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terça-feira, 7 de maio de 2013

Caro funcionário público, os outros trabalhadores é que deviam estar indignados - Expresso.pt

Caro funcionário da República, as organizações que representam V. Exa. já estão a fazer um banzé sindical contra as medidas tomadas pelo governo. Dizem que estão indignados e não sei quê. Ora, eu gostava de salientar uma coisa: nesta história, a indignação não devia estar nos funcionários públicos; devia estar, isso sim, nos restantes trabalhadores. O comum dos mortais, trabalhador normal, as pessoas que trabalham em empresas privadas é que deviam andar de manif em manif. Porque a questão central não é "por que razão o governo cortou direitos aos funcionários públicos?". Nada disso. A pergunta certa é outra, a saber: "por que razão os funcionários públicos acumularam durante décadas estes privilégios?". Essa é que é a questão. Aliás, é por isso que a equivalência entre V. Exa. e trabalhador privado só peca por tardia.
Por que razão o cálculo da pensão da sua Caixa Geral de Depósitos era mais generoso do que o cálculo da pensão do regime geral? Porquê? Por que razão uns tinham reforma de filhos e outros reforma de enteados? Esta discrepância logo à partida é que é razão para indignação, meu caro amigo. A equiparação prometida na sexta por Passos é da mais elementar justiça. Por que razão trabalha V. Exa. menos 5 horas semanais do que os trabalhadores dos sectores privados? Pior: além de trabalhar menos horas, ainda tem direito a mais dias de férias. Porquê? Que razões podem justificar estes privilégios injustificáveis? Que aritmética laboral pode justificar esta diferença entre V. Exa. e a restante população? Que equidade pode existir aqui? E, já agora, a falta de equidade vai continuar a marcar a ADSE. Mesmo com o aumento da sua contribuição, aposto que a ADSE continuará a ser deficitária, ou seja, V. Exa. continuará a usufruir de um seguro de saúde pago pelo dinheiro de todos. Cá fora, as pessoas pagam os seus seguros de saúde na totalidade, mas o meu caro amigo teve durante décadas um seguro de saúde financiado pelos impostos de toda a gente. E, apesar das mexidas, o dito seguro continua de pé. Porquê?
Portanto, meu caro amigo, esta é a verdadeira indignação da sociedade portuguesa: por que razão tinha o funcionalismo público estes privilégios? É uma indignação sem manifs, porque o sindicalismo que existe é o sindicalismo da função pública e das empresas públicas. E este sindicalismo vai passar a semana a gritar "assalto a direitos". Não, meu caro. Assalto a direitos é aquilo que existia até agora. A discrepância injustificável entre público e privado é que era um assalto. 

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