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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

ESTOU DE CONSCIÊNCIA TRANQUILA

 JPP
 
"ESTOU DE CONSCIÊNCIA TRANQUILA"
 
Esta frase é repetida à náusea pelos governantes sempre que se descobre alguma coisa intranquila. Relvas é o recordista da frase, porque aconteça o que acontecer está sempre "tranquilo", e, com o exemplo a vir de cima, este governo é especialmente "tranquilo". Com Sócrates havia tempestades e fúrias e invectivas, com Passos Coelho e Relvas é o Mar da Tranquilidade e a perfeição ética. Mas no fundo é a mesma coisa: não vale a pena andarem a indignar-se por aí que connosco está sempre tudo bem. O CDS por seu lado preocupa-se com as aparências, na boa tradição de que "aquilo que parece é", até porque está hoje muito castrado e posto na ordem, por razões que não me parecem ser apenas "patrióticas". Ele há destinos.
 
Esta gente faz o que quer e sobra-lhes tempo, com o sentimento de impunidade que tão fundo existe numa cultura de irresponsabilidade que mergulha na mentalidade de políticos que já viram e passaram por tudo aquilo que derrubaria um governo num país civilizado e que aqui é recebido com um encolher de ombros. E como eles é que mandam, querem lá saber se a poderosa "confiança" que o Primeiro-ministro tem em todos, de Relvas a Franquelim, tem que se medir com a generalizada desconfiança dos portugueses. O problema com o novo secretário de estado, numa bizarra remodelação que por si só mereceria maior escrutínio sobre o "estado do governo", não é ter sido quadro do BPN e da SLN. Por si só tal qualidade podia implicar um período de nojo, pelo menos até ao fim dos processos-crime e outros, mas não define uma incompatibilidade com funções públicas. Podia até ter havido um whistleblower no processo, que poderia ser um herói se os portugueses soubessem que eles lhes poupou, em devido tempo, os milhares de milhões de euros que o banco custou e está a custar, porque ainda não acabou a saga. Poderia, embora o mais provável pelo nosso historial nessas matérias, é que fosse acusado de ser ele o responsável pela queda do banco e banido de vez do círculo de confiança com que o nosso establishment político-económico se blinda. E se o tivesse feito, não seria certamente chamado para o governo, porque os que estão dentro desse círculo, como os actuais governantes, teriam um medo enorme desse denunciante em potência.
 
Franquelim Alves não devia poder ser secretário de estado por outras razões: porque omitiu a sua passagem no BPN e na SLN, em cargos que seriam relevantes em qualquer currículo, e porque admitiu que ocultou durante mais tempo do que hoje admite, o conhecimento de crimes financeiros e económicos, de que teve que ter conhecimento, nomeadamente o Banco Insular e as imparidades. É por isso co-responsável pela conta absurda que os portugueses estão a pagar, como aliás alguns dos autores das escandalosas PPPs e que também estão no governo como se nada fosse. Como houve má fé na ocultação no currículo oficial da passagem pelo BPN e pela SLN, com o divertido argumento que não estava no currículo porque "toda a gente sabia", e negligência ou pior na ocultação do crime, não deveria ser convidado a estar no governo. Mas como factos do mesmo género estão no currículo não escrito de muitos governantes, a começar pelo topo, é natural que a tranquilidade reine.

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