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terça-feira, 20 de janeiro de 2009

O trabalho e o emprego

Se vivêssemos no melhor dos mundos, 2009 seria um ano tal como Sócrates o descreveu: os trabalhadores teriam mais dinheiro, porque a inflação é mais pequena. Mas o mundo real é um pouco diferente. Em quase todas as famílias há funcionários públicos com bons aumentos de 2,9%, empregados por conta de outrem sem aumentos significativos, mas também pequenos comerciantes aflitos, trabalhadores precários e desempregados sem esperança. Esta amálgama é terrivelmente depressiva e transversal em termos de estrato social e de graus académicos. Licenciaturas, mestrados e doutoramentos não significam hoje garantia de emprego. Do mesmo modo que incapacidade, inabilidade e preguiça não significam garantia de desemprego. Há quem pense que uma situação assim pode ser a pior para se falar das leis laborais, mas a verdade é que em Portugal (e de resto em boa parte da Europa) as leis existem não tanto para defender o emprego, mas sobretudo os postos de trabalho. Ou seja, os instalados. Na semana passada, Henrique Raposo referia nestas páginas o número de jovens altamente qualificados obrigados a emigrar ou a pedinchar um lugar mal pago num supermercado ou num call-center. E todos sabem que aceder ao mercado de trabalho em condições dignas é hoje quase impossível. Mudar esta forma de raciocinar, pensar que em matéria de emprego é igualmente necessário defender a qualidade, a excelência independentemente da idade, é um enorme desafio para as sociedades europeias. O pior, em épocas de crise, é ficar preso a conceitos antigos, para mais tarde constatar que nem esses conceitos foram preservados nem nada de benéfico foi construído.

Expresso

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