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quinta-feira, 18 de abril de 2013

Zaventem

Francisco Seixas da Costa

 

 

Passei por lá há poucas horas, coisa que não fazia há uma dúzia de anos. Está muito diferente o aeroporto de Bruxelas. Confesso que não reconheci o espaço.

Ao contrário do que comigo quase sempre sucede, senti alguma nostalgia da antiga aerogare de Zaventem, construída para a exposição universal de 1958 e que, com o tempo, chegou a atingir momentos de lamentável decrepitude, com os pássaros a voar pelos corredores, com redes para travá-los, e os grandes vidros de outro tempo cinzentos de sujidade. Assisti ao nascer do "satélite", no fundo do antigo grande corredor. Vi depois construir, do outro lado, a nova ala, que tornou o aeroporto igual a todos os outros, como hoje acontece com a Portela. E descobri espaços novos, naquilo que já se aparenta mais com um grande centro comercial. Já não me reconheço neste Zaventem. Mas o aeroporto é bem mais agradável.



Por ali passei  os meus primeiros banhos de "cosmopolitismo", na segunda metade dos anos 70, como portador da "mala diplomática", na descoberta do "glamour" das viagens aéreas, quando esse "glamour" ainda existia. À porta, esperáva-nos então, rezingão, o senhor Rézo, um motorista francês, "exilado" na nossa delegação junto da NATO, que nos arranjava uns hotéis onde tinha comissão.

 

Mais tarde, depois de 1986, o aeroporto de Bruxelas passou a ser um meu destino habitual, pela TAP ou pela desaparecida Sabena, nas deslocações regulares a "grupos de trabalho" da então CEE - o nome por que era conhecida a atual União Europeia. Um comboio triste levava-nos, pela noite, para o centro da cidade, com os diplomatas e técnicos portugueses a saírem nas estações do Midi ou do Nord, para daí rumarem aos hotéis, como o Métropole e outros piores destinos da "moda" que cabia nas nossas ajudas de custo. Hoje recordei esses tempos com uma amiga, que viajou a meu lado desde Lisboa, a qual, por muitos anos, partilhou idênticos tempos e experiências.


Finalmente, o aeroporto ficou-me, na memória eterna, ligado a tempos que acabaram por ser de um imenso cansaço - os anos de governo, a partir de 1995 e até 2001. Chegava a Bruxelas esgotado de dias incessantes em Lisboa ou noutras capitais, ajoujado de papelada, ensonado e esfalfado. No cenário no fim da manga, tentava descortinar a figura amiga do senhor Barreiros, o simpático funcionário da Representação Permanente (Reper, para os iniciados), que me aliviava o peso e me conduzia, por corredores que sempre presumi VIP, até ao parque de estacionamento, onde me aguardava o fiel Wilhelm, um motorista flamengo, tão calado como discreto.



Por aquele aeroporto passei dezenas de horas de atrasos, de conversas, de esperas, de compras. Por lá me deixei adormecer de fadiga, num banco, num final de tarde, perdendo um voo para o Luxemburgo, o que me obrigou a dormir num hotel próximo. Por lá adquiri coisas que ainda hoje estão na memória familiar, num tempo em que, em Portugal, a oferta das lojas era muito diferente das da "estranja". Por lá festejei "vitórias" arrancadas nas lides europeias e me atulhei de livros que comprava para entreter os minutos que antecediam os aviões - minutos que, no meu caso, são sempre mais, porque faço parte dos que, por regra e para desespero dos atrasados crónicos, chegam a tempo e horas.



Lembrei-me disso, ao final da tarde de hoje, na minha breve passagem por Zaventem. Com alguma nostalgia, assumo. Serão saudades doutros tempos ou saudades de mim nesses tempos?  


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