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sexta-feira, 2 de abril de 2010

diário de um médico

Diário de um Médico

     
Carlos Barreira da Costa , médico Otorrinolaringologista da mui nobre  e Invicta cidade do Porto, decidiu compilar no seu livro "A Medicina  na Voz do Povo", com o inestimável contributo de muitos colegas de  profissão, trinta anos de histórias, crenças e dizeres ouvidos durante  o exercício desta peculiar forma de apostolado que é a prática da  medicina. E dele vão verdadeiras jóias deste tão pouco conhecido  léxico.

> Os aparelhos genital e urinário são objecto de queixas sui generis:
> "Venho aqui mostrar a parreca".
> "A minha pardalona está a mudar de cor".
> "Às vezes prega-se-me umas comichões nas barbatanas".
> "Tenho esta comichão na perseguida porque o meu marido tem uma  infecção na ponta da natureza".
> "Fazem aqui o Papa Micau ( Papanicolau )?"
> "Quantos filhos teve?" - pergunta o médico. "Para a retrete foram  quatro, senhor doutor, e à pia baptismal levei três".
> "Apareceu-me uma ferida, não sei se de infecção se de uma f... mal dada".
> "Tenho de ser operado ao stick. Já fui operado aos estículos".
> "Quando estou de pau feito... a p... verga".
> "O Médico mandou-me lavar a montadeira logo de manhã".
 
> O diálogo com um paciente com patologia da boca, olhos, ouvidos, nariz  e garganta é sempre um desafio para o clínico:
> "Quando me assoo dou um traque pelo ouvido, e enquanto não puxar pelo  corpo, suar, ou o ca..., o nariz não se destapa".
> "Não sei se isto que tenho no ouvido é cera ou caruncho".
> "Isto deu-me de ter metido a cabeça no frigorífico. Um mês depois fui  ao Hospital e disseram-me que tinha bolhas de ar no ouvido".
> "Ouço mal, vejo mal, tenho a mente descaída".
> "Fui ao Ftalmologista, meteu-me uns parafusinhos nos olhos a ver se as  lágrimas saiam".
> "Tenho a língua cheia de Áfricas".
> "Gostava que as papilas gustativas se manifestassem a meu favor".
> "O dente arrecolhia pus e na altura em que arrecolhia às imidulas infeccionava-as".
> "A garganta traqueia-me, dá-me aqueles estalinhos e depois fica melhor".

> As perturbações da fala impacientam o doente:
> "Na voz sinto aquilo tudo embuzinado".
> "Não tenho dores, a voz é que está muito fosforenta".
> "Tenho humidade gordurosa nas cordas vocais".
> "O meu pai morreu de tísica na laringe".
 
> Os "problemas da cabeça" são muito frequentes:
> "Há dias fiz um exame ao capacete no Hospital de S. João".
> "Andei num Neurologista que disse que parti o penedo, o rochedo ou lá  o que é...".
> "Fui a um desses médicos que não consultam a gente, só falam pra nós".
> "Vem-me muitos palpites ruins, assim de baixo para cima...".
> "A minha cabecinha começa assim a ferver e fico com ela húmida, assim  aos tombos, a trabalhar".
> "Ou caiu da burra ou foi um ataque cardeal".

 > As dores da coluna e do aparelho muscular e esquelético são difíceis  de suportar:
> "Metade das minhas doenças é desfalsificação dos ossos e intendência  para a tensão alta".
> "O pouco cálcio que tenho acumula-se na fractura".
> "Já tenho os ossos desclassificados".
> "Alem das itroses tenho classificação ossal".
> "O meu reumatismo é climático".
> "É uma dor insepulcrável".
> "Tenho artroses remodeladas e de densidade forte".
> "Estou desconfiado que tenho uma hérnia de escala".
 
> O português bebe e fuma muito e desculpa-se com frequência:
> "Tomo um vinho que não me assobe à cabeça".
> "Eu abuso um pouco da água do Luso".
> "Não era ébrio nato mas abusava um pouco do álcool"
> "Fujo dos antibióticos por causa do estômago. Prefiro remédios  caseiros, a aguardente queimada faz-me muito bem".
> "Eu sou um fumador invertebrado".

> O aparelho digestivo origina sempre muitas queixas:
> "Fui operado ao panquecas".
> "Tive três úlceras: uma macho, uma fêmea e uma de gastrina".
> "Ando com o fígado elevado. Já o tive a 40, mas agora está mais baixo".
> "Eu era muito encharcado a essa coisa da azia".
> "Senhor Doutor a minha mulher tem umas almorródias que com a sua  licença nem dá um peido".
> "Tenho pedra na basílica".
> "O meu marido está internado porque sangra pela via da frente e pinga  pela via de trás".
> "Fizeram-me um exame que era uma televisão a trabalhar e eu a comer papa".
> "Fiz uma mamografia ao intestino".
> "O meu filho foi operado ao pence (apêndice) mas não lhe puseram os  trenos (drenos), encheu o pipo e teve que pôr o soma (sonda)".


> Os medicamentos e os seus efeitos prestam-se às maiores confusões:
> "Ando a tomar o EspermaCanulado"- Espasmo Canulase
> "Tenho cataratas na vista e ando a tomar o Simião" - Sermion
> "Andei a tomar umas injecções de Esferovite" - Parenterovit
> "Era um antibiótico perlim pim pim mas não me fez nada" - Piprilim
> "Agora estou melhor, tomo o Bate Certo" - Betaserc
> "Tomo o Sigerom e o Chico Bem" - Stugeron e Gincoben
> "Ando a tomar o Castro Leão" - Castilium
> "Tomei Sexovir" - Isovir
> "Tomo uma cábulas à noite".
> "Tomei uns comprimidos "jaunes", assim amarelados".
> "Tomo uns comprimidos a modos de umas aboborinhas".
> "Receitou-me uns comprimidos que me põem um pouco tonha".
> "Estava a ficar com os abéticos no sangue".
> "Diz lá no papel que o medicamento podia dar muitas complicações e alienações".
> "Quando acordo mais descaída tomo comprimidos de alta potência e fico
> logo melhor".
> "Ó Sra. Enfermeira, ele tem o cu como um véu. O líquido entra e nem actua".
> "Na minha opinião sinto-me com melhores sintomas".
 
> O que os doentes pensam do médico:
> "Também desculpe, aquela médica não tinha modinhos nenhuns".
> "Especialista, médico, mas entendido!".
> "Não sou muito afluente de vir aos médicos".
> "Quando eu estou mal, os senhores são Deus, mas se me vejo de saúde  acho-vos uns estapores".
> "Gosto do Senhor Doutor! Diz logo o que tem a dizer, não anda a  engasular ninguém".
> "Não há melhor doente que eu! Faço tudo o que me mandam, com aquela  coisa de não morrer".

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