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terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Tunísia

As reações, em geral cautelosas, particularmente da comunidade internacional ocidental, face às mudanças em curso na Tunísia estão a ser interpretadas de forma negativa por certos setores com expressão mediática, nomeadamente aqui em França. Alguns comentadores interpretam as declarações de poderes políticos externos, que começam a exprimir alguma simpatia com a nova onda democrática tunisina, como um mero exercício de cinismo ou mesmo de hipocrisia, atentas as relações que a generalidade desses poderes mantinha com o regime deposto de Ben Ali. E, em especial, condenam a falta de uma aberta atitude de apoio, desde a primeira hora, àquilo que parece poder ser um novo tempo político no país, iniciado na rua e com expressão já nas instituições.

Acho que devemos ser prudentes e ter o sentido da medida das coisas. O regime deposto na Tunísia, cujo perfil político não oferecia dúvidas a ninguém, era o interlocutor reconhecido da comunidade internacional. Não eram desconhecidas as suas limitações em matéria de respeito pelos Direitos Humanos ou pelos princípios democráticos, mas era-lhe igualmente creditado um esforço de desenvolvimento económico e social, embora com um saldo seguramente distribuído de forma condenável. Mas a Tunísia não era - longe disso! - um "pária" no mundo internacional. Pelo contrário era, no seio do mundo árabe, um parceiro com o qual, por exemplo, a União Europeia mantinha um diálogo estruturado - o qual incluía, como é bom que se saiba, uma chamada regular de atenção para questões tão importantes como os presos políticos ou a liberdade de informação. Se os países democráticos, europeus ou não, só mantivessem relações com Estados que respeitam a pureza dos princípios democráticos e outras práticas que são caraterizadoras do Estado de direito, o seu universo diplomático seria muito reduzido. O diálogo com regimes "diferentes" constitui um elemento essencial do quadro diplomático internacional - e isso não é cinismo, é mero realismo, só condenado por quem nunca teve responsabilidades em matéria de relações externas.

Mas posso também perceber que alguma da hesitação da comunidade ocidental tenha, por detrás, uma outra preocupação: o receio de que um certo tipo de evolução política possa abrir a porta à emergência, em termos de influência ou poder, das forças integristas islâmicas, cuja progressão no seio da sociedade tunisina Ben Ali tinha combatido. É este, muito provavelmente, o dilema que atravessa alguns Estados amigos da Tunísia. Os quais, no entanto, estarão seguramente muito interessados em ver emergir, a partir do novo poder político em Tunis, uma sólida democracia, respeitadora dos grandes princípios que marcam a comunidade ocidental e geradora de um efeito benéfico extra-muros, induzindo o respeito pela vontade popular noutros países da região. Se possível, sem serem necessários os elevados custos humanos que a revolta do povo tunisino está a ter de suportar.

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