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sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Votações diplomáticas


A pretexto da despedida oficial de um amigo comum, tive a jantar na residência a nova directora-geral da UNESCO, a bulgara Irina Bukova.
Irina é uma amiga pessoal de há quase 15 anos. Foi secretária de Estado dos Assuntos Europeus e ministra dos Negócios Estrangeiros do seu país e era, até há pouco, embaixadora da Bulgária em França. Temo-nos encontrado frequentemente pelo mundo e, a título pessoal, fiquei muito satisfeito pelo facto dela ter ascendido ao posto mais elevado desta agência especializada da ONU.
Irina Bukova sabe e entende que Portugal não pôde votar na sua candidatura, por ter anteriores compromissos assumidos que relevavam de outros equilíbrios que não interessa aqui analisar, até porque se trata de temas fora da minha área de competência. E ela sabe, em especial, que Portugal é um país que honra sempre, com o maior rigor, os compromissos que assume no plano internacional - que um voto comprometido é, pela nossa parte, um voto garantido. Não são muitos os Estados que têm esta imagem na vida multilateral. Nós têmo-la, tal como temos a obrigação de mantê-la. Por isso, não obstante alguma polémica que envolveu, mesmo entre nós, o processo da eleição do novo director-geral da UNESCO, Portugal procedeu de forma perfeitamente consonante com os compromissos que, em tempo oportuno, havia assumido.
Na minha conversa com Irina Bukova, ao referirmos o facto de quase metade dos países membros da UNESCO não terem votado nela, recordei-lhe uma lição que recebi de Jaime Gama, no termo da nossa eleição, em 1996, para o Conselho de Segurança da ONU. Na altura, eu manifestava-me abertamente desagradado e disposto a tirar algumas consequências futuras do facto de alguns dos nossos aliados tradicionais nos terem abandonado, num momento em que necessitavamos deles, o que, contudo, não impediu a nossa vitória. Gama foi mais ponderado e recomendou-me que rectificasse a minha atitude: "Não se constrói uma política externa com base em ressentimentos". Tinha toda a razão.
Estou certo que a inteligência, simpatia e sentido de compromisso de Irina Bukova a farão caminhar no sentido da união de todos os países que compõem a UNESCO. E nós estaremos, ao seu lado, para a ajudar a dar vitalidade a uma organização a cuja actividade atribuímos a maior importância.

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