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sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Sai um "Expresso"!



Há "Expresso" há 40 anos! E eu "tomo-o" todos os sábados, desde esse dia 6 de janeiro de 1973.

Correndo o risco de voltar a citar-me a mim próprio (a idade tem destas consequências), mas porque não encontrei nada de novo que pudesse configurar uma nota de respeito para com um jornal que faz parte integrante da minha vida adulta, reproduzo o que aqui escrevi, há dois anos, numa outra comemoração do hebdomadário da Duque de Palmela (embora o periódico já tenha abandonado, há muito, a antiga casa de Afonso Costa, acho que ele não se consegue desligar psicologicamente da vizinhança do Pabe).

Aí vai o texto:

"Hoje, o "Expresso" publica o seu nº 2000 (2000 sábados! Mais de 38 anos!).

Ao constatar isso, dou-me conta de uma outra realidade: nunca deixei de ler nenhum dos números do jornal, desde o seu célebre nº 1 até ao que hoje me chega às mãos. Não falhei um único número. Tenho disso absoluta certeza.

Em 1973, quando foi criado, o "Expresso" representou um choque de modernidade sem par na imprensa portuguesa (como o "Público" o seria, anos mais tarde, para a imprensa diária). Para além de ter introduzido, entre nós, a "moda" dos jornais semanários (até então, só havia revistas), ao jeito britânico do "Observer" ou do "Sunday Times", o jornal significava a abertura de um espaço crítico que passava as margens formais do regime, estimulando os que, dentro dele, punham em causa o seu percurso e, simultaneamente, abrindo os espaços possíveis a quem a ele se opunha. O 25 de abril deve alguma coisa ao "Expresso".

Com a Revolução, o jornal passou a ser uma tribuna determinante, por onde passava - e onde se "fazia" - muita da política portuguesa da época. Tudo o que era opinião relevante teve acolhimento do "Expresso" e muitas das grandes notícias que fizeram sensação foram anunciadas pelo jornal. Navegando sempre num espaço político que, de forma simplificada, poderemos designar como de "bloco central", o "Expresso" cuidou sempre em nunca calar, sectariamente, outros setores. Bem pelo contrário, por vezes deu-lhes uma voz bem superior àquilo que eles representavam ou representam.

Como disse, li todos os números do "Expresso", embora com desigual atenção. Em Lisboa, porque o compro sempre tarde e sem lugar certo, chego a correr seca-e-meca para encontrar um exemplar. No estrangeiro, chegou-me muitas vezes por "mala diplomática" a Oslo, a Luanda, a Londres, a Nova Iorque, a Viena ou a Brasília. Mas procurei-o também em Bruxelas ou em Genebra, em estadas mais prolongadas por essas cidades. Em Paris, compro-o, ainda no próprio sábado, num quiosque perto da Étoile. Se acaso me falha um jornal, movo mundos-e-fundos (e até meto "cunhas", junto de amigos) para arranjar o número que está em atraso. E que leio sempre, nem que seja duas ou três semanas depois.

Escrevi, fui entrevistado e fui criticado no "Expresso". Nele tive e tenho amigas e amigos, pessoas que muito respeito profissionalmente. Durante muitos anos, a leitura do "Expresso" foi-me fundamental e até "urgente". Depois, com o tempo e a concorrência, acho que o "Expresso" deixou, cada vez mais, de ter muitas "caixas" apelativas; pior, passou a gerar (não foi o único) algum sensacionalismo artificial. E passou a ser lido com mais rapidez, com o que isso significa de menor atenção.

Com todos os seus defeitos - e eles têm vindo a aumentar*, diga-se, em abono da verdade -, continua a ser um jornal necessário. Eu, pelo menos, com maior ou menor gosto, talvez já por mero vício, não passo sem ler o "Expresso"."

*Desde o momento em que escrevi este texto, tenho a sensação de que o jornal melhorou substancialmente.

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