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segunda-feira, 4 de março de 2013

Aos papéis

 
Volta e meia, responsáveis políticos são chamados ao parlamento para serem confrontados com decisões que tomaram durante os tempos em que exerceram funções governativas. Nada de mais natural, numa República democrática em que a responsabilidade pessoal se não esgota no momento em que se abandonam os cargos.
 
O que mais me surpreende é o facto desses antigos responsáveis políticos aparecerem a responder nessas instâncias parlamentares escudados em documentação do tempo em que exerciam tais funções executivas. A menos que essa papelada lhes haja sido fornecida pelos seus imediatos sucessores - hipótese improvável, no ambiente de "guerrilha" em que se transformou a vida política nacional -, só posso presumir que, ao abandonarem os cargos, essas figuras políticas levaram consigo cópia de tal documentação, que hoje lhes serve de escudo contra eventuais acusações, muitas das vezes injustas, como se comprova pelo facto de raramente alguém ser "condenado" nesse contexto.
 
A posse de duplicados de tais documentos oficiais é, assim, um ato de mera prudência e até de bom-senso. Só que há um pequeno, embora talvez não despiciendo, problema: é que isso é ilegal. Ninguém pode guardar documentos oficiais quando deixa de exercer funções políticas. Ponto final.
 
Tive consciência disso ontem à noite, neste tempo em que me divirto a arrumar em casa a minha papelada, na curiosa revisão retrospetiva de vida que a aposentação propicia. No que pessoalmente me toca, não fiquei com um único dos despachos e, em especial, de qualquer das decisões de concordância relativas a verbas, cuja movimentação autorizei ao longo do mais de cinco anos de funções governamentais que exerci. Se acaso fosse hoje chamado a uma comissão parlamentar, entraria na sala apenas com a minha memória. A qual, não sendo má de todo para aquilo que me interessa, tem hoje saudáveis brancas para as burocratices da vida. Com os riscos inerentes, claro.
 
Comentava isto hoje a um amigo, ao almoço. A reação foi: "Dá-lhes ideias, dá!..."

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