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sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Eu culpado me confesso.

Andando a arrumar papéis, descobri que há mais de 11 anos, em abril de 2002, tinha Durão Barroso acabado de tomar posse como primeiro-ministro, escrevi as seguintes linhas no Expresso:
"Infelizmente, os Executivos vitimizam-se. Escudam-se na ausência de alternativas e dão a entender que, se deles tudo dependesse (e tivesse dependido), nunca os sacrifícios seriam necessários. Ora, como o bom senso ensina, todas as vidas, incluindo a das sociedades, são feitas, também, de sacrifícios".
Em junho de 2008, mesmo antes de a crise internacional se revelar, defendi, pela primeira vez o 'Bloco Central', reagindo a várias vozes de comentadores que consideravam tal solução um perigo para as eleições que se avizinhavam em 2009:
"Além disso, eu que vivi os tempos do 'bloco central' como jornalista, irrita-me bastante a ideia de que esse Governo foi um desastre. Na verdade, Ernâni Lopes, o então ministro das Finanças, salvou o país da bancarrota; Mário Soares, então primeiro-ministro, levou-nos à integração europeia e Mota Pinto, então líder do PSD e vice-primeiro-ministro, aprofundou a exigência de reformas estruturais. Depois do fim do Conselho da Revolução e da revisão Constitucional feitos nos Governos da AD, o 'bloco central' deu passos decisivos para a normalidade democrática e económica do país".
Há mais de quatro anos, em maio de 2009, quando era óbvio que o PS ia perder a maioria absoluta defendi a necessidade de um Bloco Central. Escrevi então:
"O 'Bloco Central' era apenas uma coligação entre os dois maiores partidos do sistema político, o PS e o PSD.
E que resultado tiveram esses dois anos de 'Bloco Central'? A resposta, surpreendentemente, é que os resultados, vistos à distância da História, foram bons.
Em suma, a coligação PS/PSD, liderada por Mário Soares e pelo falecido Mota Pinto, salvou o país da bancarrota. Depois, contra a oposição, dúvidas e hesitações de muitos, conseguiu colocar o país na CEE, atual União Europeia".
Já em abril de 2011, perante a demissão de Sócrates insisti:
"A velha sabedoria está cheia de ensinamentos, não vale a pena substituí-la pelo patoá pós-moderno. Teria sido sinal de prudência não diabolizar o FMI, como fez Sócrates; ou não chumbar o PEC 4, como fez Passos Coelho. Teria sido uma manifestação de moderação negociar em vez de impor um PEC; ou fazer um acordo, com base num programa de salvação do país, em vez de eleições.
Era forte não fazer apenas discursos onde a culpa é dos outros; ou não pessoalizar a política. E era justo que os portugueses, por uma vez, soubessem com a verdade toda a real situação do país".
Escrevo isto apenas para dizer que, recebendo mails, comentários, cartas e várias outras invetivas a dizer que eu, no fundo, quero é defender o "Bloco Central", confesso que é essa a verdade. E que me deixa um pouco irritado atribuírem-me essas ideias aos acontecimentos recentes, deste ano, ou dos anos de crise. Podem ver que o defendo há muito tempo, desde a entrada no Euro, desde que se tornou claro que era necessária uma alteração substancial do nosso modo de agir e da forma de conduzir o país. Que era impertativo um novo acordo de regime, diferente do que saiu dos tempos revolucionários e da época em que tínhamos soberania monetária e cambial. A minha questão não é se tal é necessário (há muito que sei que é), mas quando entenderão os responsáveis políticos a sua necessidade absoluta.
Ontem soube-se que Sócrates, em determinado momento, após perder a maioria absoluta e depois de Passos Coelho ter sido eleito líder do PSD, o convidou para o Governo. Fez bem (e eu sou insuspeito de fazer elogios a Sócrates). Mas do mesmo modo que acho que ele andou bem nesse ponto, considero bastante reprovável a forma como se referiu e refere aos adversários nas suas intervenções públicas.
Todas as soluções partilhadas têm de começar pela civilidade com que se tratam os outros, os parceiros, os adversários. E esta crítica não é só para Sócrates, porque são raras as exceções que mostram essa civilidade. Todos têm de contribuir para cedências mútuas; todos têm de gerar confiança recíproca.
Juro-vos que me custa repetir isto à exaustão. Mas um dia, quando cada um ddaqueles que interfere na esfera pública perguntar a si mesmo o que fez para evitar uma catástrofe, quero ter a consciência tranquila e responder a mim mesmo que fiz o melhor que sabia, o melhor possível, muitas vezes sacrificando interesses e amizades por uma causa que me parece óbvia.
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