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sexta-feira, 31 de maio de 2013

Três bons livros sobre a mega-crise que vivemos

Domingos Amaral

 

 

 Nestes tempos difíceis, é sempre bom ler livros escritos por pessoas que sabem muito do que falam e que nos ajudam a compreender melhor o que se passa. Aqui deixo três boas sugestões.

 

"Desta vez é diferente. Oito séculos de Loucura Financeira".

Escrito pelos professores de economia Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff, e editado pela Actual, é um dos melhores livros sobre as crises financeiras jamais escrito. Passa em revista vários séculos, em centenas de países, e é muito fácil de compreender.

Reinhart e Rogoff estiveram recentemente envolvidos na famosa polémica do "erro do Excel", mas que se refere a outro trabalho deles, e não a este livro.

O que espanta na edição portuguesa é o prefácio ser de Vítor Gaspar, pois as conclusões do livro são as opostas às políticas que Gaspar tem levado à prática como ministro das Finanças.

Rogoff e Reinhart explicam que a auteridade provoca recessões prolongadas, que complicam ainda mais o problema da dívida dos países, além de reforçarem a ideia de que é um mito que as exportações salvem um país de uma crise grave. 

Por fim, defendem que só com uma reestruturação profunda das dívidas, que passou quase sempre por um perdão substancial, é que as crises se resolveram e as economias voltaram a crescer.

Esperemos que Gaspar tenha lido com atenção.

 

"Euro Forte, Euro fraco. Duas culturas, uma moeda: um convívio impossível?"

Escrito por Vítor Bento, e editado pela bnomics, é uma excelente explicação sobre as duas Europas que estão juntas no euro. De uma lado a Alemanha, e os países que gravitam à sua volta; do outro, a Europa do Sul, ou periférica, onde se inclui Portugal.

Vítor Bento enuncia as principais diferenças entre estas duas Europas, o que leva a que ambas dêem valor a questões diferentes, e por isso que façam escolhas políticas e económicas diferentes.

Por exemplo na questão da inflação, isso é evidente, pois os alemães não toleram inflação, enquanto os outros países se habituaram a décadas dela.

Como fazer funcionar um euro onde as culturas económicas são tão diferentes? Qual a Europa que se sobrepõe e porquê? E há possibilidade desta história acabar bem?

O livro é muito bom na análise, mas muito cauteloso e até receoso de propôr soluções. Dá a sensação que Vítor Bento não quis ir demasiado longe nas críticas a ninguém, nem a nacionais nem a internacionais, pois nunca se sabe o que o futuro nos traz...

 

"Porque devemos sair do Euro"

Escrito pelo economista João Ferreira do Amaral, e editado pela Lua de Papel, é a defesa corajosa e inteligente de uma saída controlada de Portugal do euro.

Há muitos anos que Ferreira do Amaral é um céptico desta moeda única, das suas regras e realidades.

E há muitos anos que defende que Portugal nunca devia ter entrado no euro, e que a nossa participação na União Monetária é a principal causa dos graves desequilíbrios que se geraram em Portugal, e que agravaram os que já existiam antes.

Muito lúcido sobre os terríveis efeitos do euro, Ferreira do Amaral não se alonga muito no processo de saída do euro. Diz que ele devia ser "controlado", mas não vai muito longe nos detalhes.

Ora, é precisamente isso que falta, um guião detalhado de uma saída controlada do euro, para que se possa perceber os perigos e os benefícios. Talvez num próximo livro...


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