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terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

O preto?

(Francisco Seixas da Costa)

Certeiro e desassombrado, Ferreira Fernandes aborda hoje, na sua crónica no "Diário de Notícias", a ridícula polémica que por aí se desencadeou, por virtude de um comentário do líder da CGTP, Arménio Carlos, que teve a "ousadia" de anunciar assim o regresso da "troika": "vêm aí outra vez o três reis magos: um do BCE, outro da CE e o mais escurinho, do FMI". Algumas vestais saíram logo a terreiro com a alegação de que a referência ao "mais escurinho" era uma pura manifestação de racismo.

 

Confesso que tenho cada vez menos paciência para o "politicamente correto" e para o modo policiesco como alguns olham qualquer frase que, remota ou diretamente, toque um conjunto de temas que se convencionou colocar numa espécie de redoma.

 

Um dia, em Angola, estava numa festa no Hotel Panorama, a que tinha ido com um grande amigo angolano, Manuel Domingos Augusto, hoje membro do governo daquele país. A certa altura, chamei-lhe a atenção para uma pessoa que estava do outro lado da sala, que eu tinha a ideia de conhecer de qualquer lado. Expliquei que era "aquele tipo baixo, de casaco escuro, encostado à janela". Havia duas pessoas nessas condições, pelo que foi preciso dar outro pormenor: "o que está a fumar". Aí o Manel reagiu: "Ora bolas! É o preto? Já podias ter dito...". Era, mas eu, "travado" pelo politicamente correto, estava a hesitar dizer isso ao Manel, ele próprio bem negro. Nada como gente sem complexos para nos colocar à vontade.

 

Por este andar, um destes dias, ainda alguém nos vem chamar a atenção se dissermos que "a coisa aqui está preta". E não está?


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