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domingo, 12 de julho de 2009

Terrorista


 
A história foi-me contada ontem em Paris, no intervalo de uma função oficial.
Estava-se nos anos 60 ou 70. Três "terroristas" tinham sido presos, no Norte de Angola, e mantinham-se alinhados, na parada de uma unidade militar portuguesa. Eram homens que combatiam pela independência da sua terra, contra o "nosso ultramar". O exército tinha-os neutralizado e aguardavam transporte para Luanda.
Num determinado instante, um dos "turras" (era assim que os "terroristas" independentistas eram chamados nesses tempos) deu um salto em frente e voou para apanhar um papel que o vento havia feito deslocar na parada do quartel. A rapidez do seu movimento corporal apanhou de surpresa os militares à guarda de quem estavam, que puxaram logo de arma, numa reacção que, por pouco, não foi violenta. Mas o "turra" rapidamente regressou à formação alinhada com os seus camaradas, recolhendo logo o papel no bolso.
Os militares portugueses não "brincavam em serviço" e, de imediato, exigiram a entrega do papel. Quem sabe, podia tratar-se de um documento estratégico, a revelação de planos militares. Se o "turra" tinha corrido o risco de avançar para agarrar o papel, numa ousadia que podia ter-lhe custado a vida, alguma valia ele teria. O detido ainda hesitou mas, face ao óbvio imperativo, acabou por entregar o papel.
O resultado foi mais simples do que se esperava: tratava-se de uma página do jornal "A Bola", esse federador "avant la lettre" do grande e imparável mundo que é a lusofonia desportiva.

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