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segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Política externa

Ao longo da campanha eleitoral que há dias se concluiu, alguns comentadores estranharam o facto da política externa, tal como a política de defesa, não ter sido objecto de debates, embora constasse dos programas de todos os partidos.
Contrariamente a quantos entendem que as questões de ordem externa ganham em ser alimento para o confronto político-partidário, devo confessar que, como profissional da diplomacia, fiquei muito satisfeito em vê-las afastadas da polémica eleitoral. O que, no entanto, não exclui a necessidade de tais opções deverem ser regularmente abertas a uma reanálise serena e objectiva, na qual se insira a apresentação de propostas alternativas para a sua condução, à luz das mudanças que a conjuntura e a evolução dos nossos interesses justificarem.
Ao longo de mais de 35 anos de regime democrático, com excepções ligadas a certos momentos do período da consolidação do novo regime e, num tempo mais recente, a uma episódica leitura ultra-zelosa de alinhamentos tradicionais, a nossa política externa tem mantido uma constância e um perfil de grande continuidade e de elevado consenso interno, que se reflecte nos programas e práticas dos vários Governos. E permitam-me que diga que sei do que falo, porque, ao longo da minha carreira, servi já sob a orientação de 19 ministros dos Negócios Estrangeiros...
Foi esse percurso de crescente solidez de actuação que nos permitiu garantir a imagem de coerência e previsibilidade que hoje marca a nossa política externa e que conduz, com segurança, o exercício da nossa diplomacia. Por essa razão, felicito-me pelo facto do calor das discussões eleitorais nos ter poupado.

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