência política da história do futebol antes mesmo de o mundo ter sido criado e ter alguma História para ser contada).

 

Irrelevando essa brincadeira de extremo mau gosto contra os princípios sagrados da religião – mas ponderando que é melhor perder os amigos que a anedota no País da Piada Pronta -, é mesmo essencial fazer Política (definir o que fazer, de preferência, corretamente). O problema é que o Brasil nunca define um Projeto para si. Fica sempre naquela doença do "amanhã a gente faz", e nada acontece para melhorar.

 

Ano que vem tem eleições. Será que algo vai realmente mudar em termos de representatividade, sob o efeito salutar dos protestos nas ruas que devem continuar? A hipótese mais sincera e provável de ser concretizada é que pouco mudará. Praticamente nada mudará nas regras eleitorais e nas máquinas de cassino (tão confiáveis quanto Deus, segundo a Justiça eleitoral) que nos farão, pela vontade antidemocrática do voto obrigatório, escolher quem vai nos representar no parlamento, nos governos estaduais e no trono imperioso da falsa República tupiniquim.

 

Embora nunca estivessem com os deles tão apertadinhos, os políticos estão confiantes. Na cínica fórmula de quem já está mamando na teta da politicagem, o modo mais simples de transformar a aparente má vontade do eleitorado é investir ainda mais pesado na máquina eleitoreira.

 

Aliás, nunca falta dinheiro para esse negócio que movimenta e desperdiça bilhões e cada dois anos... E aqueles que desejam se apresentar como "alternativa a tudo que aí está" já têm pronto o discurso de que não são políticos tradicionais, porém prometem consertar e sanear as coisas".

 

Enquanto isso, a Vaccarezza está indo para o brejo. O Partido da Traição já trabalha contra a Presidenta Dilma Rousseff da Silva. A reeleição dela não será fácil nem com a vaca tossindo. Dilma foi jogada para baixo da carne seca porque não sabe fazer Política. Desde seu nada cândido tocador da reforma política, até seu péssimo trato com tantos ministros (alguns dos quais com quem sequer despachou até hoje).

 

Rola até a fofoca de que a Dilma só despacha, no sobe e desce do elevador presidencial, com seu ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, General José Elito. Se a Dilma trata assim quem cuida da área de inteligência do governo, imagina o que ela não faz com aqueles a quem ela já até xingou de "burro", na rispidez de uma reunião, como Moreira Franco (ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos). Ainda bem que os despachos não acontecem no banheiro...

 

O problema escatológico é que a Dilma está (ou é) politicamente perdida. O azar é que o País está pior que ela. Por negarmos a Política de verdade, sem definir um projeto para o Brasil, estamos condenados a ser a "Vanguarda do Atraso". Só temos saída Política se revertermos, urgentemente, a histórica falta de investimento em defesa, infraestrutura, educação, ciência & tecnologia. Sem isto somos Impotência. País sem futuro!

 

O Brasil só tem solução se implantar uma Política baseada no espírito empreendedor, desenvolvimentista, realmente democrático, e com mecanismos de controle para coibir a corrupção (conatural ao ser humano que pratica os sete pecados capitais).

 

Será possível fazer dessa "Política" a nossa "Religião" para tornar o Brasil uma Nação Divina? E, perguntamos novamente: até quando seremos tão canalhas e não fazemos o dever de casa?        

 

Pura Politicagem

 

 

 

Vida que segue... Ave atque Vale! Fiquem com Deus.

 

O Alerta Total tem a missão de praticar um Jornalismo Independente, analítico e provocador de novos valores humanos, pela análise política e estratégica, com conhecimento criativo, informação fidedigna e verdade objetiva. Jorge Serrão é Jornalista, Radialista, Publicitário e Professor. Editor-chefe do blog e podcast Alerta Total: www.alertatotal.net. Especialista em Política, Economia, Administração Pública e Assuntos Estratégicos.

 

A transcrição ou copia dos textos publicados neste blog é livre. Em nome da ética democrática, solicitamos que a origem e a data original da publicação sejam identificadas. Nada custa um aviso sobre a livre publicação, para nosso simples conhecimento.

© Jorge Serrão. Edição do Blog Alerta Total de 21 de Julho de 2013.

Pelos nossos interesses

Posted: 21 Jul 2013 05:19 AM PDT

Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net

Por João Guilherme Ribeiro

 

Excelentíssimo Deputado Vital Rego:

 

Não pode haver confiança sem transparência.  Caixas pretas têm razão de ser em aviões, não na casa dos representantes do povo.  Elegemos representantes para que sejam porta-vozes da vontade popular.

 

Se a Câmara e os deputados julgam ter vida própria, independente da aprovação dos que constituem a nação em todas as classes, inapelavelmente perderão a representatividade e desmoralizarão o sistema democrático. 

 

"Aqueles que impedem a evolução pacífica", disse John Kennedy, "preparam o caminho para a revolução violenta". 

 

Não nos parece que a omissão e a manutenção do status quo alienado e distante da realidade, depois do recado claro da sociedade nas ruas, seja o caminho da sobrevivência da democracia.  Ou do parlamento, como tal.

 

Por que foi justamente a impressão de fraqueza e pusilanimidade pelos parlamentos na Europa continental, nas décadas de 20 e 30, que fomentaram o fortalecimento das doutrinas violentas que geraram ditaduras à esquerda e à direita.

 

É esta a história que queremos que se repita?

 

Nós os elegemos para que nos representem.

 

O recado que damos é muito simples:

 

1.  Fim do voto secreto agora, antes do recesso.  O remédio para o sistema viciado e injusto é a transparência.

 

2.  Reforma tributária com imediata redução de impostos.  Não há ficha limpa com   42% de imposto no sabonete.

 

3.  Fim de privilégios nas investigações jurídicas.  Imunidade parlamentar não é carta de corso autorizando crimes ou fraudes.

 

Não estamos sendo ingênuos, como se pedíssemos aos senhores deputados que votassem contra seus interesses.  Acontece que os representantes do povo não estão lá para cuidar dos seus interesses, mas dos nossos!

 

 

João Guilherme da Cruz Ribeiro é Empresário e, acima de tudo, Cidadão Brasileiro.

São os ETs, seu Cabral?

Posted: 21 Jul 2013 05:18 AM PDT

Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Humberto de Luna Freire Filho

 

A situação dos humoristas profissionais no Brasil está cada vez mais crítica. Estão sendo substituídos, nos grandes jornais, por políticos de moral duvidosa e a custo zero.

 

O ridículo governador do Rio de Janeiro acaba de declarar que as manifestações na cidade, mais precisamente, na sua porta, são promovidas por  grupos internacionais. Tenho ouvido declarações idiotas vindas do Planalto Central, mas essa última, temperada com sotaque carioca, sem dúvida é a campeã da semana. Há poucos dias o rei de Guaratiba havia dito que tudo não passava de uma antecipação da campanha eleitoral, desencadeada pela oposição.

 

Agora foi mais longe, concluiu que são movimentos internacionais. Acredito que se os protestos continuarem, o seu  eficiente serviço de informação, provido de especialistas em Exobiologia, detectará ET's com guardanapos franceses na cabeça, agindo no pedaço.

 

Seremos o primeiro País no mundo a descobrir e comprovar a existência de vida inteligente em outros mundos. Uma honra para o país da desonra.

 

 

Humberto de Luna Freire Filho é Médico - CREMESP - 35.196.

Lembrai-vos de que são Juízes

Posted: 21 Jul 2013 05:11 AM PDT

Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net

Por João Baptista Herkenhoff

 

Ministros dos altos tribunais, desembargadores federais ou estaduais, magistrados de cortes internacionais são, antes de tudo, juízes.

 

Há tanta grandeza na função, o ser humano é tão pequeno para ser juiz, é tão de empréstimo o eventual poder que alguém possui para julgar, que me parecem desnecessários tantos vocábulos para denominar a mesma função.

 

Talvez fosse bom que os titulares de altos postos da Justiça nunca se esquecessem de que são juízes, cônscios da sacralidade da missão. Seria também aconselhável que fossem sempre humildes, não se julgassem seres superiores, como acontece algumas vezes.

 

Não é o magistrado empavonado, que se faz credor da admiração pública, mas justamente o contrário: o modesto, o que não se considera dono da verdade, o que aceita o voto que diverge do seu voto nas decisões colegiadas.

 

 

João Baptista Herkenhoff, Livre-docente da Universidade Federal do Espírito Santo, Juiz de Direito aposentado, palestrante pelo Brasil afora e escritor. Acaba de publicar Encontro do Direito com a Poesia – crônicas e escritos leves (Editora GZ, Rio de Janeiro). Homepage: www.jbherkenhoff.com.br - E-mail: jbherkenhoff@uol.com.br

Comunismo Chinês, Maoísmo e o Brasil do PT

Posted: 21 Jul 2013 05:07 AM PDT

Manifestantes protestam na Assembleia Legislativa do estado do Rio de Janeiro, 17 de junho de 2013. "Só uma Grande Desordem pode criar uma Nova Grande Ordem" – A Nova Democracia

Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net

Por Milton Pires

 

Em primeiro de julho de 1921 foi fundado na atual cidade de Shanghai o Partido Comunista Chinês (PCC). Apesar de várias pinturas retratando a presença de Mao Tse Tung nessa reunião, é fato histórico que ele não estava presente. Os pioneiros do partido foram Chen Duxiu e Li Dazhao.

 

Peculiaridades à parte, o mais importante a ser lembrado é o cenário de verdadeira crise cultural que existia no país naquele momento. Desde a Revolução Boxer, no início do século XX, imperavam na China as mais diversas tendências políticas. Anarquismo, socialismo, comunismo, além de uma incipiente burguesia faziam das cidades costeiras, naquela época, uma espécie de caldeirão de possibilidades políticas.

 

É necessário lembrar que o país como unidade  "apresentou-se" ao mundo ocidental como república em 1912. Atribui-se o título de "Pai da Nação" a um médico chinês graduado pela Universidade de Honolulu - Sun Yat Tsen. Extremamente culto, fluente em inglês, e capaz de colocar a China em "sintonia" com o mundo da época, precisamos entender que esse breve período republicano antes do início das várias guerras civis chinesas que atravessaram o século XX, teve como opositor membros de um PCC igualmente capazes do ponto de vista intelectual.

 

Talvez seja esse um dos pontos mais importantes a salientar nesse breve artigo - a gigantesca distância que existe entre a noção de comunismo chinês e maoísmo. Depois de 1917 não houve, até onde eu sei, nenhuma elite intelectual capaz de propor o socialismo "em um país" sem seguir as regras do Comintern (termo que designa a Terceira Internacional Comunista). A China, e o jovem  Mao Tse Tung, não foram  exceção.

 

Neste pequeno texto o objetivo é fazer uma rápida distinção entre o chamado "comunismo chinês" e o maoísmo bem como salientar que são o caráter de extrema violência revolucionária camponesa e o voluntarismo os aspectos mais preocupantes no que se relaciona à atuação de alguns grupos que existem hoje no Brasil.

 

Sabemos que, desde suas origens, a Revolução Bolchevique nunca atribuiu aos camponeses um papel revolucionário de protagonismo na URSS. Sabemos que existia, dentro do Partido Bolchevique, teóricos cujo conhecimento das obras de Marx e Engels ultrapassava de longe qualquer pensador chinês e não é demais salientar que a primeira aproximação da China com o mundo ocidental, especificamente no século XX, não foi com a URSS.

 

Pois bem, ressaltados estes aspectos, é obrigatório dizer que a chamada transição e mais tarde substituição do "comunismo chinês" pelo maoísmo nunca se fez de maneira brusca. Não é demais lembrar que o simples termo "maoísmo" sequer é reconhecido pelo PCC.

 

A expressão  politicamente correta na China de 2013 é "pensamento de Mao Tse Tung". Seu papel de liderança é conquistado aos poucos dentro da luta pelo poder de comando na guerra revolucionária (primeiro contra o Kuomintang de Chiang Kai-Shek, depois numa aliança de conveniência com o mesmo Chiang numa guerra contra o Japão Imperial e, finalmente, outra vez contra os mesmos nacionalistas que esse "caudilho chinês" representava) que arrasou a China até a fundação oficial da República Popular em outubro de 1949.

 

Já dissemos acima que o papel dos camponeses e o voluntarismo são distinções fundamentais entre o comunismo chinês e maoísmo. Falta agora salientar dois dados importantes. Jamais pode alguém falar em maoísmo verdadeiro sem lembrar da importância do Exército de Libertação Popular - nome dado ao antigo Oitavo Exército Revolucionário cujo comando foi conquistado pelo próprio Mao depois de uma série de intrigas e assassinatos que aqui deixamos de lado. Além disso, a cooptação pela guerra de guerrilha dos assaltantes e bandoleiros que assolavam a China desde o século XIX também distingue, em muito, os maoistas dos primeiros comunistas chineses.

 

Passemos agora a estudar o papel da violência revolucionária. Muito antes de Mao afirmar que o "poder político vem do cano de uma arma", Lênin já sustentava que não haveria revolução sem violência mas foi em Mao, não em Lênin, que a ela adquiriu no pensamento revolucionário o papel de categoria "estrutural" da sociedade chinesa. A noção de guerra revolucionária alcança na China Maoista uma importância no inconsciente coletivo que jamais teve na URSS.

 

Enquanto em Lênin e Stalin as execuções são secretas e a perseguição feita pela Tcheka (mais tarde KGB) faz-se às escondidas, na China de Mao elas são públicas. Enquanto a violência do regime soviético tem um papel "instrumental" pode-se dizer que no maoísmo ela é a essência.

 

Mesmo distorcida por Stalin, a visão de uma sociedade ideal concebida por Lênin atravessa toda história da URSS de uma maneira que simplesmente não existe na China de Mao Tse Tung - nela a guerra de movimento contra o Japão e os nacionalistas, uma vez encerrada, deve ser levada adiante dentro da própria sociedade num fanatismo constante de purificação que, mesmo nos expurgos de Stalin, jamais foi visto e que alcança o ápice na Revolução Cultural de 1966.

 

O que preocupa, consideradas todas as diferenças entre o Brasil do PT e a China de Mao, é a semelhança de tamanho entre os dois países, a ignorância da grande maioria da população, e a associação com grupos criminosos. Feita novamente a ressalva de que não existe, até agora no Brasil do PT, o controle total do Exército Brasileiro por esse partido criminoso, as demais coincidências são interessantes. Talvez a mais assustadora delas seja exatamente aquela relacionada ao famoso voluntarismo da militância esquerdista.

 

Desde o Manifesto de Agosto - de 1950 - que marcou a crise dentro do PCB dando origem à "linha chinesa" (PCdo B) e mais tarde à "Ala Vermelha", o que vemos são sucessivas "rupturas" protagonizadas por dissidências partidárias que cada vez mais aproximam os novos partidos do pensamento original de Mao Tse Tung.

 

Hoje, em 2013, o país assiste em silêncio as declarações da "Liga dos Camponeses Pobres" e pode ler com a maior facilidade, pelo menos na Internet, as manifestações assustadoras da "Nova Democracia" e do "Movimento Estudantil Popular Revolucionário" - aviso sombrio para quem pensa que maoísmo não existe mais (ou está restrito à Índia e ao Nepal) e que a China é um país que fica muito longe daqui.

 

Dedicado à minha amiga, Graça Salgueiro.

 

Porto Alegre, 21 de julho de 2013


Milton Simon Pires é Médico.

Mercados e Capitalismo

Posted: 21 Jul 2013 05:04 AM PDT

Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net

Por Delfim Netto

 

Vivemos momentos emocionantes. Desde 1848, pelo menos uma meia dúzia de vezes, cérebros peregrinos iluminados afirmaram que a "revolução" estava nas ruas: o socialismo libertador esperava atrás da esquina. Os movimentos das ruas no mundo, inclusive no Brasil, demonstrariam que agora vai. Teria chegado, afinal, o fim do alienante capitalismo, que produziu toda a miséria humana, como é visível pela piora do bem-estar do mundo desde o século XVIII... Já se anuncia, outra vez, a inevitabilidade do "socialismo", seja lá o que isso for.

 

O abuso das generosas ideias de Karl Marx ajudaram a dar credibilidade ao chamado "socialismo real" de Lênin e Stalin. Marx, um libertário, seguramente o consideraria nada menos do que abjeto: uma "igualdade" construída pela eliminação da liberdade individual que pretendia criar o "homem novo", apoiado no mais ineficiente aparato produtivo, que refletia as preferências do poder totalitário. Setenta anos depois de tentativas frustradas de aperfeiçoamento interno e do uso inaudito da força bruta, o sistema revelou-se dos mais poluidores e corruptos de quantos já frequentaram a história. Sem saída, suicidou-se!

Além da coordenação pelos "mercados", os homens não descobriram outro mecanismo que permita melhor acomodação relativa das demandas contraditórias que procuram na organização da sociedade. Há 150 mil anos, eles buscam uma forma de organização social na qual possam construir sua humanidade: 1) liberdade para escolher livremente a sua atividade e explorar os seus talentos; 2) sendo um animal gregário e territorial, sente-se melhor com uma relativa igualdade dentro do seu clã; e 3) para "humanizar-se", precisa de tempo livre para reflexão, o que exige um eficiente sistema de produção da sua subsistência material. Esse não é um fim em si mesmo: é a possibilidade civilizatória implícita na liberdade de escolha e na relativa igualdade, porque "não é o tempo de trabalho, mas o tempo disponível que mede a riqueza" (Marx, K. - "Grundrisse", Ed. Anthropus, Paris, T.2 (1968):226).

Na Suméria, os mercados já eram uma forma de coordenar pequena liberdade individual com o atendimento das demandas da sociedade, que Adam Smith teorizou 50 séculos depois!

O problema é que os três objetivos - liberdade, igualdade e eficiência produtiva - não são inteiramente compatíveis. Liberdade e igualdade costumam brigar entre si: os homens são, naturalmente, dotados de talentos diferentes. Liberdade e igualdade acomodam-se mal na hierarquia de um sistema produtivo eficiente. A história mostra que um processo de seleção quase natural tem levado a uma aproximação assintótica dos três objetivos pelo sufrágio universal, pelo uso cada vez mais inteligente dos "mercados", e pela apropriação dos benefícios da ciência e da tecnologia.

A organização da atividade econômica através de mercados cada vez mais eficientes não se confunde com o capitalismo, que é a supremacia das finanças sobre a atividade produtiva. Um artigo publicado no "The Economic Journal" (Sept. 1928), pelo grande Joseph Schumpeter, então na Universidade de Bonn, "The Instability of Capitalism", era leitura obrigatória na disciplina de sistemas econômicos comparados da FEA-USP, no fim dos anos 40 do século passado. Nele ensina, com sua adorável afetação: "Temos de definir o que significa nosso sistema econômico. Ele é caracterizado pela propriedade privada, pela produção para o mercado e pelo fenômeno do crédito. Este último é a 'differentia specífica' que distingue o sistema 'capitalista' das outras espécies históricas, ou possíveis, que pertencem ao gênero definido pelas duas primeiras características".

A evolução quase natural para a organização social, que vai acomodando o atendimento aos três objetivos não inteiramente conciliáveis, tem sido acelerada pelo jogo continuado entre os resultados da urna, comandados pelo sufrágio universal, e o funcionamento dos mercados, aperfeiçoado pelos conhecimentos desenvolvidos no avanço da economia.

Há limites físicos insuperáveis na aceleração desse movimento. O gráfico abaixo revela o processo de desenvolvimento econômico descarnado de toda sua complexidade. Da população extrai-se a população economicamente ativa (L), que opera o estoque de capital (K) da economia: ambos dependem do suprimento de energia.

A produtividade do conjunto depende da relação K/L, ou seja, do capital associado a cada unidade da mão de obra. A combinação produz o PIB, que pode ser ou consumido ou investido para reforçar a qualidade da população com educação e saúde e o estoque de capital. Se para ampliar o consumo, o estoque de capital cresce menos do que a mão de obra, o sistema perde produtividade e o crescimento murcha. Não há mágica que supere essa restrição física. Podemos apenas tentar violá-la com o risco de perder o crescimento e a democracia.

 

Antonio Delfim Netto é professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento. E-mail: contatodelfimnetto@terra.com.br– Originalmente publicado no Valor Econômico de 16 de Julho de 2013.

 

 

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