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terça-feira, 20 de novembro de 2012

Hendaye


Meio século de imigração portuguesa em França esteve ontem em análise num colóquio realizado em Hendaye, graças ao entusiasmo dessa "força da natureza" que é Manuel Dias - a principal figura que, aqui em França, tem pugnado pela preservação da memória de Aristides de Sousa Mendes. A cidade de Hendaye foi, e bem, o local escolhido para esta evocação, porque foi a porta da França para as imensas vagas de trabalhadores portugueses desses primeiros tempos.

O dia foi preenchido com diversos painéis temáticos, todos com uma qualidade de exposição muito rara. Historiadores, jornalistas, sociólogos e outros especialistas trouxeram dados e interpretações com imenso interesse, que espero seja possível coligir rapidamente em livro. Numa ou outra intervenção, como não podia deixar de ser, aflorou a memória emocionada de quantos fizeram parte dessa imensa aventura. Alguém lembrou, a certa altura, a história de um português que, como única referência identificativa do local para onde pretendia ir, exibia uma folha de papel onde tinha escrito "São Pinhi" - transcrição fonética que identificava o "bidonville" de Champigny, nos arredores de Paris, onde eventualmente o esperava algum conterrâneo.

Uma bela exposição do fotógrafo Gabriel Martinez, sob o título "Sala de espera", mostrou-nos, paralelamente, muitas imagens do ambiente vivido nesses anos 60, na estação ferroviária de Hendaye, um local por onde passou muita da esperança e da tragédia de um Portugal obrigado a emigrar.

Sei que muitos cidadãos de origem portuguesa, hoje residentes em França, convivem menos bem com a reiteração sistemática das evocações desses tempos a-preto-e-branco, que já não acham muita "graça" a este tipo de exposições, porque temem que, eventualmente, isso possa prolongar no imaginário francês um certo esteriótipo dos portugueses, desses tempos menos áureos da dificuldade e de miséria. Mas também devo compreender o sentimento de quantos teimam em preservar e mostrar esses documentos, testemunhos desses olhares rurais lusitanos, perdidos na incerteza, à chegada a uma terra estranha, uma geração a quem o país negava o futuro.

Amanhã, que cores ilustrarão os tempos de hoje?

Em tempo: a este propósito, a Lusa reproduz hoje algo que eu disse sobre este tema.

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