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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A ordem

 
Fazia um certo género aquele embaixador. Nunca pedia nada diretamente, deixava no ar ideias que desejava que fossem levadas a cabo, obrigando os colaboradores a deduzirem o que realmente pretendia. Era muito raro vê-lo dar uma ordem imperativa. Se dissesse "era capaz de ser interessante mandar-se qualquer coisa a Lisboa sobre as taxas de juro", isso significava que se devia fazer, de imediato, um telegrama sobre a decisão do banco central sobre o custo do dinheiro. Se acaso os seus colaboradores não fossem suficientemente perspicazes para interpretarem estas suas ordens subliminares, o respetivo destino estava traçado. Tudo isso fazia parte da sua forma de exercer a autoridade.

Um dia, um funcionário administrativo foi chamado ao gabinete do embaixador, para tratar de uma qualquer questão. Durante esse despacho, na forma oblíqua tradicional, o embaixador comentou: "Está a começar a ficar um pouco de frio". O homem não reagiu, pelo que o diplomata foi um pouco mais explícito: "Será que os aquecimentos estão ligados?". O administrativo disse que não, que ainda não tinha chegado a "época", referindo-se à data em que, por regra, o sistema era posto em marcha. Chegado a este ponto, o embaixador, que claramente pretendia ver a sua sala aquecida, não resistiu e, já com má cara, foi explícito: "Olhe! Vá ligar o aquecimento".
 
O administrativo era um homem de hierarquias. Na sua perspetiva, testada ao longo de muitos anos, a pessoa que, dentro da embaixada, tinha poder para ligar o aquecimento era o chanceler, o senhor Mendes, a quem ele devia obediência direta, que se prolongava muito para além do período de funções dops embaixadores e de quem ele, desde sempre, recebia as ordens. E se essa suprema autoridade na gestão logística da embaixada não dera essa ordem, que podia ele fazer? Pelo que lhe saiu esta "pérola", para o todo poderoso embaixador, um dos homens que, na história das Necessidades, mais autoridade e influência alguma vez teve:
 
- Ai! isso é que não faço, senhor embaixador! Quem manda nessas coisas é o senhor Mendes. Tem de lhe pedir a ele...

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