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terça-feira, 25 de setembro de 2012

Diálogos

Com uns amigos, trocava ontem impressões sobre o modo como decorrem as conversas político-diplomáticas, quando as coisas, por acaso ou necessidade, se passam num registo de alguma tensão.

Na minha vida, testemunhei já algumas cenas algo complicadas, em especial entre políticos, a não pouparem os seus contrapartes, com frases ou num tom que visivelmente pretende incomodá-los. Tenho visto fazer isto, basicamente, de duas maneiras: desde um modo subtil, em que alguns deixam "farpas" e passam mensagens fortes com certa elegância, por vezes alternando estilos diversos na mesma conversa, até a modelos de agressividade, mais ou menos gratuita, em certos casos no limite da provocação. A menos que se pretenda, de facto, conduzir à rutura (e, em casos limite, esse é o objetivo), devo dizer que, na maioria das ocasiões, a adoção deste último modo de atuar se deve, em geral, à inabilidade profissional e à arrogância gratuita de alguns agentes políticos e diplomáticos. Já vi um pouco de tudo e, pelo que me toca, também já fui obrigado a conduzir conversas em diversos registos, em função de interesses que me competia defender. Alguns dos quais, diga-se, deliberadamente pouco agradáveis, embora dentro de um limiar de cordialidade, que sempre cuidei em manter (veja-se exemplos aqui e aqui).

Ontem contei aos meus amigos o modo de atuar de uma conhecida figura política portuguesa, cujo nome não interessa, a quem, por duas vezes, vi conduzir encontros com personalidades estrangeiras às quais pretendia passar mensagens de distância e até de alguma acidez, por forma a criar uma deliberada incomodidade no seu interlocutor. Pode parecer estranho que alguém assim proceda, mas a verdade é que, também na política e na diplomacia, há conjunturas que a isso obrigam.

A "técnica" dessa nossa figura nessas duas ocasiões foi, invariavelmente, a mesma. Depois de saudar breve e formalmente o interlocutor, lançava-se num monólogo sobre uma temática que lhe interessava explanar. Passados uns minutos, fazia uma pausa. Isso dava ao interlocutor a sensação de que era a sua vez de falar, apoiando ou contraditando o que ouvira ou introduzindo novas temáticas. Porém, no termo desta réplica, e quando se esperava que o nosso político comentasse o que acabava de ouvir, este último, pura e simplesmente, limitava-se a dar sequência à sua primeira intervenção, como se nada tivesse dito pelo outro depois dela. Essa continuação do discurso inicial prolongava-se, até nova pausa. O interlocutor tentava então de novo a sua sorte, questionando e opinando sobre o que fora dito pelo nosso político. Debalde. No termo da sua fala, este, impávido, retomava olimpicamente o seu anterior discurso, ignorando tudo quanto fora dito pelo seu interlocutor. Este tipo de conversa (?) tinha uma tendência natural a durar pouco e proporcionava um espetáculo que, confesso, não era fácil suportar. Mas, em todos os casos que testemunhei, a "mensagem" passada acabou por ficar bem clara, comigo a querer "ser mosca", para ouvir a reação que o outro lado com certeza teria, à saída, com os seus colaboradores.

A diplomacia nem sempre é um exercício com punhos de renda, podem crer.

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