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segunda-feira, 7 de maio de 2012

Justiças

O caso Madeleine McCann volta a ser citado na imprensa sensacionalista britânica. Do outro lado da Mancha, leem-se, no "The Sun" e em outras folhas de idêntico jaez, "farpas" sobre a qualidade da justiça e da polícia portuguesas, acusadas de ineficácia na investigação.

Não tenho nenhuma opinião particular sobre este assunto, mas tenho, há muito, uma ideia bem formada de que existe, em alguns países do norte da Europa, um preconceito arraigado contra a justiça "do sul". Isso leva, por exemplo, a que, quase por sistema, quando um cidadão desses países é detido, em casos com algum reflexo mediático, num país desse mesmo "sul" (quando isso acontece em África ou na América Latina, é quase automático), sobre ele se abata, regularmente, uma espécie de presunção natural de inocência e se crie um clamor público a reclamar a sua libertação ou a contestar a duração das decisões judiciais (estou certo que, neste ponto, alguns lembrarão o caso Vale e Azevedo...). A imprensa, ecoando a reação natural das famílias e de grupos de amigos, torna-se então portadora de um juízo de diabolização do sistema judicial do Estado onde o incidente ocorreu, degradando com a sua imagem. Leia-se o que se diz no site britânico Prisioner's Abroad, para se perceber melhor o que acabo de notar.

Um dia, na primeira metade dos anos 90, uma criança inglesa apareceu morta no Algarve. A nossa embaixada em Londres foi então invadida por comunicações escritas e telegramas insultuosos, considerando Portugal "uma selva", um paraíso para os criminosos, um mundo de impunidade e irresponsabilidade. Com o tropismo a que acima fiz referência, a imprensa "tablóide" britânica ridicularizou Portugal e a polícia portuguesa. Deputados e lordes irados, mobilizados pelas suas "constituencies", escreveram e foram mesmo recebidos na embaixada, bradando contra o nosso sistema de justiça.

Poucas semanas mais tarde, a nossa polícia descobriu o criminoso: um cidadão britânico, amigo da familia. De um momento para o outro, a imprensa britânica silenciou. Passaram alguns meses. A medo, amigos do detido, começaram a reclamar, na mesma imprensa, contra as prisões portuguesas e sobre os riscos que o assassino nelas correria. É assim...
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